sábado, 9 de junho de 2012

E, QUANDO EU PENSO QUE JÁ VI DE TUDO, ESSE TAL REALISMO HODIERNO ME PREGA UMA SURPRESA!

Até dia desses, nunca havia ouvido sequer falar do diretor italiano Pappi Corsicato. Sua filmografia é bastante discreta, mas, ainda assim, uns e outros insistem em tachá-lo de almodovariano. O fotograma acima revela muitas conexões com filmes como “De Salto Alto” (1993) ou mesmo “Tudo Sobre Minha Mãe” (1999), mas, em minha opinião, “I Buchi Neri” (1995), filme dele que descobri por acaso, parece mesmo é com as obras da década de 1990 realizadas pelo irregular Gregg Araki. Terminei me surpreendendo e gostando bem mais que o (in)esperado!

Na primeira cena do filme, um estranho plano espacial, ao som de um ‘rock’ romântico cede espaço à focalização de uma latrina, onde dois jovens com calças arriadas urinavam. Um deles está se casando com uma mulher sem olhos. O outro recita os versos iniciais de “O Estrangeiro”, obra-prima literária de Albert Camus, e parte para um lugar praiano, a fim de enterrar a mãe, com a qual parece não ter muito vínculo afetivo. No caminho, depara-se com uma mulher sendo fotografada por um homem gordo. Arria as calças ali mesmo e se masturba. Mais tarde de apaixona por ela, que é prostituta e tem medo de galinhas. Vivem juntos por algum tempo e, noutra conexão enredística com “O Estrangeiro”, assassina um meliante praiano com um facão. Foge. A prostituta sente sua falta e, desmaiada, escuta seu nome ser chamado por um gigantesco ovo voador, que lhe afirma que a galinha que ela encontrará a seguir é um anjo. Talvez este tenha sido um final feliz...

Apesar de eu ter sintetizado quase toda a trama do filme, há muito a ser visto em “I Buchi Neri”. Por isso, achei muito injusto que este filme não seja conhecido: é tão inusitado, tão bem dirigido, tão bem interpretado, por que não obteve nem que seja um sucesso restrito a festivais ‘underground’? Gostei muito do filme. Recomendo!

Wesley PC> 

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