terça-feira, 11 de setembro de 2012

“NINGUÉM É MAIS SOZINHO QUE O SAMURAI. A NÃO SER, TALVEZ, O TIGRE NA SELVA...”

Uma desilusão pessoal – quiçá imaginária, não de todo associada à minha culpabilidade nata – fez com que eu mergulhasse num estado macambúzio duradouro na manhã de hoje. Aproveitando a deixa, segui um conselho longevo de um grande amigo meu (o melhor deles, para utilizar um eufemismo) e promovi uma mini-maratona com os filmes de Jean-Pierre Melville, assistindo a três de seus filmes mais significativos:

 • O primeiro deles, “Léon Morin, o Padre” (1961), me atingiu em cheio: no filme, Emmanuelle Riva interpreta uma jovem viúva e aficionada por ideais comunistas, apaixona-se por um abade que, inicialmente, se dispõe a enfrentar ideologicamente numa França ocupada pelos alemães. Este pároco, entretanto, não é tacanho como imaginava a moçoila. Empresta livros de Teologia à rapariga e a leva a questionar a sua própria (falta de) fé. Numa brilhante seqüência pascaliana, o padre (inusitadamente vivido pelo rebelde Jean-Paul Belmondo) diz-lhe que a “igreja invisível” é muito mais importante que as igrejas de pedra. O desfecho demonstra isso muito bem...

• O segundo dos filmes, “Técnica de um Delator” (1962) é um exercício de gênero ‘noir’ que se inicia com a seguinte dicotomia verbal: “mentir... ou morrer”. Era um filme sobre firmeza moral, sobre regras de camaradagem entre bandidos. O roteiro revela diversas camadas sinópticas, à medida que vai sendo transmutado enquanto os eventos se desenrolam e descobrimos que eles não aconteceram como pensávamos, de modo que, ao final, o que se desvela é que este é, sobretudo, um filme sobre amizade. Um inteligentíssimo filme sobre amizade;

• O terceiro dos filmes, entretanto, é a obra máxima do diretor: “O Samurai” (1967), protagonizado pelo belíssimo Alain Delon mostrado na foto, é um filme silencioso, minucioso, impregnado por beatitude em cada um de seus planos calculados. É uma trama policial sobre um assassino de aluguel perseguido por um detetive impávido, mas, ao mesmo tempo, é uma obra filosófica sobre o papel do ser humano no mundo. Levando ao paroxismo do estilo os dilemas morais que se ensaiavam pungentemente nos filmes anteriores, “O Samurai” é impregnado de melancolia, de tristeza, de capacidade de escolha. E, quando, afinal, o solitário protagonista morre [e não é nenhuma surpresa que isto ocorra – no sentido lato do termo – visto que o seu olhar demonstra que ele quer (ou precisa) morrer desde a primeira cena!], senti-me revivido, visto que, não por coincidência, ouvi novamente a voz sorridente da pessoa que, direta ou indiretamente, me fez mergulhar na crise macambúzia citada no primeiro parágrafo. Jean-Pierre Melville tornou-se, por conseguinte, um elo adicional entre nós. Gênio!

Wesley PC> 

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