quarta-feira, 27 de junho de 2012

COSTUMO DIZER, PARA CIMA E PARA BAIXO, QUE ADMIRO A PROSTITUIÇÃO. MAS, NA PRÁTICA, A COISA É DIFERENTE!

Recentemente, estive conversando com um amigo que, chateado depois que sua namorada evangélica disse que não mais confiava nele por ser incapaz de manter uma promessa de exclusividade erótica, transou com uma garota de programa. Pagou R$ 150,00 pela foda, mas não sei se ele a beijou na boca ou se a chamou pelo nome. Na prática, a prostituição não é glamorosa quanto a minha imaginação carente deixa entrever...

Na manhã de hoje, depois de ter impulsionado o amigo em pauta a telefonar para a ex-namorada evangélica, pedindo perdão, resolvi assistir a um filme tcheco sobre prostituição masculina adolescente, chamando “Mandrágora” (1997, de Wiktor Grodecki). A princípio, achei que o filme fosse mais uma desgastada variação realista do tipo de filme comumente lançado no leste europeu sobre os problemas da vida urbana sob o capitalismo. Aos poucos, entretanto, o roteiro sem concessões e a direção firme conquistaram não apenas a minha atenção elogiosa como também a minha adesão dramática em primeira pessoa: na prática, definitivamente, a prostituição não é glamorosa! 

Na cena do filme que mais me impressionou, o protagonista do filme, com mais ou menos dezesseis anos de idade, é oferecido a um cliente rico e erudito. Logo que adentra na sala de estar do cliente, o prostituto é interrogado se sabe quem é Caravaggio. Ele responde que não, e seu cliente louva a sua inocente ignorância, pedindo que o mesmo se dispa. Ao fazê-lo, ouve um estranho elogio: “as obras de arte mais sofisticadas são apenas pálidas tentativas de imitar a sua beleza. Tu deves agradecer ao teu criador por isso”. O garoto não entende, mas obedece às ordens de seu contratador, que pede que ele pose sobre um pedestal giratório, tal qual fizeram os seus ancestrais há quatrocentos anos. Depois que se masturba, entretanto, o contratador do adolescente percebe um detalhe incômodo: “seus testículos são grandes demais para uma obra de arte clássica!”. Não vemos o que acontece em seguida, mas sabemos que foi algo bastante traumático e violento.

À medida que o filme avançava, outras cenas destituídas de glamour erotógeno me impressionavam: num encontro com garotas que também se prostituem, dois amigos descobrem que as moças cobram mais caro para transar sem camisinha, mas não se opõem a esta prática, caso algum cliente assim prefira. Eles perguntam-lhes: “e vocês não têm medo de pegar AIDS?”. Elas: “mais cedo ou mais tarde, em nossa profissão, todos nós seremos contaminados”; noutro momento, famintos e desesperados, os dois prostitutos juvenis protagonistas pedem emprego na casa de um cafetão que realiza filmes pornôs homossexuais diante da esposa e dos filhos pequenos. Não param de chegar adolescentes na residência do pornógrafo, e este os interroga: “vocês são passivos?”. Eles: “gostamos de garotas, mas, pelo dinheiro...”. Ele: “vocês topam ser penetrados?”. Um deles: “Sim, desde que o pau não seja muito grande”. E eu confesso: não foi muito confortador ouvir este diálogo no ano em que pretendo perder a minha virgindade anal, que, a cada dia que passa, torna-se cada vez mais um tabu difícil de ser enfrentado. Nada que o amor não resolva, talvez, mas amor é justamente o que faltava no contexto depauperado em que os personagens do filme se locomoviam...

Numa cena próxima ao final, o pai do personagem principal urina ao lado da cabine de banheiro em que ele se droga e, alucinado, corta-se de maneira fatal com um estilete. Percebi que, estilisticamente, o filme tinha muito a ver tanto com o Rainer Werner Fassbinder de “O Direito do Mais Forte” (1974) quanto com o Eloy de la Iglesia de “Navajeros” (1980), sem contar um hálito pasoliniano onipresente, em especial advindo do subestimado “Mamma Roma” (1962). Definitivamente, o diretor, roteirista e montador Wiktor Grodecki é um nome que merece atenção. Quanto a mim, minha virgindade anal e o fantasiado glamour prostituído? Digamos que precisamos todos de amor!

Wesley PC>

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

O problema da prostituição é que eles e elas não podem escolher os clientes.Sem contar que: Sexo sem compromisso e sentimento gera carma.