sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

“T.F.P.” OU A PRETENSA LIBERDADE SEXUAL ENQUANTO DOGMA?


Depois de receber um bem-vindo convite, por parte de uma simpaticíssima professora, para apresentar alguns aspectos da pornochanchada brasileira numa aula do curso de Audiovisual, em janeiro próximo, ansiei para chegar em casa e ver “Eva, O Princípio do Sexo” (1981, de José Carlos Barbosa), exibido pela primeira vez na TV brasileira, através do Canal Brasil.

No início, o filme pareceu que não me agradaria: uma animação chistosa, a apresentação caricatural de uma família de classe média, em que o filho adulto ainda é virgem e a sua irmã uma desbocada incestuosa... Suspeitei de fosse uma pornochanchada pouco inspirada. Algo no discurso da protagonista, entretanto, me deixava com suspeitas discursivas: a insistência em farpas contra a família, por parte da protagonista (vivida pela bela Lia Furlin – mostrada numa foto pessoal, pois simplesmente não encontrei nenhuma imagem do filme na Internet!), aliada a elogios irrestritos à libertinagem, fazia pensar que o filme iria além da gratuidade erotógena. Talvez tenha ido, talvez não (ainda estou pensando sobre o que o filme me causou), mas, ao final, o filme me desagradou, de fato. Mas não é completamente ruim: há o que ser aproveitado ali!

Depois que seduz o abestalhado virgem prometido em casamento para uma noiva rica, Eva instaura o questionamento dos valores pequeno-burgueses na família protagonista – até que um padre surja e tente reimplantar o poderio eclesiástico, pelo menos! Assim sendo, ela permite que a filha devassa descortine a razão de sua rebeldia (flagrou o seu namorado fodendo uma desconhecida ao ar livre) e descobre que o extremo moralismo do pai advém de um trauma infantil, quando flagrou a mãe traindo o seu pai ausente. Diversas seqüências de sexo explícito (uma delas, bastante demorada e com inusitados ‘close-ups’ penianos de ereção e felação, proibidíssimos na época em que o filme foi lançado!) são requeridas, mas, ainda assim, o filme é falho em seu endosso freudiano da necessidade de libertar-se sexualmente: tudo parece muito impositivo, forçadamente cínico, inconvincente. Não sei até que ponto o filme me excitou (os atores são feios, as cenas de sexo são invasivas), mas tenho certeza de que precisarei me deter bastante sobre este filme quando estiver redigindo a minha dissertação de Mestrado: não apenas não conhecia este diretor como há algo de muito estranho em sua descoberta tardia...

Pedi para que um vizinho também assistisse ao filme, para que eu tivesse com quem comentar as esquisitices que vi na tela (o sobejo de cenas aproximadas de masturbação feminina me pareceu bem-vindo? Pensando nisso ainda...). Não consegui conversar com ele ainda, mas dormi estafado: o filme extenua em sua imposição libertina: faça sexo irrestritamente, sob pena de ser confundido com um reacionário – eis o que apregoa a obra. Não concordo com este maniqueísmo barato, mas, tendo sido realizado no ano em que nasci, este filme merece crédito pela ousadia contestatória, ainda que muito equivocada. Ter tentado, neste caso, equivale a (quase) ter conseguido. Com todas as restrições advindas de minha má apreciação do filme, tenho que dizer: parabéns pela ousadia desengonçada, José Carlos Barbosa!

Wesley PC> 

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