sábado, 28 de abril de 2012

“TANTAS CORES, TANTA GENTE BEM-VESTIDA... TUDO TÃO LINDO!”

Dormi me sentindo triste e desiludido. Tive um sonho que parecia contente, no qual eu me envolvia com um rapaz comprometido. Acordei me sentindo triste, desiludido e traiçoeiro, uma hora e meia após o horário em que eu havia me programado para despertar. Nada demais... Pus os óculos no rosto, liguei a TV e vasculhei os canais, sem buscar nada específico. Deparei-me com uma rapariga indiana jogando futebol entre rapazes descamisados. E, assim, não apenas eu vi “Driblando o Destino” (2002, de Gurinder Chadha) como gostei bastante, me surpreendi ao ser “consolado” pelo filme: quer dizer que é assim que as coisas funcionam?! 

Na tarde de ontem, fui verbalmente açoitado por um professor, visto que, segundo ele, eu não sei distinguir os filmes da realidade. Não vou questionar isso, nem me preocupei em me defender ou contra-argumentar por muito tempo. Ele disse que eu escrevia como um louco (em todos os sentidos do termo). Eu aceitei isso como um corolário. E, vendo o filme, fiquei imaginando como eu seria hoje se tivesse visto aquilo aos 15 anos de idade: uma menina que desafia os valores culturais de sua família para seguir o sonho de ser jogadora de futebol, outra que tenta demonstrar a sua mãe rica que não é lésbica, um terceira perguntando para a irmã mais nova se ela não sonha em se casar e ser feliz como ela... E eu esperando o momento de comer a deliciosa lasanha que minha mãe preparou. Não sei distinguir mesmo!

Wesley PC>

sexta-feira, 27 de abril de 2012

SONHO (ERÓTICO) REPETIDO!

Eu estava quase adormecendo quando optei por assisti ao filme brasileiro “A Menina e o Estuprador” (1982, de Conrado Sanchez) na TV. Apesar do título apelativo e dos primeiros minutos não-convidativos de trama, decidi ver o filme até o final porque ele era curtinho e, afinal de contas, tinha muito a ver com o escopo de minha pesquisa de mestrado. Aos poucos, entretanto, a concepção abobalhada do personagem Arlindo (Léo Magalhães), obcecado pela intocada Vanessa (Vanessa Alves), que quase toda noite sonha ser estuprada pelo mordomo Pedro (Zózimo Bulbul), me excitou – no sentido mais forte do termo: por mais reducionista, apelativa e pornográfica que seja a simplificação freudiana da trama, eu me identifiquei deveras com o mal-estar civilizatório da protagonista. Ao final, aquilo que parecia lixo sub-aproveitável no primeiro terço tornou-se um de meus filmes psicanalíticos favoritos: a vida dá mesmo muitas voltas!

Dentre as cenas que me fizeram ficar apaixonado pelo filme – irregular e mal-feito até o talo! – está aquela em que a protagonista se imagina deflorada por dois trabalhadores braçais, que esfregam o sangue que escorre da vagina dela por todo o corpo. Na trilha sonora, uma versão instrumental alucinante de “Another Brick in the Wall”, do Pink Floyd. Noutro momento, uma música composta por grunhidos e acordes altissonantes de piano serve de trilha sonora para as consultas psicológicas atemorizantes de Vanessa, que é perseguida sexualmente por seu analista. As inserções de uma seqüência explícita de felação e de uma cena interrompida de masturbação masculina contribuíram para que o filme fosse efetivo no que tange à minha excitação erotógena, visto que, nesse tipo de filme, quando artistas como Ody Fraga, Jean Garrett ou David Cardoso não estão por trás das câmeras, um moralismo canhestro disfarçado de exploração indébita da nudez feminina costuma entrar em cena e me irritar politicamente. Não foi o que aconteceu neste filme, em especial, na segunda metade: reflexões pertinazes sobre impotência sexual masculina e bloqueio penetrativo feminino me tomaram subjetivamente de assalto, obrigando-me a repensar meus traumas, tabus e bloqueios eróticos. Noutro momento inspiradíssimo do filme, por exemplo, a protagonista passeia por zonas industriais e descamba em bairros proletários, numa clara demonstração de que não somente o diretor do filme conhece o cinema de Michelangelo Antonioni como, com certeza, ele deve ter visto e se inspirado em “A Noite” (1961).

Estou surpreso com o filme, absolutamente chocado: como eu posso gostar tanto de um filme que eu sei que é ruim?! Simples: libertando-me de grilhões valorativos construídos e repisados por um esquema industrial capitalista que fetichiza e espetaculariza até mesmo a padronização dos devaneios sexuais mais íntimos. Intuo fortemente que hoje serei afligido por meu pesadelo sexual recorrente, em que observo um dado rapaz banhar-se diante de mim, mas sendo interrompido nesta contemplação voyeurística elementar pelas mais diferentes contingências, que redundam num incomodo (porém bem-vindo) despertar. Boa sorte para mim e para o rapaz dos meus sonhos, portanto. Aliás, por falar nisso, quem sabe um dia eu não tenha a sorte de sorrir, depois de um ato sexual com penetração, tal qual a redimida personagem de Vanessa Alves na cena final do filme, na qual cochilei, mas logo pude resgatá-la, isoladamente, num ‘site’ voltado à pornografia comercial? Como diz um sensível amigo meu, ressignificar é preciso!

Wesley PC>  

PARECERIA CONFIÁVEL SE EU DISSESSE AQUI QUE DESEJO FICAR CALADO?


Apesar de ter a impressão de que meu telefone celular vibrava a cada vinte minutos, até que não sofri tanto de abstinência por causa da decisão de não utilizar este aparelho imprescinível de comunicação nas 24 horas referentes a esta quinta-feira: senti falta de conversar com meu amigo neo-goiano, li bastante sobre Economia Política do Cinema (sim, escreve-se muito sobre isso!), fui ao cinema e vi um filme que cri que não gostaria tanto e experimentei um refrigerante acusado de estar "com gosto de remédio" na casa de alguns vizinhos. Na vida real, rapazes dizem "não", conforme percebe-se no espevitado curta-metragem francês "O Beijo" (2007, de Julien Eger), sobre um belo guri bruto - vivido pelo tesudo Florent Arnoult - que se apaixona pelo rapaz louro com que contracena uma cena romântica por acaso. Mas ele faz questão de advertir: "eu estava apenas atuando...". E, mais uma vez, comerei pipoca diante da TV: dessa vez, assistindo a um filme nacional sobre uma moçoila que se imagina sendo constantemente estuprada pelo mordomo. Amanhã pela manhã, eu ligo o celular...

Wesley PC>

quinta-feira, 26 de abril de 2012

GRAÇAS A PELO MENOS UM, EU ENFRENTEI!

Agora que a quarta-feira já passou, o meu dia favorito da semana, posso admitir que sobrevivi. Senti-me muito triste e vazio no dia de ontem, o que já não é novidade para quem acompanha este ‘blog’. Tais sentimentos tornam-se triviais,de tanto que se repetem no enfrentamento das agruras da contemporaneidade. Para mim, que sou viciado em projeções e expectativas crassas, os efeitos são ainda mais violentos. E ontem eu sofri. Não sabia como utilizar o meu tempo, para além do conselho certeiro de meu melhor amigo neo-goiano: “estude!”. Em dado momento, resolvi caminhar. Fui até a universidade em paralisação, ouvindo o mais recente disco do Rufus Wainwright, que não é necessariamente bom (pelo menos, não em audições iniciais), mas possui pelo menos um grande clímax, a faixa 07, “Bitter Tears”:

“Choking on my bitter tears
 My bitter tears 
Only thing I don’t fears you 
Don’t want you to see my tears 
My bitter tears 
Only thing I fear is my tears
 Heavens how it’s going to rain 
Is this the same 
Heavens with the bright blue skies 
Driving at the crack of dawn 
Looking away trying to hide my bloodshot eyes”… 

 E, com esta canção, eu me deito sorrindo… Ou quase. Minhas costas estão despelando, por causa do sol excessivo a que me expus no sábado pela manhã, quando estive numa praia. Viver tem conseqüências: ainda bem! Por causa de algumas dessas conseqüências, inclusive, passarei as 24 horas desta quinta-feira com meu telefone celular desligado. Depois eu explico o porquê.

Wesley PC>

quarta-feira, 25 de abril de 2012

“FOI BOM, MAS NÃO É AMOR!”

Assisti a dois filmes com ou sobre ciganos no dia de hoje. Não foi programado, simplesmente aconteceu. No primeiro filme, um andarilho apaixonado pela filha de um caipira o presenteia com ouro, mas ele rejeita, dizendo que não há riqueza no mundo que pague as lágrimas de sua filha. No segundo filme, o sobrinho deficiente de um cigano cujo irmão fora jurado de morte por uma família rival descobre o sexo ao lado de uma bela prostituta catalã. O título desta postagem condiz com a sua apreciação da primeira vez sexual. E, ao final, conclui-se que, para pessoas como eles, não há lugar, paisagens nem pátria...

Apesar de meu bizarro sedentarismo, me identifico com esse tipo de personagem. Talvez minha alma seja nômade, meu desejo viandante. Eu amo, eu aceito, eu cerceio, eu imponho a contradição e me vejo diante dela. Fiquei agoniado na tarde de hoje: sonhei que um rapaz com sífilis tem sua cabeça atropelada por um automóvel enquanto brigava com meu irmão. Atormentado por ter visto a sangrenta cena, decidi ajudar uma de minhas professoras de graduação a vender CDs alternativos em frente a seu apartamento. Numa torre bastante alta, o marido dela – que era, na verdade, alguém que eu anseio por ver nu – banhava-se. Na escuridão, eu subia as escadas circulares, guiado pelo anseio voyeurístico e pelos ruídos aquáticos que escorriam pelo chuveiro. Acordei assustado. Eu sou cigano!

Wesley PC>

E, ENQUANTO OS PERSONAGENS DE VERA FISHER E JOÃO JOEDES FAZEM SEXO DURANTE UMA PROCISSÃO RELIGIOSA, EU PENSO EM SENSUALIDADE EPISTEMOLÓGICA...


“Se dar início a uma tendência nova equivale a dar um passo que nos afasta da evidência, se qualquer idéia pode apresentar-se como plausível e receber apoio parcial, então o passo atrás é, em verdade, um passo à frente, a romper com a tirania de sistemas teoréticos bem coligados, altamente corroborados e deselegantemente apresentados”.

Assim sintetiza Paul Feyerabend, no décimo segundo capítulo de seu antológico “Contra o Método” (1975), o tipo de juízo de valor que me toma de assalto agora, quando me vejo apaixonado por um ótimo filme do Braz Chediak inclementemente avacalhado pela crítica. Se eu já cria antes que trair diz muito mais respeito à formulação de mentiras do que ao uso libertino da carne humana, redobro a minha argumentação: tenho argumentos bastante historicizados para tal. Sou desses que amam, insisto!

Wesley PC>

terça-feira, 24 de abril de 2012

APENAS UMA CANÇÃO DESTE DISCO NÃO FOI COMPOSTA PELO TOM WAITS. ISSO É UM PROBLEMA?

Com exceção da sexta faixa, “Song for Jo”, as demais canções do disco “Anywhere I Lay My Head” foram compostas por Tom Waits e sua esposa Kathleen Brennan. Apesar disso, a homenagem musical da atriz Scarlett Johansson ao grande trovador estadunidense é sincera e coerente. Para falar a verdade, incomoda-me que a voz dela esteja sempre distante, como se competisse com os acordes singelos, mas, na faixa 03, “Falling Down”, que conta com a participação vocal de David Bowie, isso funciona muito bem! O mesmo pode ser dito para a faixa 09, “I Don’t Wanna Grow Up”, mais dançada, eternizada nas vozes de The Ramones, mas simpaticamente sussurrada pela bela loira que protagoniza esse disco. A faixa instrumental de abertura, “Fawn”, também é um pitéu. Mas, no geral, será que o disco engrena?

“Anywhere I Lay My Head”, também o título da quarta faixa do álbum, é um disco pulcro, mas, ainda assim, cansativo. Ou seria melhor dizer que é um disco tendente a chato, mas, ainda assim, fofíssimo? Estou ouvindo-o enquanto escrevo esse texto e acho-o deveras recomendável, ainda que seja obrigado a dizer que, como cantora, Scarlett Johansson é uma excelente atriz. E isso está longe de ser um demérito comparativo!

Wesley PC>

E, POR UM TRIZ, EU NÃO ASSISTI A UM FILME DO ALEKSANDR SOKUROV ENQUANTO COMIA PIPOCA...

Quando eu era adolescente, era comum fantasiar sexualmente com meu pai desconhecido. Imaginava que ele não seria tão mais velho que eu e, quando finalmente nos conhecêssemos, ele compensaria a ausência com muitas ereções e ejaculações. Para minha própria sorte trágica, nunca conheci o meu progenitor: até hoje, não sei o que herdei dele...

Na tarde de hoje, enquanto analisava o conteúdo de um DVD repleto de filmes homoeróticos, deparei-me com um filme chamado “Pai e Filho” (2003), do hermético diretor russo Aleksandr Sokurov. Meu espanto foi imediato: como um cineasta tão influenciado, formal e conteudisticamente, por Andrei Tarkovsky poderia engendrar um longa-metragem remotamente interessante para o comumente epidérmico público ‘gay’? Como? Sinceramente, não creio que assistir ao filme tenha me ajudado a responder a esta pergunta, mas, juro, eu tentei!

Não sei o que posso falar sobre a trama do filme: oficialmente, pai e filho militares se conhecem após muito tempo separados um do outro. E, a fim de compensar a ausência, fantasiam sobre o passado e o futuro em que poderiam ou poderão estar juntos. Não raro, eles se abraçam completamente nus, confessando o amor irrestrito que sentem um pelo outro. A trilha sonora de Andrey Sigle irrompe e era como se eu me emocionasse, mas, no plano racional, era como se cada plano do filme apagasse os anteriores de minha memória: eu não consegui reter (e, por dedução, entender e/ou captar) o filme! Terei que vê-lo novamente, depois que receber o veredicto apreciativo do mais confiável de todos os meus amigos, lá em Goiânia. Por sorte, desisti de ver o filme comendo pipoca. No máximo, tomei uma sopa de cogumelos, depois que despertei do sono profundo que a sessão induziu em mim...

Wesley PC>

JAN SVANKMAJER NÃO ME DEIXA SEM ASSUNTO!

Na tarde de hoje, sentei com um prato de comida no colo para assistir a “Jogos Viris” (1988), curta-metragem do tcheco Jan Svankmajer sobre futebol. Ao contrário do viés apologético ou torcedor, comumente associado a este esporte – em especial, aqui no Brasil – o filme mostra esta prática esportiva como sendo algo bastante violento, a ponto de, num dado momento, caixões estarem driblando no meio de campo. E, ao se servir de uma montagem inteligente e de uma trilha sonora sarcástica, o diretor faz-nos rir ao mesmo tempo em que nos conscientiza e nos entretém. Jan Svankmajer não me deixa sem assunto!

Poderia falar sobre o quão contente fiquei ao esfregar sêmen alheio em meu rosto depois de me torturar por 90 minutos diante de uma TV ligada num péssimo programa humorístico em que os cortes de cabelo de dançarinas seminuas eram mais importantes que a inteligência do espectador, mas deixarei este assunto para outra oportunidade, visto que, enquanto esta comemoração felacional era posta em prática, alguém me xingava ao telefone. A pessoa se desculpou no dia posterior, mas a sua argumentação acusatória permanecia tomada pela paranóia dolosa. Viver é também fazer escolhas: Jan Svankmajer sabe bem disso – e faz muita questão marxiana de demonstrar em suas pequenas obras-primas!

Wesley PC>

domingo, 22 de abril de 2012

FILMES QUE VI APÓS O DESLOCAMENTO PRAIANO -II: “XIAO WU, UM ARTISTA BATEDOR DE CARTEIRAS” (1997, de Jia Zhang-Ke)

Com a pele ardendo por causa do tempo excessivo de exposição ao sol, visitei a residência de um rapaz por quem sinto muita atração sexual e um amor insuspeito, alimentado ao longo de mais de dez anos de convivência conjunta. Ele estava numa espécie de orgia etílica e apareceu em casa apenas para se perfumar. Talvez transasse com alguma rapariga aquela noite, não sei. Seja como for, ele me cumprimentou, me olhou nos olhos, percebeu que eu dependia dele, mas que, ao mesmo tempo, as necessidades íntimas dele não parecem ter tanto a ver com as minhas quanto eu insisto em sonhar. Despedi-me de sua mãe e voltei para casa, onde descobri que um filme primevo do diretor chinês Jia Zhang-Ke seria exibido na TV. “Ôoooooba!”, gritei!

 Numa das subtramas de “Xiao Wu, um Artista Batedor de Carteiras” (1997), o protagonista interpretado por Wang Hongwei descobre que seu melhor amigo de infância, agora convertido num empresário bem-sucedido, iria se casar e não o convidou para a cerimônia. Ambos eram ladrões na juventude, mas um deles mudou de vida, foi reabilitado pelo capitalismo. Com o orgulho ferido, Xiao Wu decide presentear o seu amigo com algo: segurando um isqueiro que toca uma melodia beethoveniana sempre que aceso nas mãos, ele embrulha uma dada quantia monetária e entrega ao empresário, que, hipocritamente, o recusa, por alegar que se trata de “dinheiro sujo”. Dali por diante, Xiao Wu tentará desenvolver um arremedo de relacionamento amoroso com a prostituta que exige que ele cante algo ao lado dela num karaokê. Ela adoece. Ele ensaia uma canção enquanto se despe num salão de banhos abandonado. E, ao redor dele, tudo se transforma: a globalização chega de forma impositiva, fechando os estabelecimentos comerciais da pequena cidade onde Xiao Wu mora. Não tardará para que ele seja preso...

 Enquanto imaginava o que responder quando me perguntassem se a minha pele estava ardendo (“o que são as dores do corpo frente à agonia da alma?”), percebia-me pungentemente afetado pelo filme, absolutamente genial em sua concatenação discursiva entre o desenvolvimento da infelicidade de um personagem em particular e a desilusão em larga escala de uma nação. Gritei novamente: “Obra-prima”! E, depois, dormi.

 Wesley PC>

FILMES QUE VI APÓS O DESLOCAMENTO PRAIANO - I: “UM GAROTO NA MULTIDÃO” (1976, de Gérard Blain)

Nesta manhã de sábado, enfrentei ônibus abarrotados de gente mal-humorada para chegar até uma praia, onde havia combinado uma manhã de entretenimento com pessoas queridas que, até o mês passado, trabalhavam comigo. Após quase duas horas de tortuoso percurso veicular, cheguei à tal praia e não me arrependi de ter optado por este programa (in)usual de feriado. Por volta das 16h30’, estava de volta à minha casa e, enquanto jantava, recebi mensagens de meu melhor amigo, dizendo que estava submetendo o seu sábado a uma maratona de filmes homossexuais. Ele perguntou o que eu estava fazendo e, enquanto respondia, pensava em qual filme veria naquele final de tarde. Terminei adormecendo, o que é comum para quem volta da praia. Adormeci e, três horas depois, assisti a “Um Garoto na Multidão” (1976, de Gérrad Blain), pensando se tratar de um filme sobre homossexualismo adolescente bélico. Continuo sem saber direito se o filme é sobre isso ou não...

 Apesar de ser um filme tipicamente francês, em seu enredo sobre as contradições emocionais de guerra, e de não ter me empolgado pessoalmente, justamente por conta disso, a composição do protagonista é muito emocionante em sua sutileza emocional. O garoto Paul sente que não é suficientemente amado por sua família, o que é verdade: seu pai abandona a família e sua mãe e sua irmã mais velha estão preocupadas em arranjar dinheiro para sobreviver. Solitário, Paul adapta a este contexto de oportunismo bélico e estabelece relações de aproveitamento material e sentimental com soldados alemães, norte-americanos e franceses no contexto de mobilidade diplomática que o circunda. O homossexualismo é um fator sub-reptício, não mostrado explicitamente no filme, mas sim por vias sub-reptícias e dolorosas em sua conotação de carência íntima, de complemento vicário para o despertencimento societal e familiar que assola Paul.

 Ao término da sessão, disse a meu amigo que, por ser bastante similar a filmes congêneres franceses, “Um Garoto na Multidão” não havia me empolgado enquanto filme. Hoje pela manhã, penso de outra forma: a sutileza impressionante da composição do protagonista infantil é perturbadora. Hoje eu gosto bem mais do filme do que ontem. Talvez se eu revir o filme com legendas e menos expectativas homoeróticas, perceba que ele possui muito a oferecer em seu discurso apologético à singularidade. Deixo aqui um compromisso futuro, portanto.

 Wesley PC>