sexta-feira, 22 de junho de 2012

PODE ME CHAMAR DE MARCELO, QUE EU GOZO E SOFRO!

Walter Hugo Khouri viveu e morreu no Brasil. E foi um daqueles homens que conseguiram alcançar a proeza da imortalidade: a cada filme dirigido por ele a que assisto, sinto-o ao meu lado, confessando-se sob o nome de Marcelo. Na tarde de ontem, foi a vez de “O Prisioneiro do Sexo” (1979), filme que sequer conhecia – e que, de fato, é um filme menor – mas que cativa, encanta, escandaliza e destroça-nos emocionalmente desde a primeira imagem, o bumbum feminino que é fotografado por detrás dos créditos de abertura. Em seguida, uma epígrafe kafkaniana incisiva: “uma gaiola procura o seu pássaro”. E sim, a resposta que eu grito é SIM!

 No filme, Roberto Maya interpreta um publicitário bem-sucedido e casado com a deslumbrante Sandra Bréa. Um dia, ele a convence a aceitar outra mulher em casa. Interpretada pela tímida Maria Rosa, esta nova mulher não apaziguará a fúria sexual (disfarçada ou convertida em impotência vitalícia) do protagonista, que se envolve com sua secretária, com uma empregada da fazenda, com uma amiga estrangeira de sua esposa e, afinal, demonstra estar perdidamente apaixonado por sua filha Berenice, “cujo nome foi extraído de uma poesia de Edgar Allan Poe”. É um filme repleto de cenas de cópula, mas, para cada foda, ouve-se algum personagem se lamentar: “e agora, Marcelo?”. Numa dada seqüência, por exemplo, ele e suas mulheres comemoram o seu aniversário de 46 anos de idade, e, quando alguém pergunta como é envelhecer, ele apenas assevera: “a mesma coisa de sempre, um vazio sem fim!”. Walter Hugo Khouri é dos meus!

Durante a audiência a este filme, eu cochilei. Amedrontado com o que estava por vir, talvez. Na noite desse mesmo dia, eu comemoraria o aniversário de uma das pessoas que mais amo no mundo, uma mulher linda que, nalgum momento, talvez se sentisse tentada a mencionar o vazio que o Marcelo do filme temia e buscava tanto. Para meu consolo e encanto (visto que, na manhã de ontem, enfrentara uma violenta discussão com meu orientador), a festa me fez sorrir e dançar e compreender que nem tudo é como a gente quer, mas sim como a gente precisa. E eu fui feliz ali. E, tal qual a esposa do Marcelo reclama antes de dormir: “hoje eu estou feliz. Talvez amanhã eu não esteja. Há sempre um dia após o outro. E, hoje, eu estou feliz!”. Ponto.

Wesley PC>

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