domingo, 20 de maio de 2012

SEXO É UTILIZADO PARA VENDER QUASE TUDO. INCLUSIVE SEXO! (SEM ASPAS)

Acabei de assistir a um filme do Tinto Brass que me decepcionou deveras. Um filme anterior à sua consolidação como mestre contemporâneo do barroco erótico. No filme – chamado no Brasil “A Atração do Sexo” (1968) – ele é claramente influenciado por Jean-Luc Godard, ousando até mesmo citar literalmente “A Chinesa” (1967). Porém, o que era genialidade no filme godardiano dilui-se no filme brassiano: as exortações sexuais não convencem, não obstante o prólogo interessante, em que uma voz nos pergunta: e sobre os filmes? E sobre as coisas desagradáveis?”. É um filme que quer nos dizer algo, e efetivamente diz, mas peca por falar demais!

A estética do filme assemelha-se hoje ao que seria um videoclipe de ‘rock’ utilizado para vender sabão em pó: montagem muito rápida, imagens sexuais em profusão, trilha sonora onipresente, mulheres bonitas correndo nuas... Porém, todo o conhecimento teórico de causa sobre os manifestos debordianos, por exemplo, cede espaço a um amontoado de imagens e sons mais espetaculosos do que necessariamente críticos. E, nesse sentido, o filme naufraga solenemente. Nem a aparição benfazeja do próprio Tinto Brass como um ginecologista redime o filme do fracasso discursivo!

Duas seqüências destacam-se positivamente, mesmo assim: numa delas, excessivamente óbvia, um padre surge com um cartaz nas mãos, contendo a palavra “proibido”. Ele olha para a câmera e diz: “fazer amor não é perigoso, mas é proibido. Mostrarei agora, portanto, imagens de guerra, que são perigosas, mas não são proibidas”. E as imagens de guerra surgem: bombardeios, campos de concentração, cadáveres amontoados, feiúra, tudo muito desgastado pela mídia. Na outra seqüência, imagens microscópicas servem como fundo para uma narração: “foi demonstrado cientificamente que o sexo é uma atividade fisiológica como qualquer outra, tal como escarrar, cuspir, vomitar, fazer ginástica, tossir”... E eu almoçava enquanto via o filme.

Isso sem mencionar a não cumprida promessa de sexo interracial contida no título original do filme (“Nerosubianco”): não obstante suas constantes crises matrimoniais e seus declarados anseios pro liberdade, a protagonista do filme hesita em se entregar ao homem negro que a segue pelas ruas. Abraça-o numa cena final, mas foge dele antes de consumar o ato erótico. Definitivamente, um contra-exemplo brassiano, muito diferente das obras de arte que ele realizaria principalmente na década de 1990. Mas, ainda assim, é um filme inusitado. Tomara que seja mais visto... e discutido!

 Wesley PC> 

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