sábado, 10 de novembro de 2012

NÃO SOU O QUE SE PODE CHAMAR DE FÃ DO CAIO FERNANDO ABREU, MAS, SE ELE QUISER ME COMER HOJE, EU DEIXO!

Quedo impressionado: acabo de ver “Onde Andará Dulce Veiga?” (2007, de Guilherme de Almeida Prado) e achei o filme belíssimo! Acompanho o trabalho de seu diretor desde a infância, quando a publicidade de “A Dama do Cine Shanghai” (1987) tornou-se uma obsessão desejosa. Tive acesso a dois de seus filmes absolutamente apaixonados pelo próprio cinema [“Perfume de Gardênia” (1992) e “A Hora Mágica” (1999)], mas somente este ano tive a oportunidade de assistir ao seu maior clássico: e me apaixonar perpetuamente!

 Malgrado esta paixão intensa pelo diretor, quando soube que “Onde Andará Dulce Veiga?” estava em cartaz nos cinemas sergipanos, não fiz tanta questão de conferi-lo assim: o filme fora difamado pela crítica, o elenco não me empolgou, pensei que o diretor tivesse envelhecido (no mau sentido do termo), esperei outra oportunidade para vê-lo. E, ao fazê-lo, hoje, saí da sessão completamente apaixonado: o filme é belíssimo, insisto!

 A trama possui os estratagemas investigativos caros tanto ao cineasta (em nível factual) quanto ao escritor (em nível existencial): um jornalista (composto preguiçosamente ou mal-interpretado por Eriberto Leão) é designado para entrevistar a vocalista de uma banda feminista (vivida por Carolina Dieckmann, com ótimos momentos em cena, mas nem sempre muito boa) e, ao descobrir que ela é filha de uma musa do passado (vivida por Maitê Proença, atriz-fetiche do diretor), resolve descobrir, a pedido de seu patrão (Nuno Leal Maia), por onde ela anda, visto que a mesma literalmente desapareceu durante a filmagem de um clímax de um suspense. Dirigido por seu marido homossexual (Oscar Magrini, afetado e exagerado), as imagens deste filme de suspense rendem um encantatória homenagem hitchockiana, numa das diversas referências típicas do diretor ao cinema e à arte em geral (neste filme, elas vão de Nelson Rodrigues a Roland Barthes, passando pelo Cinema Novo, pela própria obra pradiana e pelo cenário 'punk' nacional), conduzindo o protagonista à personagem de Christiane Torloni (mais uma das atrizes-fetiche do diretor), a um enigmático toxicômano de nome Raudério (Carmo Dalla Vecchia) e a uma dona de pousada amazonense (Matilde Mastrangi, também musa discreta do cineasta), que, em dado momento, pronuncia que “existem muitas Iracemas neste mundão de Deus!”. O contexto da frase: a percepção de que as perguntas são bem mais interessantes que as respostas, conforme atesta a própria personagem-título quando surge e diminui um tanto a intensidade interrogativa do filme, mas não dirime a sua extrema beleza, inclusive no que tange ao uso da música, visto que, como recita o personagem principal, durante toda a minha vida, eu tive o pressentimento de que não perderia nada ao perseguir uma canção. Comigo não é diferente: por isso, ousei persegui o filme e me encantei diante do que vi, por mais equivocado que ele seja do meio para o final...

 Wesley PC>

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