segunda-feira, 26 de novembro de 2012

NÃO SE DEVE VER UM FILME BERGMANIANO ENQUANTO SE COME PIPOCA?

Amanheci levemente nauseabundo: havia sonhado que dois meninos pequenos queriam me assaltar, diante de uma praça urbana. Eu estava ao lado de meus amigos Jadson e Ninalcira e um dos meninos, o menos violento, tinha uma faca nas mãos. Tentamos nos encostar nas grades de uma creche, a fim de evitarmos as peixeradas, mas havia zebras no local e elas insistiam em mastigar as mangas de nossas camisetas. O que isso tudo quer dizer? Não apenas não soube interpretar como teimei em não me sentir bem até depois do almoço. E, depois de resolver um problema pendente com um mulherengo, finalmente assisti a “Face a Face” (1976, de Ingmar Bergman), filme que esperava por mim há mais de uma semana...

 Enquanto via o filme, minha mãe me ofereceu pipocas. Comecei a devorá-las justamente na cena mostrada em fotograma, quando a psiquiatra vivida por Liv Ullmann tenta resgatar uma paciente ninfomaníaca e é estuprada. Numa cena seguinte, ela narra a tentativa de estupro a um médico por quem se apaixona, mas descobrirá tardiamente que ele é homossexual. E os sonhos dela passam a dominar a narrativa, justamente quando descobrimos que ela tentou se suicidar...

 Não obstante ser um dos filmes bergmanianos que menos gostei – por parecer mais vitimizador que necessariamente “repetitivo”, conforme acusaram alguns críticos à época de seu lançamento – foi estranho ingerir uma comida associada a diversão enquanto uma mulher sofria tanto: numa das seqüências mais longas e atordoantes do filme, a protagonista relembra traumaticamente a rigidez de sua criação e nos pergunta se seremos aleijados emocionais para sempre. Quase que eu me engasgo nesta hora: glupt!

 Wesley PC>

Nenhum comentário: