quarta-feira, 16 de maio de 2012

POIS CINEMA É TAMBÉM SOM, CONFIRMA A VIDA (E VICE-VERSA)!

Depois de um justificado hiato cibernético, venho a público declarar o meu amor pelo documentarista britânico Basil Wright, apadrinhado pelo veterano John Grierson, que, em 1934, realizou uma jóia antropológica chamada “Canção de Ceilão”. A cópia de que dispus estava muito ruim e não apreendi adequadamente o que foi narrado no  filme, mas me encantei pelos segmentos de dança, pela virulência crítica do cineasta, que inicia o seu registro de forma tendenciosamente naturalista (num segmento chamado “O Buda”), avança conscienciosamente pelo documento geográfico expandido (no segmento “As Ilhas Virgens”), surpreende o espectador com a polifonia colonizadora em “As Vozes do Comércio” e restitui a dignidade cíclica de práticas sociais tendentes à derruição pelo capitalismo em “Adorno para um Deus”.

A intenção predominante é mostrar as tradições exóticas de uma comunidade isolada a platéias longínquas, mas o diretor não se prende a isso: ele enfia o dedo nos tímpanos do financiamento fílmico e usa o som como ferramenta discursiva. Tenho que rever este filme o quanto antes, pois tenho certeza de que ele tem muito mais a me dizer do que eu pude perceber neste primeiro contato apaixonado! Oportunamente, “Canção de Ceilão” é um filme que apaziguou o estado afobado de espírito que ameaçava emergir na tarde de segunda-feira, quando me deixei contaminar por postagens assemelhadas a chantagens emocionais: assistir a esta obra de arte equivaleu à resolução do problema então indicado. Cinema é também som, confirma a vida (e vice-versa)!

Quando eu saí do quarto, afoito para escrever algo relacionado à poderosa experiência sensorial em que estive imerso, minha mãe me interpelou para perguntar se eu já havia assistido a um vídeo em que o ator televisivo Sérgio Hondjakoff supostamente havia sido flagrado se masturbando diante da câmera de seu computador. Nem sabia desta nova pseudopolêmica, mas, ainda assim, fiquei curioso e não sosseguei enquanto tive acesso ao tal vídeo. Após assistí-lo, pensei comigo mesmo: por que as pessoas perdem tanto tempo com isso?! Um vídeo banal, corriqueiro, mal-feito, encoberto pelo fetiche de que quem o protagoniza é alguém “famoso”. Sinceramente, isso não me comoveu: estava excitado demais com o que havia visto e ouvido no filme anterior. Basil Wright é um dos nomes que devem ser anotados com cautela em meu caderninho de pesquisas. Afinal de contas, o dito “cinema antropológico” ainda é muito subestimado pelos cinéfilos. Na atual fase de encantamento idílico em que me encontro, “Canção de Ceilão” foi um verdadeiro bálsamo, justamente por não se render ao deslumbramento acrítico. Recomendo-o com paixão!

Wesley PC>

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