sexta-feira, 30 de março de 2012

DA ARTE DE SER HIPERATIVO (E REAPRENDER A TER SEGREDO):

Estava aqui me remexendo na cadeira e uma jovem simpática perguntou se eu estava agoniado. Disse-lhe que eu era hiperativo e que este meu comportamento agitado é normal. Hoje talvez não seja. Estou impaciente. Oficialmente, hoje é o último dia útil de minha primeira semana de reabilitação não-daática. Se tudo der certo, uma pulsão onírica recorrente será saciada na noite de hoje. Fiz questão de anotar em minha agenda pessoal: “talvez hoje seja o dia...”. Não gosto muito de Charles Baudelaire, mas admito que “As Flores do Mal” é um livro que me enche de curiosidade. E nem sempre há feijão em minha marmita, mas gosto de feijão, feijão faz bem. Ver gente nua também faz bem, quando consensual. Cumprir promessas em que se acredita, idem. Amar ao próximo como a si mesmo é a motivação pertinente ao ela do primeiro parágrafo: estou me remexendo nesta cadeira porque queria estar abraçando alguém. Mesmo que fosse um baudelaireano contumaz!

Wesley PC>

UMA CITAÇÃO PROVIDENCIAL DE FIM DE NOITE:

Numa cena absolutamente genial do filme “O Beijo Diante do Espelho” (1933, de James Whale), um advogado que descobre que sua esposa está tendo um caso, em moldes bastante semelhantes àquele da esposa de seu melhor amigo, assassinada na residência de seu amante, vira-se para uma promotora e lhe pergunta: “tu tens espelho em casa?”. Ela responde: “vários”. Ele retruca: “pois então os esmigalhe. Tu serás bem mais feliz depois disso!”.

Não concordo completamente com esta frase, mas no contexto em que foi dito, ela combina muito bem com a situação conjunta de enfrentamento das agruras do ego que vivencio ao lado de um amigo cerceado por dúvidas e necessidades psicofisiológicas cada vez mais prementes. Preciso fazer com que ele tenha acesso aos filmes do genial James Whale o quanto antes. O cheiro da madrugada urge!

Wesley PC>

quinta-feira, 29 de março de 2012

“O ANEL QUE TU ME DESTE ERA VIDRO E SE QUEBROU/ O AMOR QUE TU ME DESTE ERA POUCO E SE ACABOU”...

Se o filme que vi ontem à noite assumiu ares de coincidência legítima, a minha experiência matinal com o clássico curta-metragem da Disney “Brinquedos Quebrados” (1935, de Ben Sharpsteen) é o que chamo de coincidência forçada, o que não deixa de ser menos legítima que a anterior. Na trama, um carrinho-de-mão despeja o seu conteúdo num deposito de entulhos: diversos brinquedos quebrados, abandonados por seus donos. Um deles percebe que os seus defeitos podem ser consertados e sugerem que todos colaborem entre si, a fim de que eles possam sair em breve daquele lugar sujo. Cantando, eles se ajudam, se consertam, se amam. E, ao final, quando somos conduzidos a imaginar que eles suplicariam novamente a atenção de seus antigos donos egoístas – glupt! – um golpe de mestre. E, assim, a Arte incita à esperança...

Wesley PC>

PARA QUEM JÁ QUIS CHUPAR O RUBEM FONSECA...

O título desta postagem é o que chamamos de “piada interna”. É repetida mais de uma vez no surpreendente filme brasileiro “Histórias de Amor Duram Apenas 90 Minutos” (2009, de Paulo Halm), visto por acaso na noite de ontem. Não suspeitava que seria um filme tão bom, mas a indicação reiterada de um amigo sensível e inteligente me levava a aventar seriamente a possibilidade. Esquematizei a sua audiência ainda na manhã de ontem, quando tive um sonho em que eu era finalmente desvirginado, no caso, pelo vizinho de infância que mais pediu para que eu enfiasse o meu pênis em seu ânus. Apesar de este não ter sido necessariamente o que eu chamaria de um “sonho erótico”, acordei me sentindo feliz. Tanto que senti a vontade absoluta de desejar um BOM DIA a alguns amigos que me cercavam. Mal sabia eu o que se anunciaria da tarde em diante...

Um a um, os meus exíguos planos artísticos e pessoais foram naufragados, cancelados, protelados, destruídos. Fui alvo de contratempos absolutamente dispensáveis, graças à irresponsabilidade contumaz de uma pessoa em que eu insistia em confiar, mas que se mostrou uma criatura absurdamente egoísta e incapaz de admitir com dignidade os seus erros. Alguém que mentiu para mim. Conversei com uma amiga divorciada que, surpreendentemente, me transmitiu o entendimento de que eu necessitava. Dormi com raiva, acordei sentindo ódio, apesar das mensagens de conforto da amiga em pauta. E tudo tinha a ver com o que vi neste quase ótimo e surpreendente filme.

Na trama, Caio Blat (mais atraente do que nunca) vive um aprendiz de escritor de 30 anos que já viveu em Paris e que é casado com uma bela e decidida jovem, interpretada pela deslumbrantemente alternativa Maria Ribeiro. Sabe-se lá por que razão, ele começa a imaginar que sua esposa tem um caso com a melhor amiga argentina, vivida pela sensualíssima Luz Cipriota. A fim de se vingar imaginariamente pelo adultério cometido apenas em sua cabeça, ele resolve ser adúltero. E persegue a argentina de todas as formas, até ser analmente penetrado por ela, graças ao auxílio de um dildo. Mas a narrativa inteligente do filme é repleta de reviravoltas e o que acontece do meio para o final do filme deve permanecer em suspense para quem ainda não viu este intenso exemplar de um bom cinema brasileiro contemporâneo.

Voltando para a situação real que fez com que a experiência de ver este filme fosse mais dolorosamente mimética do que talvez eu estivesse disposto a suportar, eu volto para a situação real que fez com que a experiência de ver este filme fosse mais dolorosamente mimética do que talvez eu estivesse disposto a suportar. E, nesse caso, ainda estou tergiversando em círculos. Senti-me traído, ferido, enganado... Isso dói!

Wesley PC>

quarta-feira, 28 de março de 2012

O SANGUE QUE AINDA HÁ EM MINHAS VEIAS LATINO-AMERICANAS!

Há alguns meses, o mais íntimo de meus amigos portou-se discretamente do filme peruano “Contracorrente” (2009, de Javier Fuentes-León). Confiando plenamente no julgamento dele, nunca tive muita vontade de ver o tal filme. Presumia que o mesmo seria chato, guetificado. Vi que ele seria exibido na noite de hoje, achei o anúncio televisivo bonitinho e resolvi me arriscar. Até vim para casa de ônibus, para ver o filme do comecinho!

Não me arrependi do esforço desprendido: algo na constituição essencialmente latino-americana daquela estória de amor (no sentido jamesoniano do termo, enquanto valorizador extremado do realismo mágico enquanto ferramenta de resistência estética) me fez sentir que o sangue pulsava com um fervor que foi obrigado a permanecer adormecido nos últimos dois dias. Amei o filme. Fui tomado por uma identificação potencial, utópica, transferida em segundo plano. Numa reação muito parecida com aquilo a que chamam amor, em perfeita conexão com o refrão da canção linda que é executada durante os créditos finais: quero que tu sejas feliz, mesmo que não seja comigo”!

Na trama, o pescador Miguel (Cristian Mercado) comemora a gravidez de sua esposa Mariela (Tatiana Astengo). Eventualmente, ele é convidado para encomendar os defuntos de sua vila natal ao mar. Descobrimos, aos poucos, que ele alimenta um caso passional com um fotografo que conhece desde a infância. Ele não admite que é homossexual. Talvez nem seja o caso, nem é necessário. E ele está feliz, pois sua mulher está grávida – e é um menino. Contingências fazem com que o fotógrafo se afogue e, depois de morto, seu avantesma começa a se manifestar para Miguel, apenas para Miguel, em momentos que podem ser tão inconvenientes quanto o ato de mamar no peito da esposa prenha, que se questiona acerca de sua fealdade materna imaginária. Até que descobrem um quadro em que Miguel fora pintado nu... E eu me vi transportado para a tela, completamente apaixonado pelo que via, ouvia, sentia e, principalmente, desejava.

Apesar de o desfecho do filme não ser de todo original, os caminhos que conduziram até ele me fizeram pensar num cotejo com o clássico “Barravento” (1961, de Glauber Rocha), não somente por causa de sua ambientação praiana de subsistência, mas principalmente por causa do elemento citadino emancipatório, que, se no revolucionário filme brasileiro, aparecia na forma de um treinamento sindical, no filme peruano surge invertidamente como a homossexualidade artística de um morador considerado forasteiro por seus antigos vizinhos por causa das preferências divergentes da maioria da população. Conclusão: fiquei completamente encantado pelo filme. Ele fala diretamente sobre algo que periga acontecer comigo a qualquer momento, sem contar que vai além das taxonomias restritivas que confundem discurso contra-homofóbico com imposição de tendências pré-determinadas de postura sexualista, cumprindo muito bem a pulsão contida em seu título. Além de ser um filme muito bom, veio a calhar!

Wesley PC>

terça-feira, 27 de março de 2012

NA FALTA DE COISA MELHOR, EU DIGO: “ESTOU TENTANDO!”

Dia 02 no grupo de pesquisa: hoje as coisas se definiram a meu favor, enquanto estudante. Perguntei à vice-coordenadora do grupo o que eu deveria fazer aqui, corriqueiramente. Ela explicou que, como as tarefas do grupo ainda não foram definidas em reunião, minha função é utilizar a sala como local de pesquisa. Ou seja, muito cordialmente, ela explicou que tudo o que estava disponível naquele ambiente poderia servir a meus interesses discentes e que, por extensão, eu deveria me sentir confortável enquanto pesquisador, não obstante algumas tarefas mais gerais me serem atribuídas posteriormente. Assim sendo, dedicarei o tempo de hoje à leitura de um livro senegalês que me atrai há algumas semanas e à aquisição de alguns curtas-metragens antigos da Disney que me servirão como entretenimento artístico complementar.

Na foto, “Filhotes de Sereia” (1938, de Rudolf Ising & Vernon Stallings), gracioso desenho animado que, se tudo der certo, verei ainda esta semana, agora preenchida por novas motivações neo-para-empregatícias.

Wesley PC>

segunda-feira, 26 de março de 2012

EM REFERÊNCIA (COMEDIDA) AOS PROLEGÔMENOS INTERATIVOS:

Hoje, segunda-feira, vinte e seis de março de dois mil e doze, calhou de ser o dia em que recebi as sobras de minha rescisão demissional na empresa em que trabalho, visto que precisei devolver alguns valores monetários por conta de imposições cronológicas intensivas no que tange à minha adesão a uma bolsa de pesquisa no Mestrado. Esta última tem a vinculação indireta a um observatório de imprensa na Universidade em que estudo, cujas atividades laborativas tiveram o meu início oficial na tarde de hoje. Tive os meus primeiros contatos pragmáticos de orientação, já selecionei alguns textos-chave acerca do meu tema de estudo (as circunvizinhanças estruturais da pornochanchada na primeira metade da década de 1980 no Brasil) e, o mais importante, consegui diminuir a jornada indireta de presença no observatório que havia sido sugerida por meu orientador. Em outras palavras: consegui êxito em deixar ao menos um dia da semana livre para os meus assuntos pessoais ou designações íntimas de pesquisa. Este dia, aos possíveis interessados, é a quinta-feira. Por ora, continuo adaptando-me ao local onde depositarei muito de meu tempo (não-)livre nos dois anos que se anunciam na aurora de minha jornada de Mestrado. Será que eu já me acostumei a isso?

Wesley PC>

E, ALÉM DE TUDO, JAMES WHALE (1889-1957) ERA BONITO...

Na manhã de hoje, um médico examinava a minha respiração com um estetoscópio quando, de repente, ele se levanta, tranca a porta com a chave, pede que eu abaixe a calça e ergue a minha cueca duas vezes, olhando e tocando algo em minha virilha. Era um exame nulo, com finalidade meramente demissional, mas fiquei intrigado com a naturalidade com que eu suportei este meu primeiro exame envolvendo nudez genital. Por alguns segundos, fiquei excitado, apesar de o médico ser bem mais velho que eu. Quem sabe eu não tenha descoberto uma nova vocação ali?

Como nenhum ato é isolado neste mundo, hoje eu receberei a visita de um amigo, que tem a intenção de me presentear com um DVD contendo vários filmes dirigidos pelo cineasta James Whale, genial artífice hollywoodiano que se aproveitou de filmes genéricos de horror para depositar ali seus gritos de socorro concernentes à incompreensão que sentia por ser homossexual e muito inteligente. No dia 29 de maio de 1957, ele se suicidaria na piscina, num paroxismo de depressão. Tinha 67 anos de idade. E, até hoje, eu sinto por ele. Temo me identificar com seu drama. Deve ser coisa de quem ama...

Wesley PC>

domingo, 25 de março de 2012

“AS PESSOAS COSTUMAM ME DIZER QUE SOU UM CARA LEGAL. AFINAL, DEPOIS DE SER REJEITADO TANTAS VEZES, EU ME TRANSFORMEI NUM ESPECIALISTA EM MÁGOA”...

São pouco mais de 6h da manhã. Dormi após as 2h30’ da madrugada, mas planejava acordar exatamente por esse horário. Não do jeito sobressaltado como atravessei, mas exatamente nesse horário...

Pois bem: às 5h50’, meu telefone tocou. Inconscientemente, eu e minha mãe, ambos ainda sonolentos, sabíamos que era para mim. Dito e feito: era uma grande amiga que já tivera problemas com cocaína e que, no momento em pauta, talvez estivesse enfrentando justamente uma crise relacionada ao consumo (ou à falta de consumo) desta droga. Perguntou-me sobre o sentido da vida e se eu acreditava nas definições aplicadas de Humanismo. Eu disse-lhe que, nos últimos dias, minhas crenças estavam sobremaneira permeadas de academicismo, mas que talvez eu ainda acreditasse no humanismo sim. Não creio mais na crença sobre a crença, apenas. Não sei se ela entendeu o que eu quis dizer, mas me agradeceu por isso. E eu sorri.

Toda essa situação inusitada, apesar de recorrente, pôs em prática as duas referências teóricas que me perseguiam desde a noite de ontem: as conclusões pessimistas do protagonista do filme “Marty” (1955, de Delbert Mann) sobre o mundo de conjunções sexuais ao seu redor; e a tese de Sigmund Freud sobre os juízos de valor dos homens enquanto “diretamente relacionados aos seus desejos de felicidade e, por conseguinte, às tentativas de apoiar com argumentos as suas ilusões”, conforme lemos no capítulo final de “O Mal-Estar na Civilização” (1930), sem dúvida, um dos melhores livros que já li em toda a minha vida. Apesar de discretamente, muita coisa bombástica me aconteceu de ontem para hoje.

Para começar um novo estudo de causa, acrescento que assisti ao filme em questão deitado na cama de uma mulher recém-divorciada, ao lado dela e de mais dois homens apaixonados por ela, enquanto um terceiro homem, seu namorado, enviava-me mensagens de celular chorosas justamente por causa da situação desconfortável para ele. Mais: ele só não terminou imediatamente o relacionamento com ela porque eu estava lá e ele alegou confiar plenamente em mim, mas, daquela noite em diante, ele alegou que não seria mais o mesmo rapaz: hoje parece que ambos estão solteiros. Mais: enquanto tudo isso acontecia, eu me comunicava com um amigo de trabalho que enfrentava uma situação de esmigalhamento namoratório similar à que acontece no filme. Ele está ansioso para beijar a moça por quem se apaixonou – e que parece corresponder ao seu sentimento – mas que está cada vez mais retraída fisicamente em relação a ele, por mais que eu e ele saibamos que ela é acostumada a fazer sexo. E, quando sua mãe lhe pergunta por que, aos 34 anos de idade, ele ainda não se casou, o gordinho Marty responde: “mais cedo ou mais tarde, chega uma época na vida de todo homem ele que ele precisa admitir os fatos: eu não tenho o que as mulheres querem!”. Temo a necessidade de me apropriar pessoalmente desta justificativa um tanto ressentida. Deus do céu, como eu amo esta vida sem sentido!

Wesley PC>