sábado, 25 de fevereiro de 2012

OS DOIS MUNDOS DENTRO DOS DOIS MUNDOS...

Recentemente, um amigo terminou um relacionamento afetivo por acreditar que é cedo demais para se envolver intimamente (no sentido mais interno do compartilhamento mutuo de problemas) com alguém, depois de ter se separado de alguém a quem dedico bastante tempo de sua vida. Dentre os diversos motivos para o segundo término, estava a declaração de que seus mundos (o dele e o dela) eram muito diferentes. Pegando carona nos ensinamentos wittgensteinianos, o de quem não é?

Pois bem, na manhã de hoje, este amigo veio conversar comigo, em frente a minha casa, e eu estava ocupado, vendo o filme. Não tive o menor escrúpulo em pausar um pouco a sessão para conversar com ele, mas quando ele pediu para ver um dado filme comigo, eu disse que talvez não fosse possível neste final de semana. O motivo: até as 22h do domingo, pretendo assistir a pouco menos de uma dezena de filmes, dentre aqueles que são os principais indicados ao Oscar deste ano. Aos olhos de muitos ideólogos, talvez seja uma decisão fútil, uma cerimônia ridícula, mas eu insisto em fazer isso: faz parte de uma tradição infantil entre amigos. O problema é que, depois que meu amigo foi embora, fiquei me sentindo culpado por tê-lo demonstrado que "nossos mundos são diferentes”. Estou pensando em telefoná-lo com urgência, a fim de convidá-lo para assistir a alguns dos filmes desta safra estadunidense que têm a ver com a sua área de estudos acadêmicos, o âmbito empresarial e as situações administrativas. De antemão, sinto que ele concordará, mas... Será que é isso que ele quer (ou precisa) mesmo?

Seja lá o que meu amigo responder, outros amigos dependem de minha decisão de continuar na maratona (risos). Parece um dilema entre as memórias afetivas renitentes versus as contradições situacionais do presente, mas não incorrerei num falso maniqueísmo. Dentro de mim, existe algo me incomodando, algo que talvez tenha a ver com a pseudo-oposição entre pensamentos e sentimentos demonstrada no filme da Phyllida Lloyd, “A Dama de Ferro” (2011): vivemos mesmo numa era de síndrome moral de Alzheimer! Por sorte, minha mãe é militante e me ama: na sala, ela assiste empolgada a um filme do Douglas Sirk! Oh, como eu quero bem a essa mulher...

Wesley PC>

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

“EU QUERO QUE VOCÊ SAIBA QUE EU SEI QUE TU SABES QUE EU ESTIVE NUM HOSPITAL. MAS NÃO É ISSO QUE ME DEFINE”...

Acabo de ver “O Solteirão” (2010), até então, o filme mais recente do diretor Noah Baumbach. Ao contrário dos dois ótimos filmes anteriores do diretor [“A Lula e a Baleia” (2005) e “Margot e o Casamento” (2007)], não gostei muito desse filme. Ele me deixou enfadado. Mas, justamente por isso, sinto-me na obrigação de elogiá-lo: é impressionante o quanto este diretor-roteirista é coerente em seus retratos de neuróticos de meia-idade. No filme, Ben Stiller é um carpinteiro solitário e dependente que, depois de ter sido internado numa clínica de repouso por causa de um surto psicológico que fez com que ele não conseguisse movimentar os membros inferiores, resolve passar um tempo na casa de seu irmão, que viaja com a família rica para o Vietnã. Inadaptado ao local onde passara a juventude e depois de tentar remediar os erros do passado com pessoas que sequer recordam de si, ele acaba se envolvendo sexualmente com a assistente (um misto de babá e secretária) de seu irmão, interpretada por uma melancólica Greta Gerwig. Ambos recusam-se veementemente a admitir que possam vir a se apaixonar um pelo outro. Ele tem surtos cada vez mais violentos de raiva sem sentido. Ela está grávida, tenciona fazer um aborto, mas tem muito medo de sentir dor. Um cachorro com uma doença auto-imune contribuirá para que os vínculos forçados entre eles sejam reiterados. E é como eles se amassem, mas não admitissem, até o final do filme. Não é um filme muito bom, como o diretor me deixou acostumado, mas é autoral, sofrido, denso, verborrágico, doloroso em seu erotismo gritante e amadurecido (à beira da impotência). Me identifiquei. Gostei? Não sei se veria de novo, mas tem algo ali que fará com que eu me sinta bastante intranqüilo antes de dormir. E isso é bom. É importante. Me faz sentir humano. Deve ser saudades dos amigos que eu não tenho mais tempo de ver todo dia por causa do trabalho. O meu trabalho e o trabalho deles. E não sei até onde isso define qualquer um de nós...

Wesley PC>

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

QUERIA PODER RESOLVER ALGUNS PROBLEMAS AMOROSOS TÃO BEM QUANTO O PRESTON STURGES...



(...)

Eu queria, mas...

(...)

Wesley PC>

DIRETO COMO UMA ADVERTÊNCIA (OU “DOIS PASSOS PARA FRENTE, UM PARA TRÁS”)!

A cantora transexual canadense Rae Spoon foi a minha grande descoberta artística da tarde de ontem. Ouvi um amigo virtual brasiliense elogiar a sua ousadia ‘indie’ e não resolvi: baixei logo três álbuns dela, sendo que a faixa 02 do disco “Superioryouareinferior” (2008), chamada “My Heart is a Piece of Garbage. Fight, Seagulls. Fight!” não me sai da cabeça. Motivo: aquele anúncio de refrão, que prediz e repete o verso “I need a history”. Eis o meu drama: eu preciso de uma história! Por mais que eu já tenha uma (ou mais de uma), eu preciso de mais. O veado que ostenta a maravilhosa capa do disco é minha testemunha!

Depois de ouvir a supracitada faixa na íntegra pela primeira vez, fui convidado por um amigo triste para participar de um convite que eu havia feito a mim mesmo, por um amigo rabugento, para vermos alguns filmes na tarde ensolarada de quarta-feira que ontem se instalou. Ao final da sessão, fiquei perturbado com o filme que acabara de ver. Não porque gostara dele efetivamente (apesar de ser muito bom) ou por ele ser exasperante em seu discurso moralmente imperativo, mas porque muito do que o filme predisse como verdade conseqüencial, eu havia citado referencialmente na manhã daquele mesmo dia. Na volta para casa, montado na garupa da motocicleta do meu amigo triste, vislumbrei quando um motoqueiro atropela um cachorro e cai do veículo. O cachorro correu, mancando, sendo prontamente acolhido por alguém que, espero, seja o seu dono. O motoqueiro ficou no chão, perplexo, caído, aguardando que alguém viesse em seu auxílio. Não sei o que aconteceu depois, mas fiquei preocupado com as conseqüências do acidente. Muito mais com o cachorro do que com o motoqueiro, não vou negar. Afinal de contas, a sua dor não será notícia de jornal. Ele precisa de história tanto quanto eu. E este é um desabafo. Vou ouvir música pimba:

“Ask the devil into your heart,
And you'll never be alone.
There's no time to stand apart
In your new prairie home”.


Para piorar, o meu aparelho de telefonia celular está impedindo que eu envie mensagens para algumas das pessoas emuladas nesse texto,. É como se fosse um aviso cósmico: precisamos de história – e jamais estaremos saciados!

Wesley PC>

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

PONTO DE PARTIDA: UMA MARCA ARGENTINA DE BATOM!

Por pouco, “Luz Del Fuego” (1982, de David Neves) não seria um bom filme. Dirigido de forma oportunista, montado de maneira tosca e roteirizado de um jeito excessivamente consensual em relação aos fatos verídicos que marcaram a vida da polêmica Dora Vivacqua (1917-1967), mais tarde rebatizada por si mesma como Luz Del Fuego. Vegetariana e abstêmia de cigarro e bebidas alcoólicas, ela era famosa por suas apresentações de vedetismo, em que dançava nua com jibóias. Em meados da década de 1950, obteve a permissão da Marinha Brasileira para fundar a primeira colônia de nudismo do Brasil, num lugar que ela denominou Ilha do Sol, no Rio de Janeiro. Não conhecia sua história, mas, graças ao filme, protagonizado com muita garra e ousadia por Lucélia Santos, fiquei interessadíssimo na personagem.

Descobri que a data de seu nascimento, 21 de fevereiro, é agora relacionada ao Dia do Nudismo, e que ela foi assassinada em 19 de julho de 1967, sendo amarrada a uma pedra e atirada ao mar. Motivos políticos tiveram a ver com a sua morte, visto que ela fundou um partido em que defendia o direito alienável à nudez. No filme, a personagem se mete em conchavos pornográficos com figuras influentes e perigosas do poderio nacional, mas, segundo li nalguns artigos sobre ela, a sua defesa do naturismo é pautada na seguinte afirmação: “um nudista é uma pessoa que acredita que a indumentária não é necessária à moralidade do corpo humano. Não concebe que o corpo humano tenha partes indecentes que se precisem esconder". Concordo veementemente com ela!

Interessante no processo de descoberta e enfeitiçamento da personagem é que eu não lembrava que o filme seria exibido, não conhecia nada sobre ele e não gostei muito do modo como a personagem foi apresentada. Aos poucos, eu fui percebendo que ela era muito mais relevante do que as amarras comerciais do filme deixavam entrever. De modo que, agora, conhecer mais sobre esta militante orgânica e pioneira é prioridade epistemológica!

Wesley PC>

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

“AMAR É... SER FIEL ATÉ O FIM!”

Muito do que eu teria a dizer sobre esta verdadeira epopéia erótica brasileira foi descrita com argúcia, genialidade e paixão neste artigo aqui, mas, ainda assim, sem medo de parecer pleonástico e emocionado, insisto em destacar o quanto a trama deste filme me encantou: logo no comecinho, a protagonista (maravilhosamente vivida pela bela Aldine Müller) é deflorada por um açougueiro, que paga o rompimento de seu hímen com um pedaço de carne. Ela torna-se uma prostituta triste, amargurada, conhecida por seus gemidos altissonantes, e desejosa de se casar de branco. Numa cena impressionantemente bela, ela se masturba de pé, usando um vestido de noiva, enquanto olha para o retrato na parede de um ator de telenovela por quem é obcecada. Depois, ela recebe um valor monetário mais alto para ser fodida analmente e, num cinema pornográfico, percebe que vários homens carecas viram as costas para a tela a fim de observarem-na enquanto batem punheta. Numa cerimônia de casamento, ela consente em fazer sexo com o pai da noiva, que aceita fingir que se casa com ela, desde que ela se eduque, torne-se culta, aprenda a diferenciar compositores de música clássica e desista de pendurar pôsteres de revistas adolescentes na parede. Ela muda de nome, torna-se mais refinada, persegue o ator por quem é obcecada, que costuma fazer sexo com homens mais velhos. Decidida a tornar-se uma especialista em adoção de fantasias eróticas, ela disfarça-se de homem e transa com um rapazola homossexual, que, depois, posa para ela sem roupa. Numa cena posterior, ela beija um retrato gigantesco de seu amado ídolo televisivo e exclama: “eu te amo tanto, meu Deus. Por que tem que ser assim?”. E, por incrível que pareça, ainda falta muito a ser narrado... Maravilhoso esse filme! Mais um pouco e eu caía no choro, de tanta identificação potencial. Uma verdadeira aula de erudição sexual brazuca. Jean Garrett, eu te amo!

Wesley PC>

“DA FRUTA QUE ELES GOSTAM, EU COMO ATÉ O CAROÇO”...

Quando eu pensei no título dessa postagem, eu tinha a intenção de comentar a minha experiência positiva com o carnaval do Rasgadinho, aqui em Aracaju, na noite de hoje. Havia sido convidado por um amigo divorciado e sua nova namorada para curtir a festa (não muito cara a mim, como todos bem sabem) e resolvi aceitar a empreitada: de vez em quando, é importante variar!

Lá chegando, encontrei amigos queridos, diverti-me com uma ou outra música interessante (sendo a que contem o verso-título uma das mais efetivas, justamente na despedida) e, quando cheguei ao conjunto residencial em que vivo, testemunhei uma briga violenta entre o meu amigo e sua ex-esposa, através de meu telefone celular. Como sou amigo de ambos, fiquei calado, preferi não me envolver na arenga. Desci num local pouco habitual em relação às caronas deste amigo e, numa virada impressionante e benfazeja do destino, me vi diante de um rapaz seminu, com seu pênis ereto em minha boca, poucos minutos depois. Durante o ato sexual, ele telefonou para alguém e disse: “oi, amor, estás a fim de sair hoje? Vamos para o Rasgadinho?”. Eu chupando o seu pau e ele telefonando para outra pessoa, legitimando (e me fazendo ser conivente com) um adultério. O que eu deveria fazer? Parar? Solicitei o conselho de diversos amigos e recebi respostas divergentes. Mas continuei. O fiz gozar, sorvi cada gota de seu precioso esperma e não me arrependi do que fiz. Ao final, a pessoa do outro lado da linha não quis sair com ele. E, se quisesse, tinha pouco o que aproveitar dali. Eu abusei dele. O amei antes dela. Tinha esse direito, acho. Talvez ele só não tenha coragem de admitir, mas ele deve ter gostado do que eu fiz...

Quiçá aliviado dos lampejos de culpa que o fato inusitado trouxe à tona, estou prestes a ver “A Mulher que Inventou o Amor” (1979), precioso título do genial Jean Garrett, a ser exibido daqui a pouquinho no Canal Brasil. Pressinto que este filme porá mais lenha na fogueira dos meus dilemas morais hodiernos. Eu amo, obcecadamente: tenho culpa por isso! Reinvento este sentimento a cada dia...

Wesley PC>

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

E, DE REPENTE, TUDO FUNCIONA! DEVE SER O MEDO DE AMAR OU DE ALEGRIA...

“Cavaleiro Selvagem, Aqui Te Sigo” (2011), da cantora paulistana Mariana Aydar, foi eleito por diversas publicações conceituadas como um dos melhores discos de 2011. Já tinha ouvido o disco duas vezes antes de hoje, mas tinha achado-o apenas mediano. Algum misterioso meandro onírico fez com que eu acordasse hoje ao som de “Passionais” (faixa 04) e não consegui mais me livrar da boa influência do disco: não é que é muito bom o bendito? Ah, como é!

"Já passamos muitas aflições
Também jogamos tudo ou nada
E não foi bom
Já nos despedimos, mas depois
Só sentimos pena de nós dois

Que somos assim sabemos já de cor
Lamentamos muito por não ter
Realizado algo maior
Ou bem melhor

Um volta pro outro quase todo mês
Quê que faz a gente fazer o que fez
Ambos atordoados com a estupidez
Eu você na vida juntos outra vez"


Das primeiras vezes que ouvi o disco, as canções que mais me chamaram a atenção foram as regravações estilosas de “Vai Vadiar”, consagrada por Zeca Pagodinho, e “Nine Out of Ten”, do Caetano Veloso, além da contagiante “O Homem da Perna de Pau” (de Edson Duarte). Hoje, por conta de diversos fatores, além de ter me derretido plenamente diante dos jogos de palavras com os parabéns da faixa destacada no primeiro parágrafo desta postagem, me percebo encantado, apaixonado, entregue até a cepa ao devaneio poético da faixa 02, “Solitude”. Afinal de contas, ao contrário do que proclama o eu-lírico da cantora, não sei se “na minha solidão, mando eu”, mas intuo que eu esteja com medo do amor e de alegria. Tenho que sair de casa hoje. O cavaleiro selvagem precisa ser seguido!

Wesley PC>

SE ME DISSESSEM QUE ESTE FILME ERA TÃO BOM ANTES, NEM EU ACREDITARIA...

Seja franco, caro leitor, tu terias vontade de assistir agora, neste exato momento, a um filme de nome “Aventuras de um Paraíba” (1982, de Marco Altberg)? Pois bem, eu também não! O filme estava sendo exibido na TV, ontem à noite, e eu dei de ombros, preferi ficar lendo no sofá, ouvindo o silêncio do descanso após o carnaval alheio. À meia-noite, eu me sentia um tanto insone e liguei a TV, deparando-me justamente com a seqüência erótica mostrada em fotos nesta postagem. Resolvi verificar do que se tratava. A sinopse era banal, o erotismo era canhestro (mas sincero) e o ator principal, Caíque Ferreira, era bonito. Resolvi arriscar uma olhadela mais demorada. Melhor para mim, que pude ter a honra de prestigiar a seguinte situação fílmica:

Recém-chegado ao Rio de Janeiro, o protagonista paraibano toma banho de mar numa praia, enquanto é sequiosamente observado por um homossexual. De repente, alguns trombadinhas levam a roupa do nordestino. Chateado e preocupado com o dinheiro da passagem, o paraibano consente em aceitar o auxílio do afetado carioca, que o leva para sue apartamento, despe-se e pergunta se ele já havia feito amor com alguém do mesmo sexo. O paraibano estranha, se afoba, diz que não, mas fica curioso quando o carioca insiste que isso está na moda. Na cena seguinte, ambos estão deitados na cama, sob os lençóis. O paraibano se pergunta: “o que minha mãe diria se me visse agora?”, enquanto o carioca geme: “me chama de Vera!”. O paraibano inconscientemente atende e grita, enquanto realiza aqueles famosos movimentos penetrativos: “Vera, Vera!”. Impossível desligar a TV depois disso!

À medida que o filme evolui, fui ficando cada vez mais apaixonado pelo Caíque Ferreira e por seu personagem tão ingênuo quanto íntegro. Ele se apaixona pela personagem cega de Cláudia Ohana e, no processo de conquista de sua liberdade (já que ela é cativa de um traficante), envolve-se com uma fotógrafa interpretada por Tamara Taxman e tenta resgatar seu amigo Zé Preto (Lourival Félix) do mundo do crime. O desfecho carnavalesco do filme me deixou emocionado e excitado. Belíssimo! Como é que eu nunca ouvi falar desse filme antes? Ah, lembrei: por causa do título e da pergunta capciosa que fiz lá no início...

Wesley PC>

domingo, 19 de fevereiro de 2012

PIADA INTERNA DE CARNAVAL:

Minha mãe achou que ouvir Elza Soares às 22h de domingo não funciona muito bem para quem está internamente agitado. “Parece que ela está miando”, comentou ela, enquanto eu prestava atenção em primeira pessoa à letra de “Eu Vou Ficar Aqui”, composta pelo Arnaldo Antunes:

“Eu vou ficar aqui
até acabar a festa
se ela ainda não chegou
esperar por ela é o que me resta
nenhuma pessoa mais me interessa
(eu não vou sair daqui)

Podem insistir
mesmo que amanheça o dia
não tenho para onde ir
e nem que tivesse eu me moveria
daqui do meio da pista vazia

Por isso, toquem a música bem alto
toquem e me façam dançar
(façam meu corpo dançar)
Por isto, toquem a música bem alto
façam o tempo passar
(façam o tempo parar)

Parar passar parar passar
parar passar parar passar”...


Eu costumo ficar trancado nos dias de carnaval, vendo bons filmes, me empanturrando de comida, mas, agora à noite, fiquei com vontade de sair de casa. Acho que vou tomar banho e sentar ali na varanda, enquanto espero que alguém aceite o meu convite de rever um filme clássico do James Whale...

Wesley PC>

E, MAIS UMA VEZ, O GOYA PERSEGUE (E ESNOBA) PEDRO ALMODÓVAR!

No ano passado, eu tive a honra de assistir ao prêmio Goya, “O Oscar espanhol”, pela primeira vez. Na ocasião, o presidente da Academia Espanhola de Cinema era o controvertido Aléx de la Iglesia, que, em seus discursos diplomaticamente polêmicos, deixou entrever a insatisfação diante de algumas conjunturas políticas que explicam porque, entre outras coisas, os filmes do genial diretor Pedro Almodóvar são francamente subestimados pelo prêmio, não obstante serem francamente laureados ao redor do restante do mundo. Pois bem, quando eu descobri que, este ano, “A Pele que Habito” (2011) estava indicado a 16 prêmios, pensei que a injustiça seria corrigida. Puro engano: foi piorada!

Apesar de receber os merecidos prêmios de Melhor Trilha Sonora Original (para Alberto Iglesias), Melhor Atriz (Elena Anaya) e Melhor Ator Revelação (Jan Corbet), nos demais prêmios, o filme foi absurdamente ignorado. Desprezado mesmo. E o piro: todo mundo sabia u suspeitava disso. Tanto que a apresentadora da edição deste ano da cerimônia, a espirituosa Eva Hache, deixou escapar diversos chistes relacionados aos maus tratos acadêmicos contra Pedro Almodóvar e, por extensão, contra Antonio Banderas. Alguém até comentou: “como é que o embaixador hollywoodiano do cinema espanhol tem uma mansão em Los Angeles, é casado com a estonteante Melanie Griffith, e nunca ganhou um prêmio Goya?”. Todo mundo parecia saber a resposta por ali, mas preferiram se calar...


Quem recebeu os prêmios de Melhor Filme, Melhor Diretor (para Enrique Urbizu) e Melhor Diretor (José Coronado) foi a trama policial “No Habrá paz Para Los Malvados” (2011), que, pelas imagens mostradas, parece um ‘thriller’ estadunidense apenas correto em seu realismo. Seja como for, recebeu também os prêmios de Melhor Roteiro Original, Melhor Som e Melhor Montagem. Em minha opinião intuitiva, o único filme que concorria esteticamente à altura de “A Pele que Habito” era o faroeste “Blackthorn” (2011, de Mateo Gil), afinal premiado em diversas categorias técnicas, protagonizado por Sam Shepard, Eduardo Noriega, Stephen Rea e Magaly Solier, cujo roteiro é focado na estadia boliviana do famoso bandido Butch Cassidy. O quarto filme indicado aos principais prêmios foi o drama de época “La Voz Dormida” (2011, de Benito Zambrano), vencedor dos prêmios de Melhor Canção Original (para “Nana de la Hierbabuena”), Melhor Atriz Revelação (María León) e Melhor Atriz Coadjuvante (Ana Wagener). Assim que o filme estiver disponível, farei questão de vê-lo. Não somente ele, aliás, visto que me encantei pela maioria dos indicados, destacando-se a animação “Arrugas” (2011, de Ignacio Ferreras, que recebeu os prêmios de Melhor Animação e Melhor Roteiro Original) e a ficção científica “Eva” (2011, de Kike Maíllo), que recebeu os prêmios de Melhor Novo Diretor, Melhor Ator Coadjuvante (Lluís Homar) e Melhores Efeitos Visuais.

Seja como for, para além das justiças e injustiças da premiação, o que mais saltou aos olhos e ouvidos na cerimônia deste ano foram a homenagem ao conjunto da obra da cineasta Josefina Molina (mostrada em foto, abaixo) e a traiçoeira acolhida ao fabuloso diretor que completará 63 anos em setembro. Ele pode não ter recebido o prêmio que merecia, mas tenho certeza de que ele sabe que não apenas eu considero “A Pele que Habito” uma das cinco melhores produções mundiais produzidas no ano passado. Porque é – e ponto!

Wesley PC>

DUAS OU TRÊS LINHAS SOBRE “A BATALHA DE SAN PIETRO” (1945, DE JOHN HUSTON) ANTES DE DORMIR...

“As crianças que ontem choravam, hoje estão sorrindo e, quem sabe amanhã, não lembrarão mais das tragédias de hoje”... Assim comemora, ao final do filme, a narração do diretor John Huston, cineasta que ficaria marcado em suas obras posteriores pela temática do fracasso, mas que, aqui, serve aos ideais patrióticos de uma nação intervencionista, que glorifica a si mesma por ter sacrificado centenas de seus soldados em prol dos habitantes desamparados da cidade italiana que fora invadida pelos nazistas, por causa de seu posicionamento bélico estratégico. Covas são cavadas para enterrar os defuntos, enquanto mulheres, crianças e idosos saem de seus esconderijos para comemorarem a libertação do local onde vivem. Cabe a mim dizer se este documentário de guerra – que contém algumas cenas reconstituídas por causa das dificuldades de filmagem durante a própria batalha – convence ou não? Deixo a resposta em suspenso: estou com sono. Dormir é importante também: o V de vitória ao final da projeção que o diga!

Wesley PC>