terça-feira, 24 de julho de 2012

“EJACULE, EJACULE, SEM A MENOR PREOCUPAÇÃO”...

Está se tornando um lugar-comum repetir isso aqui, mas a minha relação intelectual com as pornochanchadas e demais filmes da Boca do Lixo paulistana está fazendo com que eu compreenda e lide melhor com a minha própria sexualidade. Na noite de ontem, assisti à comédia escrachada “A Super-Fêmea” (1973, de Aníbal Massaini Neto) sem muita esperança de gostar tanto e fiquei absolutamente aturdido diante do jorro de piadas inteligentes, referências a grandes clássicos europeus, estratagemas alucinantes de montagem e, principalmente, farpas crítico-políticas de primeira grandeza, ainda que marcadas pela dubiedade. A seqüência final, por exemplo, em que a protagonista desfila pelas ruas, depois de ter parido cem crianças, ao som de um hino popular ufanista, é absolutamente genial em sua sarcástica homenagem ao recorde de natalidade que o Brasil supostamente detinha naquele contexto. Gargalhei enquanto via o filme, ao lado de duas das pessoas mais queridas de minha vida...

Antes da sessão, inclusive, aproveitamos o gancho enredístico-temático para conversarmos sobre detalhes e tabus recorrentes em minha vida parassexual comumente assolada pelo platonismo: como é sabido de todos, amor físico e amor ideal interferem diferentemente em minhas pulsões afetivas, mas eventualmente eles se coligam e, durante a audiência ao filme, percebi que isso pode ser menos traumático, incômodo e desrespeitoso do que eu pensava!

Apesar de muitos dos méritos do filme serem “acidentais” (as intervenções hilárias e eventuais de Adoniran Barbosa, os chistes geniais e maliciosos envolvendo animais durante o coito, a canção-tema das pílulas anticoncepcionais masculinas, etc.) e de seus defeitos mais evidentes serem contornados com habilidade (o roteiro foi escrito a mais de oito mãos, o diretor era bem mais ocupado como produtor do que como realizador, boa parte dos atores são canastrões, etc.), “A Super-Fêmea” chama mesmo a atenção por sua hábil sujeição ao nonsense, parecendo uma versão tupiniquim dos filmes do grupo inglês Monty Python nalguns momentos: o personagem Onan Della Mano (Perry Salles), por exemplo, é uma típica demonstração do quanto o humor do filme distancia-se do popularesco. O mesmo pode ser dito sobre a composição abrasileirada do “godfather”, sobre os ataques de ninfomania num asilo e num convento e sobre a recorrente menção ao cansaço da protagonista, que, apesar de ser o principal chamariz do filme, só parece após mais de trinta minutos de projeção. E, por mais que Vera Fischer seja (e esteja) linda, de fato, sua atuação é ridícula (risos). Como eu disse antes – e repito: gargalhei vendo este filme, sem que isto incorresse em nenhum prejuízo à minha inteligência ou sensibilidade. Muito pelo contrário, aliás!

Wesley PC> 

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