terça-feira, 16 de outubro de 2012

DESAFIO DOS NOVE FILMES DESCONHECIDOS - #01: “ – ELE PARECE INTERESSANTE... – PARA MIM, QUASE TODAS AS PESSOAS SÃO!”

Ultimamente, meu sono está mais intermitente que o (a)normal. Uma carência sobressalente, uma vontade doentia de ouvir a voz que eu acho que quero ouvir me impede de mergulhar adequadamente nos ciclos requisitados para um sono confortável. Ainda assim, me dou ao luxo de sonhar. E, hoje, sonhei que um mercador de festival de cinema (no pior sentido do termo) me presenteia com um pacote de macarrão mofado. Acordei com fome e comi justamente macarrão com quiabo. Temi senti o gosto do mofo, que, afinal, fingiu ter se manifestado numa azeitona...

Sentindo-me infeliz e psicoticamente “abandonado” (é importante frisar: a palavra está entre aspas!), resolvi adotar um estratagema emergencial a fim de não culpar ninguém pelo mal-estar que insistia em me afligir: baixei nove filmes desconhecidos, das mais diversas nacionalidades, sendo cuidadoso em não ler sequer as sinopses dos mesmos. Bastava-me título original, nome do diretor e duração. O resto é imersão!

 O primeiro dos filmes aleatoriamente selecionados tem como título nacional “A Chamada do Amor” (1968), dirigido por um tal de Alain Cavalier e roteirizado por uma certa Françoise Sagan, em cujo romance homônimo o filme se baseia. Temia que este fosse o filme que eu menos gostaria dentre os nove títulos escolhidos, mas cedi facilmente a seus encantos: na trama, Catherine Deneuve interpreta uma burguesa casada com Michel Piccoli [parceria que já havia sido antecipada em “A Bela da Tarde” (1967, de Luis Buñuel)], que, de repente, se apaixona pelo amante proletário de uma amiga, interpretado pelo atraente Roger Van Hool. Seduzida por seus encantos literários, ela resolve morar com ele, que é bastante ciumento e não aceita que ela conviva com seu marido, por mais que este se conforme em ser traído. “Há em mim tanto desejo e pânico (por te perder) que sinto que serei um perene animal triste”, confessa ele. Ela, porém, está obcecada: larga o marido e vai viver com seu amante mais jovem e mais pobre. Em dado momento da relação, ele lhe consegue um emprego como arquivista, mas ela não agüenta a pressão empregatícia e larga o trabalho, alegando seguir preceitos hedonistas encontrados num livro de William Faulkner. Quando descobre que ela não está mais trabalhando, ela a interroga acerca da demissão voluntária. Ela: “eu te disse que não nasci para trabalhar...”. Ele: “e o que tu queres fazer com a tua vida?”. Ela: “te amar, te amar, te amar, te amar, te amar!”. Era o que eu precisava ter ouvido...

Daí por diante, o filme fica cada vez mais interessante e imersivo, de modo que, enquanto eu me angustiava sempre que a vaidosa protagonista passava diante de um espelho, recebia mensagens de conforto de alguns de meus melhores amigos. A eles, destinei como consolo um dos apotegmas faulknerianos de que a burguesa viciada em prazer se serve: “para além de todas as necessidades fisiológicas, nada supera o fato de respirarmos, estarmos vivos e sabermos disto!”. Era verdade. Refleti comigo mesmo e fiquei contente. Belo filme de abertura de maratona cinefílica!

Wesley PC>

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