Na tarde de hoje, eu adormeci e acordei com o barulho de um
caminhão de lixo, triturando o conteúdo recolhido em frente à minha casa, os meus
cachorros latindo, os funcionários da empresa coletora gritando algo que não
consegui discernir. Lembrei que, até alguns anos, era comum oferecer esmolas
aos lixeiros, como dádiva natalina. Nos dias de hoje, até mesmo este gesto
demagógico, eventualmente dotado de verdadeira filantropia casuísta, foi substituído
pela vacuidade festiva e massificada: na rua em que moro, às 23h33’ da véspera
de um dia que os meios de comunicação de massa propagandeiam como o do
nascimento do filho de Deus, meus vizinhos ouvem músicas de péssimo calão em
altíssimo som, enquanto minha mãe assiste à Missa do Galo, transmitida
diretamente do Vaticano pela TV Cultura...
Por eu não ser efetivamente cristão – no máximo, sou um “cristista”,
fiel seguidor dos ensinamentos sociopolíticos de Jesus Cristo, costumo alegar
que detesto o dia de Natal. Inclusive, na tarde deste mesmo dia, recebi uma
mensagem de celular de uma grande amiga, amargurada com o falecimento de um
conhecido, anunciando suas projeções acerca do que deveria ser a referida data.
Não obstante ter me emocionado/preocupado com o que ela quis me dizer, fiquei
chateado com o conteúdo da mensagem: achei-a inoportuna, entreguista, visto
que, em minha opinião militante, ignorar qualquer ambição natalina é a melhor
forma de conter as mazelas impostas em nome deste feriado que costumava me
deprimir, mas que, hoje em particular, finalmente converteu-se em uma data
fingida, que não mais me afeta tão negativamente, ufa!
No exato momento em que escrevo estas linhas, sinto-me
feliz, simplesmente contente por estar vivo, por estar com minha mãe comunicativa
e audiente detrás da cadeira em que estou sentado, enquanto meu irmão mais novo
e meus cachorros jazem num quarto. Há pouco, um amigo/vizinho do caçula Rômulo de Castro o
telefonou de uma penitenciária: apesar de não gostar dele, minha mãe sentiu
compaixão por seu estado, pois ele chorava enquanto conversava com ela. Rômulo
estava dormindo e não pôde consolá-lo. De minha parte, estou ansioso para ver o
filme mais recente do Ang Lee no cinema, amanhã pela tarde, ao lado de meus
melhores amigos. Amanhã é Natal, inclusive, mas os cinemas estarão funcionando.
O capitalismo muda tudo, dessacraliza o religioso em prol do monetário. “Nem
mesmo o dia de Finados é respeitado!”, reclama minha mãe volta e meia. E eu
contente...
Wesley PC> (23h41’)
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