sábado, 19 de maio de 2012

“A SELVA, ELA PODE TE MATAR, CARA!”

Após seis anos de relutância, finalmente assisti a uma experiência hollywoodiana do diretor Werner Herzog. Quando eu soube que “O Sobrevivente” (2006) seria exibido na TV, hoje cedo, fiz questão de convidar minha mãe para vê-lo comigo. No prólogo do filme, bombas explodem na floresta, ao som da inebriante música de Klaus Badelt. Diante daquela imagem, minha mãe exclama: “que bonito isso! É o Vietnã?”. Sim, era...

A exclamação interrogativa de minha mãe fez despontar aquilo que era, simultaneamente, o meu maior receio e maior esperança em relação ao filme: a vinculação entre seu argumento bélico e aquilo que foi muito bem resumido por uma amiga como sendo o traço mais marcante do estilo do diretor, a análise conflituosa entre os estados natural e cultural de um indivíduo. Aos poucos, conforme o título desta postagem indica, tornava-se evidente que Werner Herzog gozou de liberdade estilística ao engendrar o filme, posto que, entre outros detalhes, o roteiro era de sua autoria, baseado, inclusive, num documentário que ele realizou a partir de depoimentos do personagem real, em 1998, que eu não conhecia: “O Pequeno Dieter Precisa Voar”.

 Numa bela e cruel cena deste filme mais recente, um garotinho laosiano brinca com um zangão preso a uma corda, diante do rosto do personagem de Christian Bale, que desfalecera ao ser aprisionado por vietcongues. Diante do aprisionado, uma imensa borboleta de asas amarelas repousava sobre a perna de seu algoz. Na cena seguinte, o protagonista seria amarrado de ponta-cabeça, com um vespeiro colocado frente a seus olhos. Minha mãe sentia compaixão de seu estado físico, enquanto eu percebia que, mais uma vez, o diretor serviu-se muito bem de uma história verídica para inocular-nos com seu elogio perene ao elã humano, demasiado humano. Gênio!

Do meio para o final do filme, o interesse acerca de sua trama declina: o encontro do protagonista com outros prisioneiros, numa espécie de campo de contração no Laos, não me pareceu tão interesse quanto o início. No quartel final do filme, em que o personagem principal faz jus ao título nacional do filme e tenta sobreviver numa floresta de monções, minha mãe ameaçou abandonar a sessão, com nojo da cena em que ele morde uma serpente viva. Apesar de, no geral, “O Sobrevivente” ser apenas um filme mediano, ele não traiu os pressupostos fílmicos que Werner Herzog construiu ao longo de sua singular carreira, que beira a antropologia nietzscheana. Valeu a pena ter enfrentado a minha relutância pré-conceituosa acerca de sua (afinal, não confirmada) rendição a Hollywood. Ufa!

Wesley PC>

sexta-feira, 18 de maio de 2012

“TENHA CUIDADO COM QUEM TU FAZES SEXO. NÃO APENAS POR CAUSA DAS DOENÇAS, MAS PORQUE ELE AFETA AS EMOÇÕES DE MANEIRAS QUE TU JAMAIS PODERIAS SEQUER PRESUMIR”

Apesar de não ter mencionado a faixa 04, “Never Let Me Go”, no texto de Fotolog em que demonstrei o arrebatamento inicial pelo recém-baixado “Ceremonials” (2011), disco mais recente do Florence + The Machine, esta canção tornou-se uma de minhas favoritas à época (ao menos, no plano anglofílico), justamente por causa da leveza exaustivamente repetida de seu refrão monofrasal. Poucos dias depois, li uma resenha que elogiava as surpresas contidas no romance “Never Let Me Go”, escrito em 2005 pelo escritor japonês naturalizado britânico Kazuo Ishiguro. A coincidência positiva do título deixou-me bastante curioso acerca do conteúdo do mesmo, de modo que logo me adiantei em pedir ao autor da resenha – à época, vivendo nos EUA – que me emprestasse o referido livro. Dito e feito: tão logo ele regressou ao Brasil, recebi uma mensagem de texto comunicando-me que, se eu quisesse, o livro já estava disponível para minha leitura sequiosa. Adiantei-me em encerrar o romance senegalês que me possuía há alguns meses e esperei o momento adequado para mergulhar no pitoresco universo ishiguriano, que inclui títulos tão díspares quanto “Os Vestígios do Dia” e “Quando Éramos Órfãos”.

 Tal momento veio inicialmente na forma de um cartaz estendido em frente a uma locadora de DVDs. Um filme chamado “Não Me Abandone Jamais” (2010, de Mark Romanek), sobre o qual ainda não havia ouvido falar, estava sendo ofertado. Achei o título nacional parecido com o livro que eu tencionava ler em breve e resolvi ligar para o emprestador do mesmo, comunicando a minha “descoberta”. Tratava-se, de fato, de uma versão cinematográfica para “Never Let Me Go”, o qual não era apenas conhecido pelo meu interlocutor telefônico, como este conhecia detalhes sobre a equipe técnica e antecipava-se em declarar que não assistirá a este filme. No final de semana seguinte, o mais irmanado de todos os meus amigos intima-me a ver o tal filme, dizendo que ficou bastante reflexivo após a sessão, que o roteiro é absolutamente urgente e que eu deveria parar de ignorar suas indicações, chantagem emocional branda que servia como transmutação discursiva para o apelo “eu preciso conversar sobre isso contigo o quanto antes!”. OK”, eu disse. “Mas tenho que ler o livro antes!”.

 E, assim, na manhã de ontem, quinta-feira, dia em que foi iniciada a greve dos professores da Universidade Federal de Sergipe, li a primeira página do livro. Hoje, tarde de sexta-feira, estou prestes a iniciar a centésima quadragésima sexta. Li doze capítulos, portanto, de um livro cujas reviravoltas são anunciadas a conta-gotas. Sei que o foco tramático inicia-se no âmbito da ficção científica, mas que será gradativamente transferido para o elã nostálgico, de modo que sinto que me identificarei deveras com os sentimentos compartilhados pela narradora Kathy H., uma “cuidadora” que lamenta a perda de seus melhores amigos Ruth e Tommy, ambos designados como “doadores”. Aprioristicamente, estes termos não fizeram muito sentido (pensei que Kathy fosse uma atendente de Legião da Boa Vontade, por exemplo), mas, no sétimo capítulo, uma “guardiã” do colégio onde os personagens estudaram, na adolescência, faz uma bombástica revelação: “suas vidas já estão decididas. Vocês se tornarão adultos e, antes que envelheçam, vocês começarão a doar seus órgãos vitais. Vocês foram trazidos a este mundo com um propósito, e seus futuros, todos eles, já foram decididos. Li este conjunto de sentenças num ônibus, e precisei respirar fundo antes de continuar...

 Mas o detalhe que mais me chamou a atenção, até agora, na leitura foi justamente a explicação do título: no romance, “Never Let Me Go” é o nome de uma canção interpretada pela cantora fictícia Judy Bridgewater, contida no disco “Songs After Dark”, que é o preferido da protagonista/narradora quando jovem por causa não somente da sonoridade deste verso, mas, principalmente, por causa do cigarro exibido na fotografia da cantora, elemento absolutamente proibido (até mesmo no que concerne a citações culturais) no ambiente estudantil em que ela freqüentava. Kathy gostava tanto dessa canção em particular, a terceira do disco, que costumava dançar à noite, ao som dela, cantarolando os versos como se segurasse um bebê nos braços. Uma das guardiãs a flagra dançando e diz que ela deve abandonar os instintos maternos, pois adolescentes como ela – criadas para serem “especiais” – jamais poderão ter filhos. Ela não entende o que isso quer dizer, mas deseja guardar a fita cassete que contém a canção como objeto carinhoso de fetiche. A fita some. Sua melhor amiga a presenteia com outra fita, supondo que ela gostaria das canções para baile ali contidas, mas ela desgosta. Finge apreciar por respeito a sua amiga. E, no final do sexto capítulo, Kathy escreve: “Ainda a tenho [esta fita] até hoje. Não costumo executá-la muito, pois as músicas não têm nada a ver com nada. É um objeto, como um broche ou um anel, mas, especialmente agora que Ruth se foi, ela se tornou uma de minhas posses mais preciosas”. E, com esta passagem do livro, não preciso acrescentar o quanto ele tende a me afligir pessoalmente...

Estou no meio ainda: faltam 142 páginas. Que venham!

 Wesley PC>

PRIMEIRAS IMPRESSÕES ESPECTATORIAIS SOBRE AQUILO QUE COSTUMAM CHAMAR DE GÊNESE DO ‘FREE CINEMA’...

Ou: que bom que eu finalmente conheci o John Grierson! 

Na noite de ontem, assisti ao seminal documentário “Drifters” (1929), do documentarista John Grierson, responsável pela consolidação de uma escola pungentemente realista no cinema britânico. O título do filme, entretanto, já evidencia que ele não se submeterá a uma mera “observação da realidade”, como definiriam alguns classificadores imediatistas. John Grierson estabelece um ponto de vista sobre o que vê, o compartilha conosco e nos convida à crítica dialogística.

 Oficialmente, a “trama” do filme está focada na viagem de alguns pescadores de arenque do Mar do Norte, que, apesar de viverem num lugarejo com estrutura medieval, submetem-se a uma “épica jornada de vapor e aço”, em que as conseqüências da Segunda Revolução Industrial interferem diretamente em seus métodos de trabalho. Num filme pusilanimemente convencional, veríamos apenas a pesca. No filme griersoniano, há um arremedo de ficção emergindo na montagem, sempre que podemos comungar do contracampo correspondente ao que o piloto de uma embarcação vê quando anuncia uma tempestade vindoura ou quando soubemos que tubarões cerceiam os cardumes desejados pelos pescadores “à deriva” do título. E não é só: para além, muito além, de sua questionada objetividade, o filme enfia o dedo na ferida daqueles que aceitam acriticamente as mazelas disfarçadas no elogio aos métodos empregatícios que empregam adequadamente novas tecnologias. Para mim, que sou vegetariano, aquelas toneladas de peixes mortos que são levados dos “mais distantes mares aos confins da terra” não me parecem positivamente valorativas. Elas estão muito mais voltadas para o interesse comercial do que destinadas à saciação da fome alheia. E o filme não apenas sabe disso como demonstra isso. Mas existe quem não queira ver. E, mesmo assim, o filme funciona muito bem: ele é genial sob qualquer prisma avaliativo. Não é preciso muito para ser tornar fã do John Grierson!

Aproveitei a deixe e assisti a outros filmes produzidos por este diretor (inclusive, um ensaio de obra-prima dirigido pelo brasileiro Alberto Cavalcanti), mas a emoção atrelada a esta tão aguardada sessão de “Drifters” permanece soberana: quanta beleza, quanta tristeza, quanta capacidade adaptativa, quanta consciência histórica, quanta genialidade!

Wesley PC>

quinta-feira, 17 de maio de 2012

AFINAL, AGORA SEI O QUE SIGNIFICAM ‘CHEMINOTS’, ‘JAMBES’ E ‘SALAUD’! (E COMPREENDO QUE “MAIS FELIZ É AQUELE QUE COMBATE SEM ÓDIO”)

Para além dos diversos acontecimentos dignos de nota que aconteceram comigo e/ou ao meu redor nesta quarta-feira, arrisco-me a sintetizá-los no meu contentamento por finalmente ter conseguido terminar a leitura da edição francesa do romance senegalês “Os Pedaços de Madeira de Deus” (1960), de Ousmane Sembène, sobre o qual eu me debruçava há mais de quatro meses. Apesar das várias dificuldades de compreensão idiomática que experimentei, creio que teria os mesmos problemas de compreensão se tivesse lido este belo romance em minha língua natal: afinal de contas, o modo como o genial autor estrutura a sua narrativa é demasiado complexo. Dezenas e mais dezenas de personagens ganham vida ao longo de três cidades (Bamako, Thiès e Dakar), uma situada em Mali e as outras duas no Senegal, sendo que ambos os países conquistaram a independência em relação à França no exato ano em que o romance foi lançado...

Apesar da coincidência, o filme já estava escrito em 1959 e os eventos descritos são uma ficcionalização de uma imponente greve de ferroviários ocorrida entre 10 de outubro de 1947 e 19 de março de 1948, no Senegal. Ousmane Sembène, obviamente, toma pleno partido de seus personagens grevistas, mas sem particularizá-los em demasia: não obstante algumas pessoas serem bastante destacadas em relação a outras, o que interessa ao autor é o papel social que cada uma delas desempenha, o que torna ainda mais hermética a leitura, visto que nomes como os dos militantes Bakayoko, Boubacar, Samba N’Doulougou e Sounkaré misturam-se aos dramas de mulheres fortes como Penda, Fatoumata, Maimouna, Ramatoulaye e N’Deye Touti, além da pequena Ad’jibid’ji. Em outras palavras, foi complicado memorizar tantos personagens, tão igualmente relevantes em sua importância coletiva quanto nomenclaturalmente complexos em sua ascendência muçulmana. Mas é um ótimo livro, insisto!

 Dentre os episódios que mais me impressionaram, em seguida à deflagração da greve de ferroviários e suas conseqüências familiares imediatas, destacam-se: os diálogos entre a curiosa Ad’jibid’ji e sua avó Niakoro Cissé acerca daquilo que "poderia lavar a água" (resposta: o espírito, que é muito mais límpido do que ela); o impressionante episódio das mulheres que marcham a pé de Thiès até a capital Dakar, conduzidas por Penda, “a mulher de vida fácil”, porém bravia e decidida; e os embates entre sindicalistas e patrões, marcados por um triplo choque de interesses classistas, raciais e nacionais. Mas, dentre as 379 páginas da edição que estava em minha mão, uma longa citação merece ser destacada em seu idioma original:

Et maintenant, rentre, Bakary m’a dit l’autre jour que tu n’avais pas de coeur. Parfois, je pense comme lui. Peut-être faut-il des hommes comme toi. Et puis c’est difficile de combattre sans avoir la haine de son enemi. Comme j’ai du temps pous lire, essaye de m’apporter des livres, des romans pas trop sensibles mais pas trop durs, et surtout des livres qui parlent de la vie des hommes des autres pays(p. 348).

Na trama, esse texto é parte de uma carta que o grevista Ibrahima Bakayoko recebe de seu amigo Lahbib, reconhecendo os seus méritos impressionantes na condução de uma difícil luta em um país (à época, ainda colônia dependente da França) lancinado por disputas internas, que vão desde a multiplicidade de dialetos locais até divergências acerca da aceitação da poligamia enquanto prática social. Entretanto, estas palavras podem ser extensivamente aplicadas como panegírico ao próprio modo apaixonado com que Ousmane Sembène escreve esta obra densa e prenhe de beleza militante. Ele não transformou a mesma em filme, mas o seu conteúdo tem muito a ver com o brilhantismo de seu egrégio ‘corpus’ cinematográfico, minuciosamente coerente da primeira à última obra.

 Curiosamente, enquanto eu encerrava a leitura, os professores da universidade em que estudo entraram em greve. Na sala de aula do Mestrado, foi realizada uma votação discente para saber em que sentido, nós, alunos, demonstraremos o nosso apoio às reivindicações (prioritariamente salariais) dos mesmos. Malgrado discordar de muitos aspectos de uma greve que, para ser funcional, deve ser prejudicial, eu assumi-me favorável à decisão dos professores. Votei contra o que a maioria de minha classe queria, mediante convencimento plausível de um rapaz partidariamente politizado que estuda comigo. Mas, na verdade, o que me motivava de verdade, enquanto manifestava meu voto, era a reverberação dos processos dialéticos muitíssimo bem descritos no livro encantatório – apesar de muito difícil – que, finalmente, eu acabava de ler... “Os Pedaços de Madeira de Deus”, enquanto obra de arte superlativa em seus aspectos estéticos, históricos e políticos, mudou o meu modo de encarar a vida!

Wesley PC> 

quarta-feira, 16 de maio de 2012

POIS CINEMA É TAMBÉM SOM, CONFIRMA A VIDA (E VICE-VERSA)!

Depois de um justificado hiato cibernético, venho a público declarar o meu amor pelo documentarista britânico Basil Wright, apadrinhado pelo veterano John Grierson, que, em 1934, realizou uma jóia antropológica chamada “Canção de Ceilão”. A cópia de que dispus estava muito ruim e não apreendi adequadamente o que foi narrado no  filme, mas me encantei pelos segmentos de dança, pela virulência crítica do cineasta, que inicia o seu registro de forma tendenciosamente naturalista (num segmento chamado “O Buda”), avança conscienciosamente pelo documento geográfico expandido (no segmento “As Ilhas Virgens”), surpreende o espectador com a polifonia colonizadora em “As Vozes do Comércio” e restitui a dignidade cíclica de práticas sociais tendentes à derruição pelo capitalismo em “Adorno para um Deus”.

A intenção predominante é mostrar as tradições exóticas de uma comunidade isolada a platéias longínquas, mas o diretor não se prende a isso: ele enfia o dedo nos tímpanos do financiamento fílmico e usa o som como ferramenta discursiva. Tenho que rever este filme o quanto antes, pois tenho certeza de que ele tem muito mais a me dizer do que eu pude perceber neste primeiro contato apaixonado! Oportunamente, “Canção de Ceilão” é um filme que apaziguou o estado afobado de espírito que ameaçava emergir na tarde de segunda-feira, quando me deixei contaminar por postagens assemelhadas a chantagens emocionais: assistir a esta obra de arte equivaleu à resolução do problema então indicado. Cinema é também som, confirma a vida (e vice-versa)!

Quando eu saí do quarto, afoito para escrever algo relacionado à poderosa experiência sensorial em que estive imerso, minha mãe me interpelou para perguntar se eu já havia assistido a um vídeo em que o ator televisivo Sérgio Hondjakoff supostamente havia sido flagrado se masturbando diante da câmera de seu computador. Nem sabia desta nova pseudopolêmica, mas, ainda assim, fiquei curioso e não sosseguei enquanto tive acesso ao tal vídeo. Após assistí-lo, pensei comigo mesmo: por que as pessoas perdem tanto tempo com isso?! Um vídeo banal, corriqueiro, mal-feito, encoberto pelo fetiche de que quem o protagoniza é alguém “famoso”. Sinceramente, isso não me comoveu: estava excitado demais com o que havia visto e ouvido no filme anterior. Basil Wright é um dos nomes que devem ser anotados com cautela em meu caderninho de pesquisas. Afinal de contas, o dito “cinema antropológico” ainda é muito subestimado pelos cinéfilos. Na atual fase de encantamento idílico em que me encontro, “Canção de Ceilão” foi um verdadeiro bálsamo, justamente por não se render ao deslumbramento acrítico. Recomendo-o com paixão!

Wesley PC>

segunda-feira, 14 de maio de 2012

“GREVE NÃO ATRAPALHA NADA. APENAS POSTERGA!”

Assim proferiu um colega de pesquisa há alguns minutos, diante de minha exclamação responsiva à sua empolgação diante da possibilidade quase certa de deflagração da greve dos docentes universitários, a partir do dia 17 de maio, quinta-feira. Meus professores ainda não sabem se esta greve afetará ou não as aulas do Mestrado, mas, para mim, postergar é atrapalhar: não quero ficar enganchado em pendências cronológicas que não foram criadas por mim. Meu Transtorno Obsessivo-Compulsivo não permite!

 Um dos motivos imediatos para a manifestação da preocupação acima é o cumprimento de alguns conchavos estabelecidos entre eu e minha consciência no que tange à organização de algumas metas de leitura (filmográfica, inclusive) concorrentes, visto que a minha promiscuidade de interesses às vezes me deixa confuso acerca do que fazer num dado momento, a ponto de eu precisar recorrer discursivamente ao antropólogo Edward T. Hall e seu elogio à imperfeição necessária de alguns planos, contido num capítulo do livro “A Dimensão Oculta”, lido faz tempo e cuja citação exata eu não consigo recuperar. Em outras palavras: existe algo me agoniando neste exato momento. Algo que eu preciso enfrentar! Talvez ainda hoje eu confesse, caso consiga resolver...

 Wesley PC>

NOTA MENTAL PARA MIM MESMO: “TU NÃO PRECISAS DESPERDIÇAR TUA CORAGEM OUVINDO ESTE DISCO, WESLEY!”

Confirmo agora o que disse antes: ainda não tive o demérito de ouvir uma canção do Justin Bieber até o final. Não sinto um pingo de vontade, aliás, o que me consola, visto que, pelo contrário, me sentia estranhamente compelido a assistir ao documentário em longa-metragem “Justin Bieber: Never Say Never” (2011, de Jon M. Chu), desde que soube de seu lançamento. Nutria tanta vontade de ver este filme que, se ele tivesse sido lançado em cópias legendadas nos cinemas daqui, eu juro que teria visto. Na noite de ontem, saciei este desejo chulo. E, para minha não-surpresa, até que não desgostei tanto do filme...

Apesar do título excessivamente nominal do filme direcioná-lo quase unicamente às fãs do arremedo de artista adolescente que era o imberbe Justin Bieber, o que se descortina ali é a forçada e minuciosa construção de um mito (no sentido mais industrial do termo). Nesse sentido, quiçá por um viés involuntário, não achei o filme de todo ruim: os depoimentos e imagens de arquivo são interessantes, do mesmo modo que é deveras sintomático a pouca importância dedicada às músicas do artista naquela produção. Quase nenhuma canção é executada na íntegra e, quando acontece, os tremeliques do moleque são muito mais importantes que a sua voz em falsete. As letras assumidamente triviais são escandalosamente creditadas a mais de cinco compositores cada uma, o que só demonstra o elemento desmascarado pelo documentário: o aspecto objetal de sua fama, rigorosamente produzida em laboratórios fonográficos muito mais preocupados com a vendagem dos discos do que com a sua qualidade essencial. Por isso, nunca me dispus a ouvir uma canção interpretada pelo Justin Bieber. Tenho medo dele! E isso vai bem além (ou aquém) de sua vilania ‘pop’ sub-involuntária...

Wesley PC>

domingo, 13 de maio de 2012

“TU ACREDITAS NA SORTE VERDADEIRA OU NO AMOR VERDADEIRO?” (OU EXPECTATIVAS SÃO COISAS BARULHENTAS!)


Nos últimos três dias, eu dormi bastante. Não porque me sentisse particularmente sonolento ou cansado, mas por causa dos bons sonhos que inusitadamente eu venho tendo. Na madrugada de hoje, por exemplo, minha decisão onírica de projetar um filme na parede frontal de minha casa ajudou uma vizinha alcoólatra a se livrar de seu vício. Acordei como se pudesse estar contente por debaixo de uma dor de cabeça decorrente do sobejo de sono. Hoje é domingo, dia de muito barulho na rua em que moro!

Por acaso, um mero acaso, sintonizei a TV num canal especializado em telefilmes estadunidenses que comumente me desagradam. Um filme chamado “Te Quero Bem” (2011), dirigido pela femininista (assim mesmo, com uma sílaba a mais!) Allison Anders, estava prestes a iniciar. Gostei tanto do título nacional, que achei que não fosse muito prejudicial assisti-lo. Assim o fiz. Talvez não me tenha feito mal, de fato...

 Na trama, o envelhecido Sean Patrick Flanery tenta se recuperar de uma frustração amorosa (sua namorada fugiu com seu ex-melhor amigo) e dispõe-se a se apaixonar perdidamente por uma loira deslumbrante que caminha sobre uma ponte. Ele espiona suas conversas e pensa descobrir o seu e-mail. Escreve-lhe uma mensagem intrusiva porém sincera, declarando o seu amor, mas confunde as destinatárias. Quem recebe a mensagem é uma colega de trabalho de sua diva, uma mãe solteira interpretada pela simpaticíssima Brigid Brannagh, que se sente desiludida com a falta de amor. Até que um previsível – e, nesse caso, confesso: aguardado – final feliz viesse à tona, muitos desencontros seriam desencadeados, de modo que, pouco a pouco, se percebe que, quando duas pessoas estão destinadas a se encontrar (e, por conseguinte, se apaixonar), elas se encontram – e, quiçá, também se apaixonam. Se eu acredito nesse discurso? Sinceramente, bem que eu queria. Hoje em particular, quando eu quase me sinto contente, eu quero...

Wesley PC>