Quando eu liguei a TV para ver “Cio... Uma Verdadeira História de Amor” (1971), não tinha muitas expectativas sobre o filme. Conhecia a trajetória irregular do diretor Fauzi Mansur, já reverenciado neste ‘blog’ em mais de uma ocasião, mas o título parcialmente cafajeste não me levava a esperar muita coisa deste exemplar menos conhecido de cinema brasileiro. Cinco minutos de projeção, entretanto, foram suficientes para me fazer quedar estupefato diante de uma obra tão surpreendente quanto inevitavelmente polêmica: estava diante de um ótimo e perturbador relato cinematográfico de amor!
Na trama do filme, Vera Lúcia interpreta uma paraibana que se traveste de homem para tentar a vida em São Paulo, depois que seu pai (Jofre Soares) desfigura o rosto de tanto trabalhar em plantações de sisal. Nós, espectadores, sabemos que o personagem principal do filme é uma mulher. Seus companheiros de narrativa, não! Enquanto fotografava uma estrada poeirenta, o engenheiro Paulo (Francisco di Franco) se depara com um caminhão pau-de-arara. Direciona a lente de sua câmera fotográfica para um menino sujo, mal-alojado na capota do veículo. A bela música-tema de Dick Danello irrompe: eles estão apaixonados! Apesar de ser uma falsa situação de homossexualismo, aquilo me excitou – justamente por causa da inusitada falsidade da situação...
À medida que a trama avança e a paraibana assume agora o nome e as feições do engraxate Darci (dublado por um ator masculino, para dar mais credibilidade ao personagem), Paulo reencontra-se casualmente com ele, nas ruas paulistanas. Fica obcecado. Aproveita uma pendência documental que forçaria o menino a voltar para o seu Estado natal e o adota. Aos poucos, deteriora a relação com sua noiva lasciva e fica distraído no emprego: está apaixonado por um menino de 14 anos! Por mais que a narrativa do filme deixe claro que, mais cedo ou mais tarde, Paulo descobrirá que Darci é uma rapariga, e não um menino, o estigma hebefílico permanece até a cena final. Transcende-a, aliás, conforme demonstrado na imagem e nas batidas aceleradas de meu coração neste exato instante: “Cio... Uma Verdadeira História de Amor” é um filme fadado à beleza inequívoca da polêmica. Ao final da sessão, não consegui dormir: estava emocionado, excitado, apaixonado... Beleza de filme – e mais valorativo ainda é saber que ele foi realizado no Brasil!
Wesley PC>
quarta-feira, 11 de julho de 2012
A MÚSICA REPETITIVA E EM PERMANENTE ‘CRESCENDO’ DO DICK DANELLO: UM PRETEXTO!
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3 comentários:
A Marlene França interpreta as personagem Suely, a Darci é feita por uma Vera Lúcia, da qual não tenho maiores informações. No site do Estranho Encontro tem uma discussão sobre isso.
Já corrigi a informação... Muito obrigado pela dica! E li o texto que indicaste assim que terminei de ver o filme: lindos, ambos!
Estranho Encontro é uma verdadeira preciosidade cibernática! (WPC>)
Concordo com o que li. Vi este filme há muitos anos na tv, mas agora vejo que estava censurado. Queria muito ver de novo, mas não sei como. Gostei inclusive muito da trilha sonora. Alguém podia me ajudar? Grato
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