segunda-feira, 1 de outubro de 2012

SERÁ QUE O MEU EXTREMO CONSERVADORISMO IMPEDE QUE EU SEJA UM AMIGO MELHOR DO QUE EU PODERIA SER?

A pergunta acima é mais necessariamente retórica do que efetivamente angustiada, mas resume bem o estado de espírito interno que me afligiu enquanto eu não consegui escrever a crítica do filme "Intocáveis" (2011, de Olivier Nakache & Eric Loredano, publicada aqui), filme que vi no cinema há alguns dias e que me desagradou sobremaneira, não obstante os meus companheiros de sessão terem sorrido bastante.

Quando digo que desgostei do filme, refiro-me menos às suas qualidades cinematográficas efetivas que ao seu poderio ideológico malévolo, no sentido de que, em minha opinião, a distorção enredística do filme - que faz com que uma bela estória de amizade inesperada entre homens tão diferentes assuma ares de crítica sociológica à diferença de classes alavancada pela fetichização da arte - é perigosa, levando-se principalmente em conta o fato de que o filme tornou-se um fenômeno mundial de bilheteria, o segundo maior de toda a história do cinema francês, aliás!

Se o filme quisesse estar focalizado no tema da amizade (no caso, baseada na saga real do tetraplégico Philippe Pozzo di Borgo, que desenvolve uma relação de intimidade duradoura com seu então empregado pessoal, o argelino Yamin Abdel Sellou), ele seria muitíssimo mais de meu agrado - para além de seus clichês inevitáveis - mas, do modo como foi engendrado, não me convence enquanto "filme bobo", como uma grande amiga quis enquadrá-lo. Fiquei com tanto medo do que este filme me causou que, durante todo este domingo, em paralelo à contenteza que me tomou de assalto por causa da efusão de platonismo benfazejo em relação a um rapaz que me deixou abraçá-lo e cheirar seus cabelos ao longo da madrugada, senti-me tolhido por um arremedo de culpa, como se o bem-estar que eu sentia fosse conseguido às custas da reiteração da angústia metafísica alheia.

Agora, depois de escrita a crítica, sinto-me um tanto melhor, mas que este filme continua a me causar pavor sociológico, ah, ele continua...

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