sábado, 14 de julho de 2012

DA NECESSIDADE (IMAGINÁRIA) DE SE DESGOSTAR DE ALGO...

O sentimento espectatorial dominante ao fim de qualquer sessão de “AIDS, Furor do Sexo Explícito” (1985, de Fauzi Mansur) é, sem dúvida, a perplexidade. Ao final da projeção, eu não sabia se gargalhava, se me assombrava, se elogiava ou se estraçalhava verbalmente o filme. Se me perguntarem agora, direi que o achei absolutamente genial! Toda a minha vida (paravirginal) passou diante dos meus olhos...

A trama do filme é infinitamente tosca: numa bacanal à beira da piscina, um travesti cai na água e, quando é retirado, quase inconsciente, descobre-se que ele está com AIDS. No momento seguinte, o protagonista milionário descobre que está atingido pela mesma síndrome e telefona para uma misteriosa organização que investiga transmissores do vírus. Ao som da trilha sonora que Vangelis compôs para “Blade Runner, o Caçador de Andróides” (1982, de Ridley Scott), o tal investigador adentra a ilha particular do milionário e o obriga a confessar com quem fizera sexo nos últimos seis meses. Reúne as quatro mulheres mencionadas e cada uma delas é torturada para revelar os seus parceiros, numa tessitura pornográfica de ‘flashbacks’ que desencadeia na conclusão obvia de que o milionário trepava com a sua empregada hermafrodita contaminada. “Isso é um plágio: a culpa é sempre do mordomo!”, reclama, indignado, o investigador, ao final do filme. E eu e meus amigos sem acreditar no que vimos: absolutamente genial, ouso dizer!

 Para além de suas intenções comerciais eroticamente inversas ao intento profilático do título (vide a foto abaixo), “AIDS, Furor do Sexo Explícito” contém algumas das cenas mais inusitadas do cinema brasileiro. A simulação de sexo oral com uma caveira animalesca (antecipada imageticamente nessa postagem), utilizada como forma de tortura pelo investigador para que uma das amantes do protagonista revelasse que fizera sexo com mais pessoas do que dissera num primeiro encontro, é absurdamente inacreditável: o homem contratado para ser felacionado pelo crânio chega a sangrar, de tanto que sue pênis foi machucado pela estrutura óssea. Uau!

À medida que o filme avançava – e nós gargalhávamos – não sabia se me escandalizava mais com o nonsense escroto da trama ou com as aberrações deseducativas da mesma, principalmente no que tange às generalizações contra o comportamento homossexual. E o final, quando sarcomas de Kaposi passam a abundar, de uma hora para a outra, na pele do milionário? Eu definitivamente preciso rever este filme, estudá-lo a fundo. Mas, desgostar que é bom, nada! (risos)

 Observação: vale acrescentar que possuir um parente atingido pela síndrome faz com que a recepção deste filme seja-me muito mais centrípeta do que para outras pessoas. E este medo de prolongar por tanto tempo a minha virgindade penetrativa, paralelo ao temor de incorrer na promiscuidade? Não deu outra: este filme é um dos meus favoritos!

Wesley PC>

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