quinta-feira, 19 de julho de 2012

DE UM LADO, A AMEAÇA ESPÚRIA DA PERDA DE UM AMOR; DO OUTRO, A CERTEZA INAUDITA DE QUE ESTE AMOR SEMPRE ESTARÁ LÁ!

De um lado, o filme francês contemporâneo “Adeus, Primeiro Amor” (2011, de Mia Hansen-Løve), sobre uma rapariga que se apaixona perdidamente por um moço tendente às aventuras, que a deixa para passear pela América Latina. Ela sofre, anos se passam, ela parece se recuperar, ao se envolver com um professor de Arquitetura, por quem se apaixona, mas cujo amor não consegue suplantar o que sente por seu amor de adolescência, que, afinal, regressa depois de vários anos. E, mais uma vez, a abandona, consolando-a com uma mensagem capciosa: “ontem eu sonhei contigo enquanto me deitava com outra mulher...”. Detestei o filme, mas alguns professores mais velhos que eu e meus amigos diziam que o nosso desagrado tinha a ver com o fato de não sermos da mesma geração que eles. Fiz de conta que não entendi. Fizemos, aliás. E, do outro lado da linha telefônica, eu ouvia uma voz carinhosa, sentindo-me contente por saber que o amo agora – e que isso é suficiente, não preciso me preocupar com mais detalhes.

Do outro lado, o filme francês clássico “Uma Mulher Delicada” (1969, de Robert Bresson), baseado numa obra dostoievskiana, sobre uma mulher triste que se suicida, e seu marido ainda obcecado por ela reconstitui as nuanças de sua relação matrimonial relativamente forçosa. Ele é ciumento. Ela é infeliz, apesar de gostar de cinema, de música, de literatura e de teatro. “Ela nunca me olhava diretamente nos olhos”, reclama o marido, o que me fez pensar se não foi por esta passagem que o diretor se encantou pelo enredo, visto que uma das marcas registradas do estilo bressoniano é justamente o olhar perenemente para baixo de seus “modelos” actanciais. Amei o filme, e não conheço ninguém que o tenha visto, para conversar. E, do outro lado da linha, uma voz esperançosa e sorridente, antecipando o momento em que eu fazia um jovem surpreendentemente carinhoso ejacular enquanto sua mãe se banhava e a panela do feijão fervia... O que ele fazia antes de jorrar esperma pela uretra? Dava-me preciosos conselhos sobre humilhação empregatícia, a fim de me consolar sobre as agruras odiosas que enfrentei com meu orientador de Mestrado na tarde de ontem. Houve amor ali – e ainda sinto-o agora. E, nesse caso, até mesmo os menores detalhes são relevantes!

Wesley PC>

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