sábado, 7 de janeiro de 2012

O FILME DE MEU ANIVERSÁRIO DE 2012:

“- Nós vamos ser amigos a vida inteira?
- Sim. Mas chega o momento na vida de cada um em que temos que escolher a nossa pessoa especial...”


Mais uma vez, quem diria? Liguei a TV por acaso, depois de uma manhã burocrática e assisti ao longa-metragem belga “As Aventuras de Sammy” (2010, de Ben Stassen) sem esperar muita coisa. Ultimamente, os longas-metragens animados destinados ao público infantil costumam ser tão decepcionantes que eu nem esperava que este aqui, com todo o seu discurso inequivocamente ecológico pudesse ser tão funcional, mas, melhor que isso, ele é bom, bom e sincero.

No afã por contar a trajetória de vida de uma tartaruga-marinha desde a década de 1950 até os dias atuais, o roteiro deste filme permite críticas à contracultura, à complicada oposição entre amizade e amor namoratório e à delicada interrelação entre animais e seres humanos. Num dos meus momentos favoritos, o protagonista está procurando a sua namorada Shelly quando se depara com o casal mostrado em foto, que serve de ecossistema a diversas outras formas de vida marinha. Depois de consolar Sammy acerca de sua namorada, que ainda está viva, eles juram amor eterno um ao outro. E Sammy assevera, noutra seqüência: a vida é engraçada: quando pensamos que nada mais pode ficar pior, tudo volta a ser maravilhoso”. Isso me serve de lema cíclico por hoje!

Wesley PC>

“OLHA O MENINO... OLHA O MENINO!”

O que começou como uma suspeita de humilhação desviada na manhã de hoje terminou como uma boa demonstração de reabilitação familiar. Explico: hoje é meu aniversário de 31 anos. Apesar de vários de meus amigos terem programado comemorações para hoje, meu irmão caçula carecia que eu o ajudasse numa proposta de compra de motocicleta. Como eu sou o único membro da família Castro cujo nome não está incluído negativamente no Serviço de Proteção ao Crédito, ele pediu que eu desse entrada na referida proposta, mas, por causa do baixo valor de meu contra-cheque (sou um assalariado mínimo), há a possibilidade de que o anseio dele seja rejeitado. Estou torcendo para que não aconteça isto, mas assustei-me deveras em, mais do que frustrá-lo, esse inconveniente salarial fizesse com que ele ficasse sobremaneira decepcionado comigo, achando-me desmerecedor de confiança nos parâmetros que envolvem a aquisição e posterior movimentação de capital. Pouco me importa este tipo de parâmetro, mas manter ativa a confiança de meu irmão mais novo é uma de minhas prioridades filantrópicas. Por sorte, ele não pareceu chateado comigo por tudo de humilhante que aconteceu na concessionária. Ele parabenizou-me de forma sinceramente amável, agiu como um verdadeiro irmão. E eu fiquei feliz, ainda que um tanto culpado por não poder ajudá-lo da forma que ele queria, mas agradecidíssimo pelo voto adicional de fraternidade. Somos irmãos! Ponto.

Depois que saímos da loja, onde fui tratado como “o menino” pelos vendedores desdenhosos de minha condição salarial, meu irmão ofereceu-me um pastel de queijo e um caldo de cana. Eu recusei, pois ainda não havia almoçado e temi que isso fizesse mal, mas ele comeu os tais petiscos. Viemos para casa num tai-lotação e, mal ele desceu do veículo, vomitou no banheiro de nossa residência. Fiquei preocupado com ele, mas era um mal-estar passageiro. Ele dormiu um pouco, foi para o trabalho e, há pouco, ligou para nossa casa, perguntando se eu tinha um cinto preto para anexar à sua farda de garçom. A vida empregatícia continua para ele e para mim, que, na semana que vem, terei meus turnos de folga suspensos por causa da excepcionalidade do período de matrícula. E agora eu tenho 31 anos, conforme demonstro nesta foto matinal. Que bom que ainda há quem me tache pejorativamente de “o menino”. Mal sabiam eles o quanto isto me encheu de orgulho...

A título de observação extraordinária, cabe acrescentar que, por ocasião dos fetiches tradicionais de meu aniversário, eu tencionava redigir aqui um texto melodramático, acompanhado por mais uma de minhas fotos de nudez. Conforme já devo ter explicado, neste ano de 2012, estou experimento um sentimento extremado de continuidade em relação a estas datas comemorativas que tanto me emocionam, por bem ou por mal. Assim sendo, a trivialidade benfazeja deste acontecimento excepcional envolvendo dois irmãos que possuem tantas diferenças essenciais entre si configurou-se no mais merecido presente. Obrigado, Deus, por me conceder isso que chamam de vida!

Wesley PC>

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

E, PARA FINALIZAR A SÉRIE “QUEM DIRIA?!”, UMA QUASE OBRA-PRIMA INESPERADA!

“Genial, genial, genial! O diretor sueco Johannes Nyholm colocou sua filha de 1 ano de idade para interpretar uma senhora de meia-idade enchendo a cara durante suas férias em Las Palmas, na Espanha, e contracenando com graciosas marionetes. O resultado é um curta metragem muito fofo, criativo e hilariante (é impossível não rir), ainda que a idéia de manipular um bebê indefeso fazendo-o passar por uma situação vexame e repugnante dos adultos pareça perturbadora”: foi assim que um grande amigo virtual (e também real) sintetizou “Las Palmas” (2011), curta-metragem recém-visto por mim enquanto almoçava, quando aventava a hipótese de talvez desgostar do filme, em razão do desagrado de um grande amigo meu diante dele. Qual não foi a minha surpresa em, como antecipa o resumo acima, literalmente gargalhar durante a audiência deste simpático, original e inusitado filme, que, para ficar ainda mais arrasador, me agradou pessoalmente por causa da identificação estupefata com os fantoches que interpretam os garçons do restaurante que a personagem da senhora bêbada simplesmente estraçalha no enredo. Por pouco, não foi uma obra-prima!

Para falar a verdade, achei um tanto dispensável a associação final entre cigarro, motocicleta potente e liberdade destrutiva e desrespeitosa, mas, fora isso, o filme é digno de nota máxima, principalmente por causa de sua extrema criatividade conceitual, formal,roteirística e executiva: impressionante o trabalho do diretor, que conseguiu tornar todas as situações denuncistas de sua obra críveis para além da graça suprema exalada pela menininha Helmi Hellrand Nyholm. Mal terminou a sessão e eu já estava vendo o filme novamente, ao lado de uma colega de trabalho e de minha chefa e, obviamente, nós três gargalhamos: “Las Palmas” é absolutamente pertinente, além de ser incrível e positivo enquanto obra de arte!

Wesley PC>

“SÓ SEI QUE EU RESPIRO!”

Enquanto um amigo via o filme almodovariano que dá sentido ao título desta postagem – quiçá, ao lado de seu irmão mais novo que padece de rinite crônica – eu lutava com um paroxismo de sinusite, daqueles que fazem parecer que uma família de caranguejos foi assassinada e decomposta em minhas narinas... Fedia, fedia muito!

Liguei a TV e me deparei com um surpreendente filme brasileiro, em cujo desfecho eu havia dormido na primeira vez que o vi. Revendo, pareceu-me ainda melhor: “Os Imorais” (1979, de Geraldo Vietri), verdadeiro libelo contra a hipocrisia das famílias pequeno-burguesas, em que um pai homossexual que tem um caso com o motorista vive de aparências com sua esposa ninfomaníaca, cujo filho anseia por fazer sexo com a linda personagem de Sandra Bréa, mas que, aos poucos, revela-se compulsivamente obcecado pelo homossexual maravilhosamente vivido por Paulo Castelli, que faz sexo pela primeira vez com uma mulher e se apaixona, quer casar com ela. Mas, na vida real, as coisas não se resolvem tão facilmente assim: o filme é realista, logo, o final é triste, acachapante, certeiro. E eu sinto como se uma ereção quisesse crescer em mim...

Enquanto escrevo, ouço o primeiro disco do barão vermelho sem a colaboração do Cazuza. Lançado em 1985, “Declare Guerra” tem como ponto máximo de sua lista de canções a faixa 10, “Que o Deus Venha”, baseada em prosa da escritora Clarice Lispector. E eu amo e, às vezes, despejo isso na masturbação. Pelo menos, eu digo na cara – “e sem tocar nos óculos”, como virou jargão complementar, de minha parte, nos últimos dias. Será que ele gozou ao ver o Vicente transformado em bela mulher?

Wesley PC>

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

AGORA, EU PERGUNTO DE FORMA CONTRÁRIA: SERÁ QUE O PROBLEMA ESTÁ MESMO COMIGO?!

Muita gente me recomendou “O Coração Delator” (1928, de Charles F. Klein & Leon Shamroy) antes que eu finalmente tivesse acesso a ele. Estória baseada em conto de Edgar Allan Poe, cinematografia pretensamente vanguardista, omissões de teor homoerótico no roteiro, etc.. Vi o curta-metragem na noite de hoje e não o achei nada de mais. Muito pelo contrário do que me recomendaram, achei-o insosso, presunçoso, indigno da pujança literário-poética do autor do conto original. Tanto que o filme em si desdenhou das imagens em muitas seqüências e prendeu-se sobremaneira às palavras escritas na tela. Pusilanimidade, talvez? Mas o filme foi tão condenado por ser ousado, sendo obrigado até mesmo a excluir uma passagem de cunho homoerótico e ginecofílico... Contradição? Paradoxo? (In)Justiça validada pelo tempo? Até aceito rever o filme qualquer dia, mas, assim de cara, gostei não!

Wesley PC>

“EU ME CONSOLO COM POUCO”: DEVE SER ESSE O PROBLEMA!

Ultimamente, como bem disse um grande amigo, estou me sentido assaz tolerante aos lapsos e firulas dalguns produtos culturais hodiernos. Por mais crítico e cético que eu seja e/ou pareça em relação à qualidade geral dos mesmos, um ou outro produto específico me fisga tão intimamente que me é difícil distinguir entre avaliação racional sincera e memória afetiva dominante. Tem sido assim com algumas músicas, filmes e até mesmo pessoas. Na manhã de hoje, inclusive, um rapaz que eu não vejo nem converso há quase 5 anos me convida para visitá-lo em sua casa. Tive que adotar a resposta aspeada que intitula esta postagem como justificativa para, afinal, aceitar a longo prazo o seu convite.

Pois bem, antes de receber este telefonema, eu tentava me recuperar do impacto de um pesadelo repetido (juro: é a segunda vez que eu sonho isso, só que, agora, detalhes enredísticos foram acrescidos): Lars Von Trier, Terrence Malick e Takeshi Kitano haviam dirigido um filme em episódios sobre o apocalipse símio. No terceiro episódio, o mais denso e assustador, de repente, eu me vi dentro do filme, escondendo-me embaixo da cama, apavorado, aguardando a sessão terminar e os macacos assassinos irem embora. Um deles quase me pega no flagra, mas o filme deve ter acabado, de maneira que, de repente, me vi num terminal de ônibus, quase meia-noite,preocupado em saber como chegaria em casa. Uma amiga recém-apreciadora dos prazeres vaginais alheios estava grávida no sonho (só no sonho, unicamente no sonho!) e me convida para dormir consigo, mas começa a vazar esperma de sua uretra e eu fico com vontade de lambê-lo. Despertei assustadíssimo. Algo em dizia que eu devo ver “Planeta dos Macacos: A Origem” (2011, de Rupert Wyatt) o quanto antes. Eu sou doido em fazer o contrário?!

Wesley PC>

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

“QUANDO UMA PESSOA LHE OFERECE UM CAMINHO MAIS CURTO, FIQUE ATENTO”!

Quiçá umas das maiores unanimidades nas listas de Melhores Discos lançados no ano recém-findo, “Nó na Orelha” (2011), do rapper paulistano Kleber Cavalcante Gomes, vulgo Criolo, é muito melhor do que os meus pré-conceitos acerca da popularização modista do gênero me faziam pressupor. Ouvi este disco no caminho pra o trabalho, na tarde de hoje, e fiquei empolgado desde a primeira frase de “Bogotá”, faixa de abertura do disco, em cuja letra o compositor assevera:

“Se você quer amor, chegue aqui
Se quer esquecer a dor, venha pra cá
Pois a ilusão é doce como o mel
E cada um sabe o preço do papel”


Era o suficiente para que eu me apaixonasse pelo disco, assim de cara. Mas eu não queria me deixar levar por novos pré-conceitos, desta vez apologéticos, e relutei em repetir a canção que me agradara tanto. Segui em frente na audição do álbum e me deparei com “Subirusdoistiozin”, faixa que me pareceu deveras familiar por ser executada à exaustão nos intervalos entre os filmes da filial sergipana da rede Cinemark, sendo acompanhada de perto por “O Tempo”, do grupo Móveis Coloniais de Acaju. É uma canção simpática, com refrões repletos de onomatopéias e gírias graciosas do universo musical afro-tupiniquim (se é que a expressão existe – risos), mas a faixa seguinte, quiçá uma das mais agradáveis ou a melhor do disco, “Não Existe Amor em SP” é a que me fisgou por completo. Agora sim, eu pude exclamar que me tronei um fã imediato do disco. Muito bom, também estaria numa lista de Melhores de 2011, caso eu o tivesse ouvido ano passado!

“Não precisa morrer pra ver Deus
Não precisa sofrer pra saber o que é melhor pra você
Encontro duas nuvens em cada escombro, em cada esquina
Me dê um gole de vida
Não precisa morrer pra ver Deus”


Daqui por diante, o disco segue o mesmo embalo, encantando facilmente o espectador com sua mescla de ritmos, com a voz doce do cantor e com letras que são, ao mesmo tempo, singelas em sua exaltação do amor e conscientes das mazelas das zonas periféricas brasileiras e dos preconceitos raciais. Assim sendo, grito para quem enfrentou o mesmo tipo de pré-conceito que eu ao ler as empolgações da crítica especializada sobre “Nó na Orelha”: é um disco muito bom mesmo!

Wesley PC>

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

“SIM, E COMO ESTÁ SENDO A REAÇÃO DO POVO AO SEU NOVO VISUAL?”

Assim me perguntou um rapaz com duas letras N no prenome, no início da tarde de hoje. Conforme anunciei de forma um tanto temerosa na penúltima postagem, hoje foi o primeiro dia de trabalho de 2012, quando apresentei um novo corte de cabelo (bem curto e novamente moreno) e o uso de óculos com armações grossas. Fiquei parecendo uma espécie de Clark Kent moderno, mas, ao contrário do que ocorre externamente no quadrinho acostado, as pessoas ao meu redor reagiram de forma bastante erótica à minha nova aparência fisionômica. “Wesley, tu estás um filezinho!”, disse uma bela servente quando eu ia ao banheiro. “Wesley, tu estás um gato”, disse-me um colega de trabalho homossexual recém-chegado da Bahia. “Oh, Wesley, tu estás tão fofo!”, comentou repetidas vezes outro colega de trabalho homossexual mais cedo. Aparentemente, as pessoas aprovaram sobremaneira o meu novo visual. Antes que eu me rendesse a uma potencial vaidade reativa, tomei consciência discursiva de que a aparência é apenas um trecho do percurso. A essência é o que conta. Tomara que isso me sirva de consolo e incentivo no enfrentamento de pelo menos duas das três graves injustiças que me assolaram neste último fim de ano, com as quais terei que me deparar voluntariamente daqui a pouco. Ao contrário do Clark Kent, quando eu tiro os óculos e troco de roupa, não aparece nenhum Super-Homem. Pelo menos, não do modo fantasioso tradicional (risos). Há quem me despreze neste mundo. Faz parte do processo...

Wesley PC>

EXTRAVAGÂNCIA, PARA MIM, É ALGO QUE RIMA COM OUSADIA!

Em mais de um momento, na noite de ontem, fui abordado por pessoas que elogiavam “Fôlego” (2011), disco contemporâneo do gaúcho Filipe Catto. Ouvi a sua versão para “Garçom”, do Reginaldo Rossi, e não achei lá tão emocionante quanto diziam, causando-me muito mais espanto a minha descrença inicial de que aquela voz tão aguda fosse, de fato, masculina, do que a qualidade inovadora da regravação, que pouco se destaca em meio a esta modinha ‘pimba’ de redignificar canções bregas aclamadas pelo público não-pimba. Seja como for, ao chegar em casa, senti vontade de ouvir o disco inteiro. Concedi-me duas audições de ontem para hoje e, assim de supetão, adianto que o que mais me incomodou negativamente no disco foi a falta de ousadia do artista.

Apesar da boa escolha do repertório (“2 Perdidos”, de Arnaldo Antunes, ficou pitoresca em sua voz efeminada e entristecida), o disco como um todo é apenas mediano. A faixa de abertura (“Adoração”) é primorosa, a segunda canção (“Gardênia Branca”) é bonita e muito bem executada, a terceira (“Johnnie, Jack & Jameson”) é chata e destoante e as demais (“Juro por Deus”, “Saga” e “Nescafé” em destaque) chamam a atenção aqui e ali por seus joguetes românticos e/ou sexuais e por suas ameaças ou promessas maritais. Mas no geral, insisto, achei o disco apenas mais ou menos. Bem mais ou menos mesmo. Faltou ousadia, muita ousadia, mas, ainda assim, no caminho de volta para casa, mais tarde, ouvirei este disco pela terceira vez. Quem sabe, dentro em pouco, eu não me perceba fisgado por ele?

Wesley PC>

SEM TÍTULO (LITERALMENTE)

Dentro de algumas horas, estarei trabalhando novamente. Gozei uma semana de folga, mas, como esta coincidiu com as temíveis festas de final de ano, senti-me triste, injustiçado, magoado, infeliz, emocionalmente escorraçado... Por essas e outras, estou temeroso do que me acontecerá profissionalmente daqui por diante. Tenho medo que minha angústia interior interfira em meu desempenho profissional. Sinto-me amargo e, ao mesmo tempo, sinto-me estranhamente encorajado: se me serve de consolo, meu aniversário está chegando. Haverá nudez daqui para lá. Nudez é bênção! E, acima de tudo, eu amo. Amo até quem não me ama. Principalmente estes, aliás! Culpa de Deus: glória ao supremo Deus que me rege!

Wesley PC>

domingo, 1 de janeiro de 2012

“A ÚNICA COISA QUE ME ESPERA É O INESPERADO”...

Na tarde de ontem, uma amiga disse que eu fiquei parecendo o compositor Cazuza de óculos. Apesar de não concordar com esta comparação, fiquei lisonjeado com o que, obviamente, foi um elogio. Por causa de um desarranjo personalístico interno (leia-se: surto de tristeza inscrito na própria face), precisei mudar radicalmente o meu corte de cabelo, a fim de me sentir internamente apaziguado. Pedi para uma vizinha cortar bem baixinho, sem medo de ficar feio. Precisava mudar, precisava me sentir algo diferente – ao menos, por fora.

Depois de ter cortado o cabelo, lavei alguns pratos sujos sobre a pia e, ao analisar a programação de TV, percebi que seria exibido hoje “Um Casal do Barulho” (1941), filme atípico de Alfred Hitchcock, “o mestre do suspense”. Tratava-se de uma comédia conjugal, sobre um casal que, após três anos, descobre que seu matrimônio não é legalmente aceito, o que engendra questionamentos de interesse por parte da mulher e necessidade de reconquista por parte do homem. É um filme radicalmente distinto do que o diretor é acostumado a realizar, não obstante a lascívia gritante do roteiro ser condizente com a licenciosidade manifesta noutros de seus filmes. Ou seja: é o filme que defende o paradoxo da monogamia, visto que, apesar de ter sido casado até o fim da vida com a mesma mulher, Alfred Hitchcock estimulava uma sexualidade bastante liberal em seus filmes, sendo as (anti-)heroínas hitchcockianas aclamadas justamente por causa do fulgor erótico. Não deixava de ser um filme boníssimo e muito interessante, portanto.

Enquanto eu via o filme e superinterpretava algumas de suas situações cômicas a partir de uma comparação dramática com os meandros de minha própria vida recente, minha mãe passa pela sala e, ao saber que se tratava de um filme dirigido por Alfred Hitchcock, indagou-me se ele já havia aparecido em cena. Pouco tempo depois de ela ter feito esta pergunta, o fotograma acima mostrado aparece na TV, correspondendo justamente à passagem do diretor pela tela, quando a câmera realiza um ‘zoom’ muito suspeito após uma idéia empolgada do protagonista masculino do filme. Era a dica, era o inesperado que me esperava...

Wesley PC>