sábado, 23 de junho de 2012

EM TERMOS DE CINEFILIA, NEM SEMPRE A BELEZA PÕE MESA!

Rodolfo Caleb Casas, o protagonista da produção hispano-cubano-brasileira “A Ilha da Morte” (2006, de Wolney Oliveira) é muito bonito. Muito mesmo! Daqueles rapazes que nos fascinam a cada movimento, a cada gesto, a cada olhar. Porém, enquanto intérprete, ele assumiu uma feiúra absolutamente incômoda: não somente porque o filme é muitíssimo ruim, mas também – e pior – porque é mentiroso em suas intenções nostálgicas e políticas!

Passado em 1958, num pequeno povoado cubano, para o qual a família do protagonista se muda para fugir da perseguição policial, visto que o pai está metido em conspirações revolucionárias. Sua mãe é professora de violino e o filho passa os dias sonhando em se tornar roteirista hollywoodiano. Escreve cartas esperançosas ao produtor norte-americano Samuel Goldwyn e é destratado pelo pai, visto que gasta muito tempo com “essas frescuras de filmes”. Apesar de forçar uma identificação com espectadores apaixonados, o personagem adolescente é pessimamente construído. Numa dada seqüência, por exemplo, o personagem se vê diante de um cartaz de “Os Homens Preferem as Loiras” (1953, de Howard Hawks) como se não tivesse a mínima idéia do que se tratava. Fiz de conta que isto foi uma antecipação de embargo cultural, mas a falácia de minha argumentação defensiva em prol do fisicamente belo personagem não pôde ser sustentada por muito tempo: quando ele redige o argumento do metafilme que intitula a película, não consegui controlar a ojeriza diante daquela perigosa ingenuidade frente à História.

Na trama de “A Ilha da Morte”, o filme dentro do filme, um náufrago se apaixona por uma moçoila que vive numa ilha controlada por um malévolo cineasta que transforma a população do local em zumbis. O diretor queria que se tratasse apenas de um folhetim romântico, mas a platéia se revolta durante a exibição do filme, percebendo elementos de associação com a tirania que cercava o país naquela época. Tudo absurdamente inverossímil, diga-se de passagem, terminando o filme de um modo tão abrupto e imbecil que envergonharia até mesmo os roteiristas das mais comerciais produções constantes das filmografias dos três países que co-produziram este filme. Muito ruim. Mas o rapaz protagonista é lindo. E isto talvez não queria dizer nada... Ou melhor, quer sim: não se deixe enganar pelas pútridas aparências, Wesley! 

Wesley PC> 

sexta-feira, 22 de junho de 2012

TRÊS CONSOLOS FRASAIS E UM POSFÁCIO (OU ADAPTAÇÕES LIVRES DE BERTOLT BRECHT NO BRASIL ME REDIMEM!):


1 – “Não há nada para se entender. Sentimos. Quando entendemos uma estória, é porque ela foi mal-contada!” 

2 – “Alguém me diz que o melhor lugar do mundo não é o túmulo dos nossos pais nem o confessionário de um bordel, mas o melhor lugar do mundo é a privada!”

 3 – “A vida é a vaca que a gente coloca no meio do rio para atrair as piranhas, enquanto a boiada passa”... 

 Em “Canção de Baal” (2008), filme marginal contemporâneo, dirigido por Helena Ignez, Carlos Careqa vive o personagem-título, um cantor bêbado que despeja amor e amoralidade nos 77 minutos de projeção, enquanto mulheres se despem, loucos se apresentam e reconhecem e o mundo faz sentido, no caos gracioso que é a baderna do dia-a-dia. É um filme com problemas e defeitos, mas, como corajosamente se justifica Bertolt Brecht (1898-1957), autor do argumento original, tende a ser revolucionário porque enfrenta algo. E me contemplou: ótimo filme!

Wesley PC>

PODE ME CHAMAR DE MARCELO, QUE EU GOZO E SOFRO!

Walter Hugo Khouri viveu e morreu no Brasil. E foi um daqueles homens que conseguiram alcançar a proeza da imortalidade: a cada filme dirigido por ele a que assisto, sinto-o ao meu lado, confessando-se sob o nome de Marcelo. Na tarde de ontem, foi a vez de “O Prisioneiro do Sexo” (1979), filme que sequer conhecia – e que, de fato, é um filme menor – mas que cativa, encanta, escandaliza e destroça-nos emocionalmente desde a primeira imagem, o bumbum feminino que é fotografado por detrás dos créditos de abertura. Em seguida, uma epígrafe kafkaniana incisiva: “uma gaiola procura o seu pássaro”. E sim, a resposta que eu grito é SIM!

 No filme, Roberto Maya interpreta um publicitário bem-sucedido e casado com a deslumbrante Sandra Bréa. Um dia, ele a convence a aceitar outra mulher em casa. Interpretada pela tímida Maria Rosa, esta nova mulher não apaziguará a fúria sexual (disfarçada ou convertida em impotência vitalícia) do protagonista, que se envolve com sua secretária, com uma empregada da fazenda, com uma amiga estrangeira de sua esposa e, afinal, demonstra estar perdidamente apaixonado por sua filha Berenice, “cujo nome foi extraído de uma poesia de Edgar Allan Poe”. É um filme repleto de cenas de cópula, mas, para cada foda, ouve-se algum personagem se lamentar: “e agora, Marcelo?”. Numa dada seqüência, por exemplo, ele e suas mulheres comemoram o seu aniversário de 46 anos de idade, e, quando alguém pergunta como é envelhecer, ele apenas assevera: “a mesma coisa de sempre, um vazio sem fim!”. Walter Hugo Khouri é dos meus!

Durante a audiência a este filme, eu cochilei. Amedrontado com o que estava por vir, talvez. Na noite desse mesmo dia, eu comemoraria o aniversário de uma das pessoas que mais amo no mundo, uma mulher linda que, nalgum momento, talvez se sentisse tentada a mencionar o vazio que o Marcelo do filme temia e buscava tanto. Para meu consolo e encanto (visto que, na manhã de ontem, enfrentara uma violenta discussão com meu orientador), a festa me fez sorrir e dançar e compreender que nem tudo é como a gente quer, mas sim como a gente precisa. E eu fui feliz ali. E, tal qual a esposa do Marcelo reclama antes de dormir: “hoje eu estou feliz. Talvez amanhã eu não esteja. Há sempre um dia após o outro. E, hoje, eu estou feliz!”. Ponto.

Wesley PC>

quinta-feira, 21 de junho de 2012

/akademya/


“ – Tu escreves bem, dá para perceber a partir da metade, mas, na Academia, tu deves explicitar tuas hipóteses desde o início!”

 Talvez eu não seja claro... É isso? Talvez... Sei que, assistindo ao maravilhoso “Iluminação” (1973, de Krzysztof Zanussi), eu me vi na tela. Por mais que o diretor polonês focalize um contexto comunista em que a opção acadêmica pela Física ou pela Biologia implique condições de angústia bastante específicas, o tipo de enfrentamento que costumo ter com meu orientador de Mestrado me exaspera, em atormenta, me faz perguntar, várias vezes por dia, se estou no caminho certo, se estou a fazer algo em que, não apenas sou bom, mas posso ser bom também. E, quem viu o filme, sabe que, nesse ponto, a minha identificação atormentada é visceral. Estou absolutamente angustiado!

 Wesley PC>

quarta-feira, 20 de junho de 2012

BREVES APONTAMENTOS (NÃO-RESPONSIVOS) SOBRE A FUTURA CONSTITUIÇÃO DE UMA ‘INTELLIGENTSIA’ SERGIPANA – E UMA INTERROGAÇÃO GIGANTESCA SOBRE O PAPEL DA COMUNIDADE GOMORRA NESSE PROCESSO...

Não possuo boas lembranças sobre minha apreciação infantil da telessérie animada “Os Smurfs”. Assisti ontem, por acaso, a um episódio da mesma e achei-o particularmente insuportável em seus estereótipos ideológicos de uma sociedade em que cada personagem possui um papel a desenvolver, papel este cravado em sua própria constituição física: a mulher é o objeto sexual de todos os homens; o que usa óculos é o intelectual do grupo; o mais velho é o sábio conselheiro; o que anda sem camisa é o rapaz dos armengues, etc.. E, tentando destruí-los, o malévolo Gargamel e seu gato Cruel...

 Pensei em escrever algo sobre isso ontem mesmo, quando uma sessão fílmica e um encontro de amigos pensantes num terminal rodoviário acrescentaram novos elementos à minha análise: após o equivocadíssimo filme “Uma Longa Viagem” (2012, de Lúcia Murat), sobre os destinos diametralmente opostos dos dois irmãos da diretora – um, formado em Medicina; o outro, decidido a experimentar todos os tipos possíveis de “expansores do músculo cerebral” – o anfitrião do evento argumentou que “apesar da discussão estética ser interessante, não é isso o que nos interessa aqui” (sic), maneira que encontrou para me alfinetar quando demonstrei publicamente o meu desagrado contra a sua infeliz declaração de que “o uso de drogas pode ser uma fuga, mas é também uma maneira de mudar o mundo” (hã?). Para além de minhas opiniões conservadoras sobre o tema, achei o seu ponto de vista aberrante, de modo que, após alguns instantes, fiquei pensando comigo mesmo porque não evitei me desgastar com o pronunciamento de argumentos discursivos veementemente incompreendidos. Seria mais digno ou interessante deixá-lo falando sozinho? É uma pergunta!

 Após as minhas intervenções polemistas e francamente discordantes no debate, conversei com alguns amigos sobre os perigos e conseqüências de se ficar calado num debate onde as corruptelas pretensamente intelectuais são disseminadas através de microfones franqueados tanto por capital público quanto privado. E eu calado, diante de tudo isso? Não, senhor! Mas... E o desgaste individual, confundido por alguns com vaidade? É um efeito colateral aguardado, acrescentaria. Pretendo voltar a este tema, de forma ainda mais incisiva, mas, por enquanto, deixo Glauber Rocha instigar por mim, através de um artigo bombástico, publicado em 1979, chamado “Fogo na Kultura”: “a esterilidade crítica produz um rigorismo dependente de subjetividades estéticas dialeticamente reestruturadas como camisas-de-força – porque se o crítico ouve o som e vive a fúria, ele se transforma em seu próprio objeto artístico, espermiza a experiência criativa e rompe a explicação do mundo pelo seu sentimento, eterna revelação”. E, assim, eu me submeto ao escárnio coletivo. Pois, ao contrário do que disseram ontem à noite, a Política, mesmo quando individualizada no resgate de memórias ou particularizada no seio de uma família, é sempre de cunho social!

Wesley PC>

segunda-feira, 18 de junho de 2012

TALVEZ UM SUMIÇO (LEIA-SE: JUSTIFICATIVA)...

Nesta tarde de domingo, baixei o mais recente disco da cantora Fiona Apple, “The Idler Wheel Is Wiser than the Driver of the Screw and Whipping Cords Will Serve You More than Ropes Will Ever Do” (2002), lançado oficialmente no último dia 15 de junho. Planejava ouvi-lo com cuidado e resenhá-lo aqui, elogiado desde já o brilhantismo poético e melancólico de seu extenso título, mas, ao me deparar com a faixa de abertura, “Every Single Night”, já lançada como ‘single’, não pude parar de repeti-la. Reproduzi a mesma canção N vezes antes de finalmente ouvir o disco na íntegra, de maneira que não me sinto apto a julgar o disco por inteiro (apesar de também ter gostado bastante da faixa 07, “Periphery”).

Enquanto ouvia pela enésima-primeira vez a referida canção, recebi um telefonema de um vizinho, convidando-me a analisar a seu lado algumas canções de Luiz Gonzaga. “Vixe, como eu to feliz/ Olha só como eu to prosa!”, foi o que pensei durante o belo exercício hermenêutico-emocional a que ambos fomos expostos. Antes, me deparei com uma pessoa de que gosto muito abraçado a uma pessoa muito bonita, cuja perna tocava em sua genitália ouriçada. Pedi para fotografá-los, a fim de conservar registrada em imagem aquela beleza mútua, mas eles se recusaram. Na madrugada, vi um filme sobre uma mulher apaixonada por sua melhor amiga, mas, ciente de que o heterossexualismo dela é inelutável, consola-se em ajudar a escolher os partidos menos nocivos. Não é preciso dizer que me vi, senti e ouvi no filme. E o refrão gritante da maravilhosa canção appleniana seguia reverberando em minha mente: “Every single night's a fight with my brain”. Em breve, espero comentar o disco com maior acuidade em meu Fotolog. Por ora, eu espero sonhar...

Wesley PC>