sábado, 29 de dezembro de 2012

“ – FALTA REALIDADE! – NÃO, TEM DEMAIS... ISSO TAMBÉM É ERRADO!”

Antes de dormir, assisti, quase por acaso, a um filme surpreendente da Boca do Lixo paulistana, chamado “A Noite das Fêmeas – Ensaio Geral” (1976, de Fauzi Mansur). Na trama deste filme, vendido como pasticho erótico, um grupo de personagens bastante heterogêneos ensaiava uma peça teatral em que quatro prostitutas assassinavam a facadas o gigolô que amavam e que as explorava. Após o violento ato, elas comemoravam entre si a liberdade, brindando-a com um gole de vinho. Entretanto, alguém adiciona veneno na bebida, de modo que as quatro atrizes são internadas num hospital e um excêntrico investigador de polícia entra em cena para descobrir quem é o culpado da tentativa de assassinato...

 A partir deste pressuposto enredístico, estratagemas metalingüísticos, que mencionam a estrutura dos livros de Agatha Christie, os primeiros filmes de Alain Resnais, o hermético estilo de Peter Greenaway e muitas outras referências artísticas, são despejados num ótimo roteiro, que me deixou ainda mais intrigado e espectatorialmente satisfeito por causa do estado tenso em que me encontrava durante a sessão, visto que estava preocupado com a falta de resposta de alguns amigos em relação a algumas importantes mensagens que enviei e com uma possível ameaça processual que sofri por causa de um comentário ousado acerca de um desmazelo produtivo local, induzido a partir do texto aqui publicado, bastante moderado, afinal de contas, segundo um amigo atento com o qual muito concordo. Intimidado por causa dos humores que o meu comentário possa inflamar, tenho que estar atento e, por precaução, angariar todo o apoio externo que eu puder, pois coisas estão acontecendo, não necessariamente favoráveis a mim!

 Oficialmente, anseio para que todos os maus augúrios aventados no parágrafo anterior não passem de desentendimentos provisórios, devidamente contornados com a adesão dialogística, mas, ainda assim, estive tenso durante a tensão e permaneci assim quando me deitei para dormir, tanto que, apesar de não ter sido afligido por pesadelos, antes das 7h da manhã de hoje eu já estava desperto, apesar de ter adormecido por volta das três horas da madrugada...

 Voltando ao roteiro magistralmente escrito por Marcos Rey, o que mais me surpreendeu no filme foi como as idas e vindas no tempo não tinham o intuito de elucidar especificamente o crime, mas, muito pelo contrário, mergulhar o espectador numa espiral de informações que se confundiam cada vez mais, tamanhas as pontas soltas nos comportamentos de cada um dos personagens, envolvidos emocionalmente, em maior ou menor grau, uns com os outros: paixões mal-correspondidas, um crítico que achava que tudo aquilo era um golpe publicitário, um iluminador esquizofrênico e acostumado a envenenar os seus cães, dívidas monetárias, diretores e roteiristas que divergiam até as últimas conseqüências pela versão final dos acontecimentos da peça, um investigador que parecia Orson Welles em “A Marca da Maldade” (1958), havia de absolutamente tudo no filme!

 E, num momento genial, alguém pronuncia, antes de pisar no pé do investigador, para demonstrar a sua tese: “a realidade é o aspecto mais concerto da própria realidade”. Eu exultei: incrível como este filme do genial Fauzi Mansur é incrivelmente subestimado e esquecido pelos admiradores do cinema vanguardista brasileiro. Muitíssimo bom!

 Wesley PC>

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