sexta-feira, 18 de maio de 2012

PRIMEIRAS IMPRESSÕES ESPECTATORIAIS SOBRE AQUILO QUE COSTUMAM CHAMAR DE GÊNESE DO ‘FREE CINEMA’...

Ou: que bom que eu finalmente conheci o John Grierson! 

Na noite de ontem, assisti ao seminal documentário “Drifters” (1929), do documentarista John Grierson, responsável pela consolidação de uma escola pungentemente realista no cinema britânico. O título do filme, entretanto, já evidencia que ele não se submeterá a uma mera “observação da realidade”, como definiriam alguns classificadores imediatistas. John Grierson estabelece um ponto de vista sobre o que vê, o compartilha conosco e nos convida à crítica dialogística.

 Oficialmente, a “trama” do filme está focada na viagem de alguns pescadores de arenque do Mar do Norte, que, apesar de viverem num lugarejo com estrutura medieval, submetem-se a uma “épica jornada de vapor e aço”, em que as conseqüências da Segunda Revolução Industrial interferem diretamente em seus métodos de trabalho. Num filme pusilanimemente convencional, veríamos apenas a pesca. No filme griersoniano, há um arremedo de ficção emergindo na montagem, sempre que podemos comungar do contracampo correspondente ao que o piloto de uma embarcação vê quando anuncia uma tempestade vindoura ou quando soubemos que tubarões cerceiam os cardumes desejados pelos pescadores “à deriva” do título. E não é só: para além, muito além, de sua questionada objetividade, o filme enfia o dedo na ferida daqueles que aceitam acriticamente as mazelas disfarçadas no elogio aos métodos empregatícios que empregam adequadamente novas tecnologias. Para mim, que sou vegetariano, aquelas toneladas de peixes mortos que são levados dos “mais distantes mares aos confins da terra” não me parecem positivamente valorativas. Elas estão muito mais voltadas para o interesse comercial do que destinadas à saciação da fome alheia. E o filme não apenas sabe disso como demonstra isso. Mas existe quem não queira ver. E, mesmo assim, o filme funciona muito bem: ele é genial sob qualquer prisma avaliativo. Não é preciso muito para ser tornar fã do John Grierson!

Aproveitei a deixe e assisti a outros filmes produzidos por este diretor (inclusive, um ensaio de obra-prima dirigido pelo brasileiro Alberto Cavalcanti), mas a emoção atrelada a esta tão aguardada sessão de “Drifters” permanece soberana: quanta beleza, quanta tristeza, quanta capacidade adaptativa, quanta consciência histórica, quanta genialidade!

Wesley PC>

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