quarta-feira, 8 de agosto de 2012

MINI-MARATONA WALTER HUGO KHOURI - #02: “- TU JÁ IMAGINASTE SE ENCONTRÁSSEMOS MESMO UM TESOURO? - JÁ IMAGINEI... ESTOU IMAGINANDO DESDE QUE NASCI!”

Em “A Ilha” (1962), quinto longa-metragem de Walter Hugo Khouri, Marcelo ainda não havia dado as caras. Enquanto nome recorrente na fauna humana de personagens burgueses entediados, encontramos um Hugo, mas este ainda é secundário, pouco expressivo em relação aos desígnios da competição que são estimulados pelo protagonista Alfieri [Luigi Picchi, justamente o intérprete do Hugo que aparecera em “Estranho Encontro” (1958)], obcecado por um casal de peixes raros, cujo macho muda de cor quando sexualmente excitado. Ele mantém ambos os peixes num aquário separado por um vidro, no qual o macho fica se debatendo, no afã por encontrar a fêmea. “O que acontece se tu não retirares o vidro?”, pergunta alguém. “Ele se debaterá até a morte: os machos são autodestrutivos quando desejam se reproduzir!”. Era um apotegma que servia para toda a obra khouriana vindoura...

Em mais de uma seqüência do filme, este aquário reaparece como metáfora. Apesar de o filme ser um diálogo direto com “A Aventura” (1960, de Michelangelo Antonioni) – e, nesse sentido, os detalhes forçosamente aventurescos da trama, envolvendo um tesouro de piratas, deixam isso bem claro – e de ter sido proibido para menores de 18 anos, à época de seu lançamento, os ‘leitmotivs’ tramáticos são mais amplos: a luta de classes, o tédio burguês, o abuso imputado contra as mulheres... Em dado momento, os amigos do milionário apostam com ele que deflorarão uma convidada alegadamente virgem. Um deles pede que o iate seja oferecido como prêmio. “Nenhuma virgindade vale isso!”, reclama o milionário. Uma das moças presentes à festa irrita-se com o desdém demonstrado durante a organização da aposta. “Isso é coisa que se diga? Coitada da garota!”, reclama ela. “Coitados de nós”, respondem em quase uníssono os demais. Eu, incluído!

Antes de rumarem em direção à ilha que intitula o filme, três garotinhos aparecem na praia onde está o milionário e seus amigos hipócritas e perguntam se ele quer comprar ostras. Ao invés disso, Alfieri oferece-lhes um presente, caso eles o ajudem a arrumar as malas. Os meninos aceitam e, quando vão requisitar o seu prêmio, Alfieri atira uma cédula monetária na água do mar. Os garotos saem em disparada, lutando pelo dinheiro. Alguns protestam contra o ato perverso do milionário, que, cinicamente responde: “a competição é algo que faz bem a qualquer pessoa!”. E, à medida que o filme evolui, esta tal competição dá a tônica: o iate desaparece numa tempestade; Simão (José Mauro de Vasconcelos), o maltratado piloto da embarcação, outrora empregado do pai de Alfieri, adverte que há água envenenada na ilha; César (Francisco Negrão), um esnobe espirituoso, finge ter encontrado jóias do século XVIII na ilha; e, pouco a pouco, por causa de todos estes motivos, os milionários começam a brigar entre si pela sobrevivência, pela cobiça e pela saciação de seus desejos fisiológicos mais básicos. Até água do aquário onde estão os peixes metafóricos eles bebem. Mas, na ilha, há um gato...

Oficialmente, o filme é muito mais tramático (no sentido genérico do termo) que qualquer outro filme do Walter Hugo Khouri que eu tenha visto, mas seus temas-chave estão todos lá. Dois anos depois, ele realizaria o antológico “Noite Vazia” (1964) e escancararia o existencialismo erótico ao qual associamo-lo hoje. Não é um dos meus cineastas favoritos à toa... E como a Eva Wilma está linda neste filme!

Wesley PC>

3 comentários:

Santiago disse...

Você chegou a assistir O Menino e o Vento?

Gomorra disse...

Ainda não, continuo buscando este clássico, mas... está difícil, difícil! (WPC>)

Santiago disse...

Tenho uma cópia obtida na internet, se te interessar...