quarta-feira, 2 de maio de 2012

TENHO QUE INICIAR O DIA FALANDO SOBRE O SORRISO MAGNO DA LEILA DINIZ...



“O quê que uns olhos têm, que outros não têm? 
O quê que um sorriso tem, que outros não têm?
 Eu sei que gamei pela Maria Alice, na hora..” 


Na noite de ontem, vi “Todas as Mulheres do Mundo” (1966), finalmente! Por mais que eu tenha visto diversos filmes do Domingos Oliveira e me encantado quase sempre com seus experimentos autorais prenhes de paixão e com sua adesão nostálgica sempre muito cativante, nada se compara ao que ele empreende neste filme sublime. Ele próprio, o diretor, não gosta de ser eternamente lembrado por este filme, mas... Não tem como: é genialidade demais para um cara com pouco mais de 30 anos que insistia em broxar com suas quatro namoradas. E que se deixou divorciar desta diva que é a Leila Diniz!

Na trama, Paulo José relata a Flávio Migliaccio os passos de seu relacionamento com a protagonista, uma linda rapariga de nome Maria Alice que, quando ele a conheceu, estava noiva de outro homem. Ela trabalha como professora primária (que nem a atriz, quando se formou no magistério) e se encanta plenamente por ela – como qualquer um de nós, na platéia – perseguindo-a sem trégua, até conseguir viver com ela, contemplá-la nua enquanto compõe poemas para sua beleza... Amá-la e, como doce prenda para tal dom, “desistir de todas as outras mulheres do mundo”. Nunca torci tanto por um mulherengo convicto quanto o fiz assistindo a este filme precioso!

 Permitam-me, inclusive, descrever apenas uma cena genial, sem precedentes: em dado momento de sua vida a dois, Paulo convida Maria Alice para ir a uma boate com ele. Ele queria dançar, rever velhos amigos. Ela estava sonolenta, mas, afinal, aceita. Lá chegando, ela dança bastante e reencontra um velho amigo, o que deixa Paulo enciumado. Ele exige que ela volte para casa com ele. Ela diz que não. Ele ergue o braço, como se fosse agredi-la, a câmera paralisa seu punho em riste por alguns segundos e, quando o movimento regressa, ele fala, sem pensar muito: “Par!”. Ela responde: “ímpar!”. Ele, depois que ambos estendem as mãos, com dedos indicando números: “ganhei!”. Ela, em retorno, com um sorriso sincero no rosto: “então, eu vou. Jogo é jogo!”. Tem como não se apaixonar por pessoas como estas?

Estou me controlando para não revelar mais detalhes do filme. Não devo fazer isso: não posso contar muito coisa, visto que este é um filme que se sente, que se experimenta, deve ser descoberto individualmente! Quantos cineastas – não atrelados ao Cinema Novo, pelo menos – puderam se dar ao luxo de, numa conversa praiana, fazer com que uma personagem responda quando uma amiga comenta que está namorando um policial: “mas isso é uma alienação!”. Sorri bastante vendo o filme, e me emocionei deveras. Aquilo é pura ‘nouvelle vague’ no Brasil, com toda a profusão individual emotiva que incomodava Glauber Rocha como não sendo condizente com os problemas do Terceiro Mundo. Mas é lindo, é belo, é conscientizado, sim, senhor! Recomendo este filme com a vida, com toda a paixão interrompida em 14 de junho de 1972, quando, aos 27 anos de idade, Leila Diniz escrevia em seu diário íntimo que havia algo de errado no avião em que estava. De fato, ela morreu num acidente envolvendo o mesmo, mas jamais foi esquecida. Eu casaria com ela, no ato! E não desistiria de ninguém com isso: como o título bem sintetiza, ela é todas as mulheres do mundo!


Wesley PC>

Um comentário:

Jadson Teles disse...

Caramba porque teve que levar tanto tempo para nos entramos em contato com essa pérola heim?! filmaço!