segunda-feira, 2 de julho de 2012

COSTUMO ME INTERESSAR POR RAPAZES MAIS JOVENS QUE EU, MAS, SE EU ME DEPARASSE COM ESTE VELHINHO DE 103 ANOS NO MAR MORTO, EU ME ATIRAVA DIANTE DELE, NUZINHO, SEM PESTANEJAR (OU DE QUANDO É NECESSÁRIO MUDAR DE IDÉIA)!

Conforme dá para perceber no título desta postagem, ainda insisto em utilizar acentuações que ficaram defasadas com a reforma ortográfica brasileira atualmente em vigor. Por mais romantizada que seja a minha insistência em apegar-me à grafia antiga das idéias, terei que desvencilhar-me deste gesto ortográfico em breve, sob pena de ser ainda mais vilipendiado pela Academia do que estou sendo nos últimos meses. Na manhã de hoje, li uma passagem literária ambígua que talvez me ajude a enfrentar tal dilema forçoso em seu aspecto de desistência: “pois bem, estou farto das pessoas que morrem por uma idéia. Não acredito em heroísmo. Sei que é fácil e aprendi que é criminoso. O que me interessa é que se viva e se morra pelo que se ama”.

 Quem profere a reclamação acima é um jornalista, no romance “A Peste” (1947), de Albert Camus. O que me deixou mais intrigado acerca do excerto é que não consigo diferenciar o que eu amo das idéias que eu apregôo. Idéias e amores empatam, em minha apreciação apaixonada. Mas chega o momento em que morrer por elas talvez não seja o mais digno ou efetivo, mas sim sobreviver por elas. E é o que tentarei fazer daqui por diante: cederei á grafia de “idéia” sem acento, conforme será percebido daqui por diante. Adaptarei as minhas ideias aos novos tempos, a fim de que as mesmas perdurem em sua teimosia adaptável mas não entreguista. Do mesmo modo que, de fato, se eu encontrasse o Manoel de Oliveira diante de mim, com certeza quereria beijá-lo: ele é um dos velhinhos mais belos que já vi!

 Enquanto escrevo estas linhas fúteis – mas não desprovidas de sentido – experimento uma forte sensação de desgosto aqui na sala de pesquisa em que me encontro. Não me sinto compreendido pelo orientador de Mestrado que me imputaram a fórceps e não preciso mais gastar tanto tempo a baixar filmes que se acumularão em minhas gavetas sem que eu tenha tempo para assisti-los. O melhor agora é viver, com as armas de que disponho, com os acentos que possuo, com as ideias de amor que me fazem respirar a cada segundo. Oferecer-me à zombaria alheia por causa de um tempo que não sinto que perdi, ah, meu bem, não mais consentirei: assim que eu terminar de converter “Non, ou a Vã Glória de Mandar” (1990), obra-prima do Manoel de Oliveira, para um arquivo em .avi, vou para casa, sem pestanejar. Tenho muito mais o que fazer entre aqueles que me amam e respeitam as minhas “idéias”!

 Wesley PC>

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