terça-feira, 24 de julho de 2012

O NASCIMENTO DA MORAL:

Hoje eu sonhei que um amigo gracioso e - a seu modo - bastante terno era o chefe de redação na empresa jornalística para a qual eu trabalhava. Apesar de ter a mesma idade que agora, ele era muito gordo e completamente careca. Meus colegas achavam-no reprovável, mas eu insistia em defendê-lo como bonito e gentil, mesmo assim. Acordei com um humor rohmeriano, portanto.

Digo que acordei rohmeriano porque, num estalo casual, constanteu que o tema das “amizades simples” é recorrente no ‘corpus’ de Éric Rohmer, cineasta francês genial, o qual descobri tardiamente, mas pelo qual logo fiz questão de me apaixonar. O motivo: ele versa sobre a paixão em cada uma de suas obras, em especial no sexteto fílmico batizado de “Seis Contos Morais”.

Eu já havia, inclusive, visto dois exemplares da série, mas resolvi começar novamente, a partir do primeiro exemplar. Na manhã de hoje, portanto, vi “A Padeira do Bairro” (1962), belíssimo curta-metragem em que o jovem e muito belo Barbet Schroeder interpreta um estudante de Direito obcecado por uma rapariga loira com quem costuma esbarrar pelas ruas. Abdicando de seu horário de janta, a fim de tentar encontrá-la, ele fica caminhando pelos mesmos lugares, sem sucesso. Faminto, adentra uma mesma padaria diversas vezes e, oportunamente, chama a atenção romântica da jovem atendente de 18 anos. Desiludido em relação a sua paixão anterior, ele marca um encontro com a solícita mocinha. Às vésperas do dia do encontro, a loira reaparece, com o pé enfaixado, explicando o porquê de seu sumiço. Aí surge o dilema moral que fomenta a série: confirmar o encontro com a mocinha da padaria ou levar à frente a sua paixão original? Um casamento súbito, em menos de seis meses, responderá ousadamente à minha pergunta. Fiquei emocionalmente atordoado após a sessão: belíssimo filme! Pena que a minha cópia do mesmo esteja legendada em inglês: o amigo com quem sonhei precisa ver esta jóia cinematográfica o quanto antes!

Wesley PC>

Nenhum comentário: