terça-feira, 5 de junho de 2012

“MAIS VALE UMA BICHA NA MÃO DO QUE TRÊS HOMENS VOANDO” OU “NÓS TAMBÉM TEMOS O DIREITO DE VIVER”!

Quando eu vi o cartaz de “Manicures a Domicílio” (1978), intuí logo que seria uma pornochanchada entojante e machista. O crédito do canastrão Carlo Mossy como diretor confirmava o meu preconceito, mas, para meu escândalo, o filme se mostrou espantosamente subversivo em diversas seqüências. Logo no início, por exemplo, a aparição do próprio diretor, interpretando ele mesmo e se dirigindo à platéia como “meu querido público pornochanchadeiro” demonstrou que havia algo de muito relevante para ser visto ali. Por mais que as enésimas tentativas de suicídio do afetado cabeleireiro Aurora Boreal (Carlos Leite) tivessem um mínimo de incremento humorístico (admitamos: tentar se matar através de sufocação por perfumes da Avon é algo hilário enquanto sintoma de época), o diretor serve-se dele apenas para desfilar aquilo que as pornochanchadas têm de mais recorrentes: peitos e bundas de mulher em contextos absolutamente demeritórios para as suas portadoras. Mas, ainda assim, insisto: o filme tem algo de subversivo que o redime.

No que se pode chamar de trama no péssimo roteiro deste filme, o tal cabeleireiro é assediado por três mulheres belíssimas, ao longo dos 90 minutos de projeção: a primeira delas, a mulata Conceição (a deslumbrante Adele Fátima), envolve-se com um mafioso italiano que possui uma rede de supermercados e capangas que fazem sexo com sua velha e maltratada esposa; a segunda delas, uma morena chamada Glorinha (Marineide Vidal) seduz um gerente de banco que também é síndico do prédio em que mora e possui um pôster enorme do filme “O Anjo Nasceu” (1969, de Júlio Bressane) em sua residência; e a terceira delas, a loira Madalena (Marta Moyano) persegue um autoritário senhor, que possui um militar nazista como vigilante. São pretextos ridículos para cenas pretensamente sensuais em que jovens gostosas entregam-se sexualmente a homens idosos e antipáticos, antes de as três se juntarem para estuprar Aurora Boreal, que, afinal, acaba preso por tacar fogo em sua casa. O interessante é que, antes de descobrirmos que ele está na prisão, acompanhamos ele dançando empolgadamente “Eleanor Rigby”, de The Beatles, na abertura de seu salão de beleza. Sua mãe (Henriqueta Brieba) é enviada para um asilo depois que ele é preso, mas, ao contrário do que se imagina, ela se diverte bastante por lá, chacoalhando o corpo esquálido numa boate improvisada, ao som de um dos dois geniais lemas do filme: “nós também temos o direito de viver”. O outro lema é “mais vale uma bicha na mão do que três homens voando”, proferido quando Glorinha conversa com uma cliente que reclama da impotência sexual de seu marido. Diz ele: “se nós gostássemos de homens que só fazem vento, casaríamos com um ventilador”. E eu confesso: apesar de idiota e chauvinista, eu sorri amarelo nesta seqüência. Existe algo de muito interessante ensejado neste filme!

Ainda que, afinal de contas, os resultados de “Manicures a Domicílio” tenham sido tão desagradáveis quanto eu imaginei, é uma pornochanchada com aspectos bastante contrastantes em relação aos chavões do gênero. Por pior que seja, o roteiro não fica confinado aos clichês de corno que Cláudio MacDowell tanto satirizou, criticou e, afinal, legitimou, às expensas, inclusive, do próprio Carlo Mossy como ator. Para além de todos os seus defeitos, é um filme que vale muito a pena. Analiticamente, eu recomendo bastante. Vale um gracejo incontido!

 Wesley PC>

2 comentários:

Nick disse...

Pornochanchadas do Canal Brasil, salvando muitas punhetas desde...

Acessório disse...

Não apenas isso...
Salvando MENTES! Acima de tudo, mentes!
Meu tema de Mestrado saiu daí...

WPC>