sábado, 7 de julho de 2012

“ERA TUDO MUITO ENGRAÇADO... ATÉ QUE NÃO É MAIS!”

Já dediquei muitas postagens deste ‘blog’ ao seriado televisivo “Glee”. Apesar de seus defeitos ideológicos serem assaz evidentes, apreciei bastante a primeira temporada e gosto muito de pelo menos três episódios da segunda. Em relação à terceira, o encanto finalmente se perdeu. Achei tão ruins os sete episódios iniciais que abandonei o seriado, sem escrúpulos. Enquanto resolvia alguns problemas existenciais na tarde de hoje, descobri que o décimo quarto episódio da terceira temporada (e qüinquagésimo oitavo no cômputo geral) seria exibido no canal Fox. Abandonei os meus pré-conceitos por alguns instantes e resolvi me entregar a “On My Way”...

Como sói acontecer em produtos culturais industrialmente reiterados e baseados na continuidade epidérmica da identificação com o público, não foi difícil acompanhar a trama do episódio, apesar de não assistir ao seriado há meses: o tom de auto-ajuda está muito mais acentuado, principalmente em seu viés homossexual (no começo do episódio, inclusive, um ‘gay’ recém-assumido tenta se matar!); os números musicais estão cada vez mais coadunados a sucessos ‘pop’ recentes (o que impediu que eu identificasse de imediato algumas das canções executadas); e os conflitos entre os membros do coral continuam similares ao que vinham acontecendo desde a primeira temporada. Mas um personagem vilanesco em particular me chamou muito a atenção, Sebastian Smythe, pederasta espalhafatoso e muito bonito vivido por Grant Gustin. Não acompanhei devidamente a sua ascensão popular e negativada pela bazófia, mas achei a sua caricaturização pérfida muito condizente com a malevolência associada a alguns afetados. Em outras palavras: malgrado sua construção personalística ser pífia, eu me percebi seduzido por seus olhares de diva secundária. É um rapaz perigosamente bonito esse talzinho – do jeito que eu temo gostar na vida real (risos)!

 À medida que o episódio evoluía e suas situações-chave eram acumuladas (a treinadora outrora inimiga do principal coral do filme confessa-se grávida e hormonalmente emocionada durante as apresentações do grupo; o Novas Direções ganha o concurso regional; uma líder de torcida que rivalizava com o par principal do seriado sofre um grave acidente automobilístico; etc.), eu perdia novamente o interesse não plenamente recuperado. Mas fiquei tentado a dar uma espiadela em mais alguns episódios desta terceira temporada daqui por diante. Sem afecção, só por curiosidade. Sei, sei... Alguém me proteja!

 Wesley PC> 

AQUILO QUE VICIA...

Nesta madrugada, acordei com meu irmão bêbado tentando se deitar sobre mim. Ele não havia percebido que eu estava em minha cama e, por algum motivo estranho, não quis ficar em seu quarto. Fui deitar na cama de minha mãe e, ao despertar, recebi um telefonema de meu melhor amigo, dizendo que havia tido um terrível pesadelo, em que um amigo em comum havia sido baleado na cabeça por russos ou alemães... Enquanto ouvia a descrição do pesadelo, comentei com ele que, na manhã de hoje, assisti a dois filmes da chamada ‘moral exploitation’ sub-hollywoodiana: “The Pace That Kills” (1935, de William A. O’Connor) e “Mad Youth” (1939, de Melville Shyer). Ambos os títulos são ruins, mas, cada qual a seu modo, são importantes na análise histórica do combate cinematográfico moralista aos vícios adolescentes.

O primeiro dos filmes, anteriormente batizado “The Cocaine Fiends”, conta a estória real de uma garota do interior que vai para a cidade grande e termina envolvida com um traficante de cocaína e, por extensão, viciada nesta droga. Seu irmão vai à sua procura, mas termina igualmente viciado, apaixonado por uma moçoila bondosa e inocente que, sem perceber, se entrega tanto a ele que decide se suicidar por não conseguir enfrentar os seus arroubos involuntariamente abstinentes por causa do desemprego. O final é tragicamente feliz, mas narrativamente inconvincente. Muito ruim!

O segundo filme, por sua vez, é mais interessante em sua abordagem narrativa: uma senhora rica recusa-se a admitir que está envelhecendo e liga quase todos os dias para uma agencia de gigolôs, em busca de homens mais jovens. Sua filha, que costuma dar festas em casa enquanto ela vai para os bailes e partidas de cartas, apaixona-se por um destes gigolôs e o regenera, mas, quando ele finalmente consegue “um emprego de cidadão”, ela está refém de uma agência criminosa de prostituição, ao lado de sua melhor amiga. O final é igualmente feliz, menos trágico e bem mais convincente, inclusive porque o filme chama a atenção pelas inusitadas cenas de dança e simulação cômica de touradas (risos). Quase bom!

 O meu intento secundário com a audiência a estes filmes tecnicamente chinfrins é ajudar o arcabouço analítico da monografia de um rapaz cujo interesse transcende as determinações acadêmicas, tanto o meu interesse pessoal em relação a ele quanto os seus interesses em relação ao tema. Enquanto via os filmes, porém, comecei a comparar os meus delírios platônicos com os sintomas de viciosidade passional que costumam me tomar de assalto ao longo dos meus dias de existência. Paixonite é doença? Tem cura? Justifica um filme sub-hollywodiano intervencionista da década de 1930? Tenho certeza que sim, conforme bem demonstra o caráter falacioso destas perguntas truístas, capciosas e tendentes à manutenção do meu vício em estar apaixonado por outrem. Assim sendo, queridos leitores, solicito que não constem dos autos julgamentais as convulsões vocabulares deste último parágrafo. Sou viciado em estar apaixonado!

 Wesley PC> 

sexta-feira, 6 de julho de 2012

UMA CANÇÃO AO CONTRÁRIO, SEM FOTO!


"Vou fechar o meu pranto, vou querer me matar
 Sonho feito de brisa, vento vem terminar
 Meu caminho é de pedra, como posso sonhar?
 Solto a voz nas estradas, já não quero parar
 Já não sonho, hoje faço com meu braço o meu viver
 E se não der, não vou sofrer
 Vou querer amar de novo
 Eu não quero mais a morte, tenho muito que viver
 Vou seguindo pela vida me esquecendo de você
 Vou fechar o meu pranto, vou querer me matar
 Sonho feito de brisa, vento vem terminar
 Meu caminho é de pedra, como posso sonhar?
 Solto a voz nas estradas, já não quero parar
 Estou só e não resisto, muito tenho pra falar
 Minha casa não é minha e nem é meu este lugar
 Hoje eu tenho que chorar
 Forte eu sou, mas não tem jeito
 Quando você foi embora, fez-se noite em meu viver"... 
["Travessia", obra-prima do Milton Nascimento,
 de trás para a frente.]

Quem me conhece, talvez saiba ou suspeite o porquê desta opção poética: sinto uma dor de amor em meu peito. E, se brincar, é uma dor boa. Pois só sente dor quem está vivo: e quem vive não quis mais se matar!

Wesley PC>

POR QUE NÃO DESCE COM FACILIDADE? (OU: É PRECISO DIZER O ÓBVIO?)

Apesar de ser voto comum que “Fuk Fuk à Brasileira” (1986, de Jean Garrett) é um filme genial, ele não está sendo assimilado com facilidade por aquela zona intersticial localizada entre meu cérebro, meu coração e minha genitália: o entreguismo inevitável nas demoradas e enfadonhas cenas de cópula me incomodou bastante, ainda que tenha me causado um gostoso sorriso quando um dos participantes da sessão em que eu estava confessou que teve uma ereção enquanto via o filme. Se eu soubesse, tinha levantado mais um pouco a cabeça, visto que estava deitado sobre suas pernas! (risos)

 Mas, falando sério, o filme me incomodou: por mais que eu tenha me impressionado com a delicada interpretação de Chumbinho como o protagonista “anão, pobre, preto, semi-analfabeto e sem vontade de trampar” que é também telepata; por mais que eu tenha aceitado de muitíssimo bom grado todas as exortações à higienização proporcionada pela masturbação ativista; por mais que eu tenha gargalhado quando o filme se entope de autocrítica ao proclamar que “o cinema brasileiro é uma merda: quando é ruim, é uma merda mesmo, e quando é bom, não deixa de ser uma cagada!”; por mais que eu tenha prestado devoção diante de toda a magnificência surreal daquele roteiro, o filme me incomodou bastante, me deixou até triste após a sessão. Primeiro, porque ele é indício de um tempo de agonia em nossa riquíssima filmografia nacional, que, dali para a frente, só declinaria. Segundo, porque ele evidenciou alguns problemas pessoais que, num cotejo com o enredo do filme, se tornaram muito mais evidentes. E, quando uso aqui o adjetivo “pessoais”, não estou me referindo apenas a mim, mas a diversas pessoas que me cercam e que, recentemente, me confidenciaram imersões platônicas com as quais muito me identifico: ai, meu Deus, estamos nós, os marginais, todos condenados a descer por aquela privada recorrente no filme?!

 Para além de todo este incômodo que me deixa perturbado e um tanto nervoso, insisto que o filme é ótimo e que terei muitas oportunidades e necessidades de falar novamente sobre ele, de forma ainda mais elogiosa e categórica do que hoje. Por ora, eu lido comigo mesmo, com meus sentimentos, com minhas excitações, com minha agonia... Sou fã do Jean Garret! Ponto.

Wesley PC>

quinta-feira, 5 de julho de 2012

NÃO VOU COADUNAR COM A ACUSAÇÃO RECORRENTE DE QUE A CRÍTICA ARACAJUANA É PROVINCIANA: ISSO SERIA DAR UMA PUBLICIDADE EQUIVOCADA AO QUE AINDA ESTÁ SENDO CONSTRUÍDO...

Não pretendo emitir aqui afirmações (no sentido lato do termo), mas, antes de tudo, indagações: são quase duas horas da madrugada, e eu deveria estar dormindo, visto que madruguei entre amigos ontem. Ao lado deles, vi o sol nascer através das grades de uma janela, enquanto discutíamos as falhas e carências de um suposto embrião de sub-‘intelligentsia’ aracajuana. Em dado momento, comentei que o dono da bunda mostrada na foto era um rapaz bonito, por mais que eu desconfiasse de algumas de suas atitudes profissionais, visto que o mesmo costuma ser difamado por ex-colegas nas rodas sociais, em razão de seu pernosticismo. Conversei pouco com ele, mas acho-o bonito, ainda assim. Por mais problemático que esta insistência possa parecer no plano do entreguismo moral, eu insisto que o acho bonito! 

Achá-lo bonito, entretanto, não implica em concordar que ele é um bom realizador fílmico. Conforme tentei explicar ao mesmo ainda há pouco, infelizmente, percebo nele uma ausência de arcabouço, uma vaidade superior à sua capacidade de justapor imagens, sons e idéias. Não sei se ele compreenderá o que tentei dizer, mas, por precaução, ainda não redigi a crítica mais depurada sobre o seu trabalho mais recente, tão difamado por alguns (nos quais eu confio plenamente) e tão elogiado por outros (que talvez confundam o relacionamento pessoal com o artista com as qualidades intrínsecas da obra). O conteúdo entre parênteses desta segunda categoria de apreciadores do curta-metragem emulado aqui põe novamente em pauta o título desta postagem: se existe algum indício de provincianismo aqui em Aracaju, este se manifesta na má recepção que as pessoas que alegam “dar a cara para bater” demonstram em relação àqueles que, como eu, “se metem a falar de tudo”. O que deveria ser uma crítica é reinterpretado como um ataque pessoal, o que torna muito delicado a atividade analítica. Por isso, estou pisando em ovos antes de tocar no assunto com mais profundidade: aguardo alguma resposta do dono da bunda. Boa ou ruim, esta resposta dará o tom de meu enfrentamento sobre o que parece ser um problema recorrente, mas, por enquanto, sigo preocupado em defender o meu delicado ponto de vista: fisicamente, eu acho-o bonito!

 Wesley PC>

quarta-feira, 4 de julho de 2012

“VOCÊ GOSTA DE MIM AGORA? VOCÊ GOSTA DE MIM AGORA? VOCÊ GOSTA DE MIM AGORA? VOCÊ GOSTA... DE MIM... AGORA?”

Não assisti ao filme “O Libertino” (2004, de Laurence Dunmore) da forma adequada: dublado e interrompido por vários intervalos comerciais inconvenientes num canal fechado (e subestimado) de TV, tive acesso às primeiras imagens deste filme pelo menos dez minutos após o seu início. Um longo plano giratório em torno de um teatro cujos participantes faziam questão de berrar suas preferências sexuais e/ou escatológicas me fez querer prestar atenção a esta obra, tão elogiada pelo público, sem nenhuma nudez – apesar da obrigação de seu tema – e que poderia ser apelidada de “filme sub-greenawayniano ‘pop’”. A ótima trilha sonora de Michael Nyman – justamente um colaborador habitual de Peter Greenaway –, a fotografia baça de Alexander Melman e as ótimas interpretações de John Malkovich, Samantha Morton e do protagonista Johnny Depp me obrigaram a prestar atenção ao filme, bem como a delicada recepção de meu companheiro de sessão, um jovem sonolento, que adormecia enquanto eu fazia cafuné em seus cabelos crespos, diante de sua mãe com tosse...

Até então, não conhecia o personagem-título, o conde John Wilmot de Rochester (1647-1680), mas fiquei logo fascinado por suas peças teatrais entupidas de luxúria e crítica social. Contratado pelo rei da França para criar uma trama que enobrecesse a corte de seu país, o libertino realiza uma obra absolutamente pornográfica, que o faz ser perseguido e, vivendo na clandestinidade, acentua os efeitos fatais da gonorréia, da sífilis e do alcoolismo que, juntos, o conduziram a uma morte precoce. O que mais me impressionou no roteiro do teatrólogo Stephen Jeffreys foi a sua recusa de um tom condenatório ou comiserativo à biografia do protagonista. Ao invés disso, ele nos lega diálogos preciosos em sua amplitude amoral, como, por exemplo, quando o conde de Rochester encontra uma mulher na rua, a abraça e pergunta: “tu sentiste saudades de mim?”. Ela, seca: “do teu dinheiro”. Ele, sorridente: “melhor assim. Detesto prostitutas com sentimentos”. Fomos conquistados no ato, eu e meu companheiro de sessão.

Conforme relatei anteriormente, o rapaz que tendia a assistir ao filme comigo logo adormeceu. Admirei a robustez de seu corpo por alguns minutos, mas decidi ver o restante do filme em casa, estava interessado no modo como o enredo estava sendo desenvolvido. Lá chegando, percebi que minha mãe via outro programa, de modo que dei como desistente o meu intento espectatorial. Voltei à casa do rapaz e pedi à sua mãe para assistir alguns minutos do filme até que o seriado televisivo que minha mãe via acabasse. Ela consentiu. E, de canto de olho, vi que o objeto de meu desejo caminhava por sua casa, usando uma cueca vermelha que revelava toda a imensidão de seu vigor fálico. Numa cena do filme, uma atriz pergunta ao seu mentor teatral: “tu sentiste vergonha de mim, no palco?”. Ele: “muito pelo contrário. Não suportei o esplendor de teu brilho”. E, ao invés de abrir logo o chuveiro, o rapaz demorava no banheiro, dedicando-se a algo que eu intuía como masturbação...

 Abandonei o filme mais uma vez e fui para um quarto contíguo ao banheiro, de onde pude perceber ruídos de movimentação manual repetitiva. Completamente excitado, aproveitei que sua mãe se empanturrava de ovos de codorna na sala e me dependurei sobre a pia da cozinha, a tempo de ver o rapaz de costas, pouco após a ejaculação, juntando os jatos de esperma no chão e limpando as gotas preciosas de sêmen que caíram sobre sua panturrilha. Ele não me viu, de modo que aproveitei a deixa para vê-lo de frente, o pênis intumescido na glande, amolecendo gradualmente, após ter saciado o seu sonolento portador. E, incapaz de conter o meu fulgor igualmente ejaculatório, ingeri alguns mililitros de meu próprio gozo, ali mesmo, diante dos armários de sua cozinha.

 Ejaculado, corri para casa, a fim de ver o restante do filme. Esqueci os meus óculos em sua cozinha, voltei para buscá-los, mudei o canal e fui sendo conquistado cada vez mais pela perfeita composição interpretativa do versátil Johnny Depp. Entretanto, ainda estava muito excitado: precisei abandonar o filme mais uma vez para masturbar-me novamente na minha cozinha. De volta à sala, sentei-me numa cadeira de balanço e vi o filme até o final, exultando particularmente quando o protagonista vira-se para uma de suas amantes – em verdade, a preferida – e atira as seguintes palavras: “jamais te perdoarei por teres me ensinado a amar a vida”. Sem pestanejar, transcrevi esta ameaça em meu aparelho de telefonia celular e a enviei para duas pessoas: o rapaz que motivara minhas duas ejaculações sôfregas e consecutivas e alguém que, num contexto similar, talvez dissesse o mesmo sobre mim. E, num caderno depositado na casa do masturbador contumaz que tanto me excita e sacia, eu escrevi a palavra esperança, na noite de anteontem. Era um bom augúrio, atrevo-me agora a pensar...

Wesley PC> 

SOLETRANDO V-E-R-D-A-D-E!

Quando esta foto foi captada, demoraram a me localizar nela: por mais evidente que eu esteja – e por mais fácil de me reconhecer que seja – não me viram nesta imagem, gritaram que “Wesley não saiu na foto!”. Como pode? Eu estava lá!

 Talvez não tivesse sido à toa: na madrugada de ontem para hoje, depois de um debate sobre o cinema de John Cassavetes, eu e alguns amigos reunimo-nos numa casa onde impera o amor e comendo, bebendo, brincando de mímica e interagindo através e sem o uso das palavras, nós obedecemos ao império supracitado. Tem coisa que eu não posso revelar aqui por ora, pois mais explícito que esteja: afinal de contas, voltarei muitas vezes a este assunto. Ah, eu voltarei...

Wesley PC>

terça-feira, 3 de julho de 2012

AS GOTINHAS QUE CAEM (OU, MESMO QUE NÃO HOUVESSE SAL NO ESPERMA, ELE SERIA VALIOSÍSSIMO PARA MIM!)...

Acabo de assistir ao docudrama primevo “Sal Para Svanetia” (1930), em que o inspirado diretor georgiano Mikhail Kalatozov retrata os costumes do vilarejo de Ushguli, localizado no interior de seu país, isolado pela “neve de oito meses” e por imensas construções de pedra que protegem o lugar contra invasores, em que a religião é mais importante para o cotidiano de seus habitantes que as importantes mudanças sociais e políticas trazidas pela Revolução Russa de 1917. Como o filme não esconde a sua faceta propagandística, a exortação ao progresso favorecido pela construção de rodovias é elogiado como mais um avanço soviético na comunicação com todos os povos de sua imensa nação. E, mesmo que o filme não tenha me convencido de todo em seu registro da “natureza rude” que oprime aldeões afligidos por crendices seculares, a beleza das imagens e da música (introduzida ‘a posteriori’) é tanta que o filme inebria!

 Na trama do filme, narrativamente coadunada às inovações técnicas da cinematografia soviética, para além de seu estilo documental, acompanhamos os esvanes enfrentando potenciais invasores, coletando cevada, procurando avidamente por sal, “tão valioso quanto ouro”, enquanto as mulheres debulham os vegetai, tosquiam as ovelhas, realizam as atividades básicas daquela agricultura de subsistência. Na segunda metade do filme, as imagens de um funeral tradicional e a banição de uma parturiente são intercaladas: em relação ao primeiro, destacam-se costumes como fazer com que um cavalo cavalgue até a morte e o hábito de os amigos e parentes do falecido deitarem-se na cova, depois de entregarem moedas ao pároco local; em ralação ao segundo evento, sabemos que é conspirado um ato impuro que alguém nasça durante um enterro, de modo que as mulheres grávidas são exiladas com párias, costumando os recém-nascidos morrerem de frio e inanição. Cachorros aparecem para lamber o sangue umbilical, visto que, “no sangue, também há sal”, prática de reaproveitamento salino recorrente no filme, visto que vemos bois lambendo os beiços antes de ingerir a urina de um pecuarista e mulheres férteis despejando leite de seus peitos sobre o túmulo de suas crianças falecidas. Nem mesmo as fezes dos animais são desperdiçadas. "A natureza é áspera", insiste um intertítulo.

 Satisfeitíssimo que fiquei enquanto via o filme, não consegui deixar de pensar num ato similar de aproveitamento benfazejo de uma secreção humana, visto que, após mais de um mês de abstinência, finalmente consegui extrair preciosas gotículas seminais de um rapaz que mora nas proximidades de minha residência e que, no momento em pauta, vestia uma camiseta verde, em que se lia, em letras vermelhas, “te sentes bêbado? Faça o teste grátis de bafômetro aqui”. Uma seta vermelha gigantesca apontava para a sua região fálica, que, no caso especifico deste rapaz, era também bastante avantajada. Não me sentia necessariamente bêbado quando li a inscrição de sua camiseta, mas saí de sua residência positivamente embriagado, de modo que as imagens do filme só confirmaram o meu bem-estar, ainda que as mesmas fossem apresentadas num viés crítico, condenando o atraso em que viviam aqueles agricultores primários. Um problema propagandístico fácil de ser ignorado ou invertido, ora pois!

Wesley PC>

segunda-feira, 2 de julho de 2012

COSTUMO ME INTERESSAR POR RAPAZES MAIS JOVENS QUE EU, MAS, SE EU ME DEPARASSE COM ESTE VELHINHO DE 103 ANOS NO MAR MORTO, EU ME ATIRAVA DIANTE DELE, NUZINHO, SEM PESTANEJAR (OU DE QUANDO É NECESSÁRIO MUDAR DE IDÉIA)!

Conforme dá para perceber no título desta postagem, ainda insisto em utilizar acentuações que ficaram defasadas com a reforma ortográfica brasileira atualmente em vigor. Por mais romantizada que seja a minha insistência em apegar-me à grafia antiga das idéias, terei que desvencilhar-me deste gesto ortográfico em breve, sob pena de ser ainda mais vilipendiado pela Academia do que estou sendo nos últimos meses. Na manhã de hoje, li uma passagem literária ambígua que talvez me ajude a enfrentar tal dilema forçoso em seu aspecto de desistência: “pois bem, estou farto das pessoas que morrem por uma idéia. Não acredito em heroísmo. Sei que é fácil e aprendi que é criminoso. O que me interessa é que se viva e se morra pelo que se ama”.

 Quem profere a reclamação acima é um jornalista, no romance “A Peste” (1947), de Albert Camus. O que me deixou mais intrigado acerca do excerto é que não consigo diferenciar o que eu amo das idéias que eu apregôo. Idéias e amores empatam, em minha apreciação apaixonada. Mas chega o momento em que morrer por elas talvez não seja o mais digno ou efetivo, mas sim sobreviver por elas. E é o que tentarei fazer daqui por diante: cederei á grafia de “idéia” sem acento, conforme será percebido daqui por diante. Adaptarei as minhas ideias aos novos tempos, a fim de que as mesmas perdurem em sua teimosia adaptável mas não entreguista. Do mesmo modo que, de fato, se eu encontrasse o Manoel de Oliveira diante de mim, com certeza quereria beijá-lo: ele é um dos velhinhos mais belos que já vi!

 Enquanto escrevo estas linhas fúteis – mas não desprovidas de sentido – experimento uma forte sensação de desgosto aqui na sala de pesquisa em que me encontro. Não me sinto compreendido pelo orientador de Mestrado que me imputaram a fórceps e não preciso mais gastar tanto tempo a baixar filmes que se acumularão em minhas gavetas sem que eu tenha tempo para assisti-los. O melhor agora é viver, com as armas de que disponho, com os acentos que possuo, com as ideias de amor que me fazem respirar a cada segundo. Oferecer-me à zombaria alheia por causa de um tempo que não sinto que perdi, ah, meu bem, não mais consentirei: assim que eu terminar de converter “Non, ou a Vã Glória de Mandar” (1990), obra-prima do Manoel de Oliveira, para um arquivo em .avi, vou para casa, sem pestanejar. Tenho muito mais o que fazer entre aqueles que me amam e respeitam as minhas “idéias”!

 Wesley PC>

“SE VOCÊ QUISER FICAR COMIGO, VAI TER QUE SER DE IGUAL PARA IGUAL!”

Não consigo dizer muito sobre “Vera” (1986, de Sérgio Toledo) por ora. Estou muitíssimo impressionado com o que vi, escandalizado diante de tamanha pujança! É um filme forte, belo, sem saída: a protagonista, magnífica e impressionantemente vivificada por Ana Beatriz Nogueira, prefere ser chamada de Bauer. Olhando diretamente para a câmera, ela nos atinge com suas palavras e gestos potentes: “eu sou um homem. Será que você não consegue ver isso?!”. O alvo direto de seu questionamento é sua namorada Clara, vivida por Ainda Lerner, que faz de tudo para vê-la sem roupa, mas se envergonha, não deixa. Numa das cenas mais geniais e dolorosas do filme, o funcionário do orfanato em que Vera passou a sua adolescência tenta forçar um grupo de moças masculinizadas a usar vestidos. Antes disso, ele introduz meninos na ala feminina da instituição a fim de diminuir os indícios de lesbianismo no local. Para algumas das meninas, a estratégia é funcional. Para outras, é só um teste para saber quem é machona de verdade. Indiferente a um questionamento que lhe é alheio (ela se sente homem!), Vera se masturba no banheiro. E, ao final do filme, eu me angustiava ao lado dela, reproduzida em várias telas de TV. Não consigo dizer muito sobre este filme agora: estou impressionado!

Wesley PC>

domingo, 1 de julho de 2012

QUANDO SE ESTÁ ANGUSTIADO, TUDO CONSPIRA (MAS TAMBÉM AJUDA):

Acordei absolutamente angustiado na manhã de hoje: sonhara que havia sido contratado como professor de banca (reforço escolar) de um garotinho de 16 anos, acima do peso e com portador de Síndrome de Down, tão gentil e apaixonado que fez com que eu me sentisse encantado por estar em sua companhia. Ele era filho de um dono de sebo que costumava vender xérem (farelo de milho) até a semana anterior ao nosso encontro e demonstrava-se obcecado pela “Marcha Radetzky”, do Johann Strauss I. Escutamos juntos esta música clássica várias vezes, antes de desfilarmos juntos numa festividade pública. Durante a mesma, descubro que havia não havia sido aprovado no último ano do Ensino Médio e me matriculo na escola pública Tobias Barreto. Apaixono-me por um guri da minha sala, um rapaz alto e um tanto gordinho, que cursa História na Universidade Federal de Sergipe. Ofereço-lhe meu cu virgem, mas ele recusa com um sorriso, oferecendo-me várias balas de cereja, como compensação. Fico contente, mas sinto inveja das meninas grávidas de minha turma, que haviam fodido com alguém que amavam. No ônibus, não havia onde sentar: muitas adolescentes grávidas! Fico em pé, conversando com um faxineiro manco da UFS, que estava se preparando para defender a sua monografia sobre o cinema de ficção científica da Áustria. Ele escrevera seu texto em alemão, língua que admiro, e, antes que descêssemos do ônibus, conversamos sobre a filmografia do cineasta espanhol Eloy de la Iglesia, de quem ele também era fã. Acordei...

Apesar de vários elementos do filme serem positivos (retribuía o afeto do garotinho com Síndrome de Down, compensei a reiteração de minha virgindade anal com doces, encontrei alguém inteligente e simpático para conversar enquanto sentia inveja de outrem), acordei angustiado. Muito angustiado mesmo. Não quis tomar café da manhã, inclusive. Liguei a TV e assisti a um filme francês chamado “Melanie, a Feia” (2008, de Jean-Patrick Benes & Allan Mauduit), sobre uma garçonete gordinha que era maltratada e explorada por todos ao seu redor, visto que era bastante gentil. Cansada de "ser uma, num mundo em que todos são dois" (leia-se solitária e sem namorado, enquanto todos ao seu redor amam e fazem sexo), um dia, ela se irrita e resolve tornar-se má, começar a dizer “não”. Finda por descontar sua revolta em pessoas que não lhe fizeram mal. Arrepende-se. E, após a sessão, eu fui dormir novamente, ainda me sentia mal!

Durante o cochilo, sonhei novamente: Zhang-Ke de Castro, minha cadela 'poodle' branca, havia engravidado e parira quatro gatinhos marrons, que depositara na gaveta de frutas da geladeira da cozinha. Minha mãe fora mordida por um dos gatos quando tentara retirar uma folha de couve, a fim de cozê-la para mim. Não lembro de mais detalhes, visto que despertei com minha mãe chamando no portão: ela estava voltando do supermercado, contente. Aproveitei o embalo, liguei o rádio e comi um pouco de macaxeira com queijo, ovos, cogumelos e banana. A angústia diminuíra, mas era ainda angústia. Saí de casa, retirei dinheiro num caixa automático do Banco do Brasil, brinquei com a filha pequena de um amigo muito magro e telefonei para um rapaz pelo qual serei eternamente apaixonado. Afinal, estou vivo!

Wesley PC>