domingo, 2 de dezembro de 2012

“QUANTO A LUCIEN, SEU RETORNO A PARIS É DO DOMÍNIO DAS ‘CENAS DA VIDA PARISIENSE’”...

Assim termina a 624ª página – a última – da edição de “Ilusões Perdidas” (1843), obra-prima literária de Honoré de Balzac, que possuo: levei quatro meses para ler a integralidade deste livro, mas consumi encantadoramente – e, por que não assumir, tristemente – cada uma dessas páginas, a ponto de acrescentá-lo entre os melhores dos melhores que já li em vida!

 Dividido em três partes (“Os Dois Poetas”, “Um Grande Homem da Província em Paris” e “Agruras de um Inventor”), sendo a segunda bem maior que as outras duas, este livro é compreensivelmente um dos favoritos de Claude Chabrol e Jean-Luc Godard, sendo recorrentemente citado nos filmes destes cineastas. Oficialmente, o personagem principal é o belo, loiro, talentoso e irremediavelmente egoísta Lucien [Chardon] de Rubempré, personagem cujas infrações reiteradas contra a confiança de seus melhores amigos eu receio equiparar a alguém que conheço, mas sobre o qual não falarei agora: o livro é oportuno por si só, ainda que eu não ouse discordar de quem me acusar que a similaridade entre personagens fictício e real seja um dos grandes motivos para eu ser terrivelmente arrebatado por ele, conforme aleguei intuitivamente nesta postagem (risos).

 Além de Lucien, seu cunhado David Séchard e sua amável irmã Éve são personagens importantes no livro, bem como a apaixonada Coralie, que, afinal, morre de desgosto por causa das agruras traiçoeiras de seu amado. Enquanto David sofre por causa da usura de seu pai e é ludibriado pelo irmão de sua esposa, esta última reluta em desacreditar no poder do perdão, por mais que seu parente consangüíneo insista em tentá-la do contrário: é incrível, mas a cada momento, Lucien cava o poço de maldades – voluntárias ou não – que está associado à sua ambição sem precedentes e aos enganos de suas (falsas) paixões. Para mim, pessoalmente, o fato de que o protagonista torna-se um jornalista especializado em crítica de arte foi definitivo: este é o livro que eu deveria, de fato, ter lido no ano em que ingressei no Mestrado!

 Para ser bastante sincero, estou sendo muito cauteloso nesta resenha, cuidando para não transcrever nenhuma citação direta do livro, ansiando para que as pessoas que estejam eventualmente a ler estas linhas interessem-se por estas páginas singulares e magistrais da Literatura Mundial. Insisto: não se tornou um dos meus livros favoritos à toa nem muito menos por simples identificação! O autor de “Ilusões Perdidas” possui um senso histórico impressionante, a ponto de abundarem notas de rodapé explicando quem são os personagens, inventados ou não, que são mencionados nas três partes do livro, o que me fez compreender rapidamente o que Karl Marx quis dizer quanto insinuou que aprendeu muito mais sobre a História da França lendo este autor que os economistas e/ou historiadores tradicionais. O momento em que um espanhol declara que “existem duas Histórias: uma oficial, que é a mentirosa, a que se ensina [...], e a História secreta, na qual estão as verdadeiras causas dos acontecimentos, uma história vergonhosa” (página 587) me fez exultar: como pode uma só obra conter tanta inteligência, argúcia, sendo de humor, tragicidade e capacidade de manter-se atual após mais de cento e cinqüenta anos? Não só capaz de responder de outra forma, salvo lendo mais exemplares do “grande afresco das fraquezas, mesquinharias e ambições humanas”, que, sob o título de “A Comédia Humana” dá nome aos oitenta e nove romances, novelas e histórias curtas que Honoré de Balzac (1799-1850) em seus breves mas prolíficos cinqüenta e um anos de vida... É um desafio, promessa e presente que ofereço a mim mesmo!

 Wesley PC>

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