sexta-feira, 8 de junho de 2012

O SONO QUEDARÁ (IN)TRANQÜILO DEPOIS DISSO...


“A Caverna dos Sonhos Esquecidos” (2010), do Werner Herzog, tirou meu sono! Trata-se de um documentário impressionante, sobre uma descoberta arqueológica recente, a Caverna de Chauvet, que se tornou famosa em 1994 quando espeleólogos descobriram lá aqueles que, até então, são os vestígios mais antigos da existência humana no planeta. Tratam-se de desenhos pintados há mais de trinta mil anos em que, além de leões pré-históricos, mulheres nuas em conjunção com bovinos extintos e cavalos que parecem estar em movimento, deparamo-nos com palmas de mãos repetidas em vários trechos da caverna. E foi isto o que mais me impressionou: uma mão humana, com um dedo mindinho torto, ciente de que está no mundo e que, por algum motivo, deve comunicar a outrem esta proeza. Tanto o fez que, muito bem-feito, me deixou impressionado: não consegui dormir direito depois desse filme!

 Comentei noutro canto que, por mais que eu esperasse que ele fosse um ótimo filme – dado o currículo impressionante de seu diretor, recém-elogiado aqui, numa ocasião recente e também inusitada – não imaginava o quão impressionado eu ficaria após a sessão. Juro: eu tremia de emoção diante do que vi! Imagino se tivesse consumido esta obra de arte em 3D, como ele foi planejado, conferindo a esta ferramenta fetichista o uso que ela merece: teria sonhos hipnotizantes por meses a fio! Se um dia me derem a oportunidade de viajar para o lugar do mundo que eu quiser, a Caverna de Chauvet tornou-se um destino ansiado. Se bem que, como o diretor explicou em sua pungente narração, as visitas de turistas podem prejudicar a beleza frágil do lugar, visto que até mesmo o mofo oriundo da respiração dos indivíduos macula os painéis rupestres ali condicionados. Mas, Deus do céu, que sonho!

 Tenho ciência de que esta apreciação escrita sobre a minha experiência está marcada pelo deslumbramento senso-comunal, mas nem me defenderei com muito esmero: o fascínio que o filme provoca transcende estes detalhes: se, por um lado, eu ficava me questionando o tempo inteiro acerca o viés aburguesado do tipo de financiamento monetário para o caríssimo e delicado tipo de pesquisa mostrado no filme, por outro, eu não conseguia conter o meu espanto diante de cada imagem deslindada em vários tons de sombra pela genialidade analítica do diretor, que, afinal, encerra seu filme com um surpreendente e desolador questionamento acerca da criação de crocodilos mutantes numa região nuclear localizada próxima á tal caverna. É algo de deixar qualquer ser humano de cabelo em pé! Peço perdão pela pobreza de meu comentário, mas “A Caverna dos Sonhos Esquecidos” não deve ser apenas descrito: ele deve ser visto, sentido, ouvido o quanto antes! Tão silenciosa e respeitosamente como qualquer um que tenha pisado na tal caverna...

 Wesley PC>

Nenhum comentário: