sábado, 28 de julho de 2012

“EU VOU RASGAR O TEU CU E MISTURAR COM A TUA BOCETA!”

Na tarde de ontem, depois de ter assistido a um filme surpreendente e excelente, escrevi a um amigo que “quanto mais eu descubro coisas boas, mais eu as desejo e mais eu as encontro”. Na verdade, há pelo menos uma imprecisão cavalar neste comentário: a definição de “coisa boa”. Quem me conhece, sabe que costumo considerar como “bom” até mesmo aquilo que pareço não gostar num primeiro contato. Foi o caso de “Ivone, a Rainha do Pecado” (1984, de Francisco Cavalcanti), inusitado filme que vi nesta noite de sábado, ao lado da bela ex-esposa do amigo para o qual escrevi o comentário supracitado.

 No filme, o filho de uma prostituta é levado para um reformatório, quando sua mãe é presa por atividades ilegais de negociação do próprio corpo. Obrigado a comer baratas, entre outros maus-tratos, o garoto foge justamente quando sua mãe recebe de um juiz o direito de revê-lo, desde que cumpra a determinação de sair da zona de baixo meretrício. Indignada por não encontra o filho, a prostituta resolve se tornar uma cafetina riquíssima e, nesta escalada, torna-se inimiga do cafetão por quem era apaixonada. O menino, por sua vez, cresce numa vida de crimes – a fim de sobreviver – e, recém-ingresso na vida adulta, é condenado a 25 anos de prisão por um latrocínio frustrado que não cometeu. O resto do filme eu não me atrevo a contar aqui: é mal-realizado na prática, mas genial em arquitetura trágico-enredística. A minha companheira de sessão alegou ter gostado tanto do filme que chegou a menstruar de emoção! Fiquei feliz por ela...

Apesar de, oficialmente, eu não ter gostado do filme – por causa da má direção, do elenco desengonçado, das seqüências toscas, etc. – “Ivone, a Rainha do Pecado” é um filme interessantíssimo, não apenas para a minha pesquisa pessoal de Mestrado como para qualquer pessoa que se interesse pela realidade histórica do Brasil na década de 1980: este filme é um documento precioso! As inusitadas cenas de sexo quase explícito, as corruptelas de filmes de gângsteres e de artes marciais B norte-americanos e o desfecho extraordinariamente pitoresco (sintetizo-o num detalhe: uma velhinha em cadeira de rodas é uma das poucas a não ser atingida por nenhuma bala perdida durante um tiroteio, não obstante ser o alvo principal de vários dos atiradores) fizeram com que eu me encantasse pelo elã narrativo desta produção equivocada porém digna, como a maior parte dos objetos cinematográficos realizados na Boca do Lixo paulistana. Recomendo de coração este filme: é uma peça tosca e sintética de nosso cinema oitentista!

 Wesley PC> 

sexta-feira, 27 de julho de 2012

DA TAREFA PÓS-BUROCRÁTICA DE SONHAR COM O AMOR...

Em “Mulheres Fáceis/ Entre Amigas” (1960), filme absurdamente subestimado do genial Claude Chabrol, um grupo de atendentes de loja de eletrodomésticos sonha com o amor. Uma delas, a mais velha, guarda um fetiche extraído de uma cerimônia de enforcamento público que presenciara na infância; outra acha sensual ser perseguida por um motoqueiro apaixonado mas supostamente tímido; uma terceira está prestes a casar, mas seu noivo tem vergonha de apresentá-la aos pais sem argüi-la acerca de seus conhecimentos renascentistas; uma quarta tem vergonha que suas amigas descubram que, nas horas vagas, ela é cantora; e uma quinta dança e sonha com o futuro ao lado de quem ama. Só isso. E é como se não precisasse de mais nada!

 Depois falo mais sobre o filme e o que ele causou em mim: por ora, estou demasiadamente impressionado. Preciso de mais Claude Chabrol em minha vida!

 Wesley PC>

quinta-feira, 26 de julho de 2012

O DESEJO ENQUANTO DOENÇA; A BELEZA ENQUANTO POSSÍVEL REDENÇÃO...

Quando eu vi “A Fuga da Mulher Gorila” (2009, de Felipe Bragança & Marina Meliande, ex-críticos da outrora excelente revista virtual Contracampo – vide comentário discretamente elogioso aqui), um simpaticíssimo filme injustamente desconhecido até mesmo em circuitos alternativos de cinema, fiquei impressionado com o peso de sua sutileza: é um filme leve, curto, simples, quase sem trama, mas, ao mesmo tempo, lento, cansativo, desengonçado, defeituoso, realizado com mãos pesadas e obviamente armengado. Todas estas características, entretanto – tanto as positivas quanto as negativas – levaram-me a ficar rapidamente apaixonado por ele, tanto que resolvi favoritá-lo no Filmow (o único que fez isso, até então), não obstante sua nota geral ser pouco acima de um discreto 7,0.

 Por um acaso desejoso opressivo [sobre o qual não posso dar mais detalhes por enquanto, mas ouso resumi-lo em uma frase de impacto: gastei mais de cinco horas de meu dia esperando que um filme que eu não conheço baixasse!], adquiri uma cópia de "A Fuga da Mulher Gorila" nesta manhã de quinta-feira. Não sei quando terei tempo de revê-lo, mas aquelas canções singelas e mescladas com palavrões dizem muito sobre como me sinto neste exato instante: atravessado pela cobiça, vergado pela beleza, (des)esperançoso na elaboração de planos sorrateiros que visam à reiteração de uma descoberta. Em outras palavras: eu quero ver novamente (e sempre desejarei) aquilo que eu sei que é belo! E, enquanto espero, isto m aflige, me atordoa, me consome. Eu sou um pulha! 

 Wesley PC>

quarta-feira, 25 de julho de 2012

UMA VOZ AMADA, UM TAPINHA IMAGINÁRIO NAS COSTAS E UMA EXORTAÇÃO DE ENFRENTAMENTO AO VAZIO...

Na noite de ontem, reassisti a um estranhíssimo filme do John Cassavetes chamado “A Morte de um Bookmaker Chinês” (1976). A estranheza está no flerte do diretor com o ‘noir’ tardio, através de um viés que ultrapassa bastante as convenções do gênero, que são mescladas com o estilo muito particular de filmar os seus atores num entrosamento histérico com o mundo ao redor. Apesar de uma ou outra cena de perseguição, de alguns tiroteios e de uma sinopse (aparentemente) mais estruturada que que a dos filmes anteriores, “A Morte de um Bookmaker Chinês” é, na verdade, um profundo estudo de personalidade, para o qual contribui bastante a completa entrega de Ben Gazzara a seu personagem: Cosmo Vitelli troca de lugar com o espectador o filme quase inteiro, como se estivesse a viver a sua própria vida de fora, atordoado que estava com os eventos recentes de sua dívida crescente no jogo, de sua atração apaixonada pelas mulheres, de sua preocupação irrevogável em, de fato, entreter os clientes que vão ao seu clube noturno... É um personagem macho prenhe de dignidade, o que só faz com que o mergulho no inferno relacionado ao narrativo título do filme seja mais incisivo. Talvez por causa desta sessão tão delicada, acordei novamente me sentido visitado pelo vazio, tal qual aconteceu há duas semanas, quando eu fui intimado a comentar o magnífico “Faces” (1968). John Cassavetes tem este poder único: mergulha-nos num vazio, para que entendamos o porquê de estarmos no mundo, cercado por pessoas.

 Ciente de que a referida visita do vazio trazia à tona a responsabilidade de enfrentá-lo com diálogos, interagi bastante na minha aula de hoje, telefonei para o rapaz que mais amo no mundo, ouvi as lamúrias românticas de um amigo heterossexual que enfrenta uma inusitada paixão platônica (leia-se: desdém de mulher divorciada) e lastimei não poder ajudar um irmão de alma doente, que emitia interjeições de dor enquanto tentava comentar sorridentemente as boas notícias que eu lhe dava, acerca de nossos planos espectatoriais futuros. Seja como for, todos estes contatos com seres humanos deram um novo sentido à minha estadia neste mundo: eu estou aqui para fazer o bem, mesmo que, por vezes, isto incomode outras pessoas. Afinal de contas, se existe algo que o John Cassavetes apregoa muito bem por detrás de seus ótimos filmes é que juízos de valor são espúrios quando levamos em consideração que qualquer pessoa pode ter razão. Por isso, hoje dormirei mais cedo: às 7h30’ de amanhã, estarei pondo em prática mais alguns planos de conjunção (eventualmente incômoda) entre a minha existência terrena e as pessoas que me encantam. Boa noite àqueles que me permitem argumentar neste instante: amo vocês!

Wesley PC>

POR QUE EU (AINDA) NÃO CONSIGO RESENHAR ESTE DISCO?!

Há mais ou menos uma semana, ouço “Harakiri” (2012), mais recente disco solo do ex-vocalista da banda System of a Down, Serj Tankian, com o intuito de resenhá-lo. Tinha concebido algumas impressões sobre a faixa inicial (“Cornucopia”), planejava cotejá-lo com o seu disco de estréia [“Elect the Dead” (2004)], o qual também ouvi bastante desde a última semana, e, apesar de não ter me empolgado tanto em sua transposição de gritos políticos mais agudos para uma redefinição romântica mais íntima, demonstrava-me predisposto a recomendá-lo. Porém, sempre que eu sentava para escrever algo sobre o disco, as idéias fugiam, que nem agora. É estranho! O disco é bom (mediano, porém agradável), o artista é exemplar, e, coincidentemente, estou a ler uma coletânea de contos do escritor Yukio Mishima que traz à tona o tema recorrente do suicídio ritualístico japonês. Por que, então, as minhas impressões analíticas acerca deste disco não se fixam ou são convertidas para a forma escrita?! É um mistério... Prometo insistir neste assunto por mais algumas tentativas. Mas, em linhas gerais, o disco é bacana, especialmente, em sua primeira metade. Nota: 6,7. Faixas favoritas: além da primeira, já citada, “Ching Chime” (03), “Butterfly” (04) e “Deafening Silence” (07). Mas tudo isso é por enquanto: continuarei ouvindo-o e assimilando-o!

Wesley PC>

terça-feira, 24 de julho de 2012

O NASCIMENTO DA MORAL:

Hoje eu sonhei que um amigo gracioso e - a seu modo - bastante terno era o chefe de redação na empresa jornalística para a qual eu trabalhava. Apesar de ter a mesma idade que agora, ele era muito gordo e completamente careca. Meus colegas achavam-no reprovável, mas eu insistia em defendê-lo como bonito e gentil, mesmo assim. Acordei com um humor rohmeriano, portanto.

Digo que acordei rohmeriano porque, num estalo casual, constanteu que o tema das “amizades simples” é recorrente no ‘corpus’ de Éric Rohmer, cineasta francês genial, o qual descobri tardiamente, mas pelo qual logo fiz questão de me apaixonar. O motivo: ele versa sobre a paixão em cada uma de suas obras, em especial no sexteto fílmico batizado de “Seis Contos Morais”.

Eu já havia, inclusive, visto dois exemplares da série, mas resolvi começar novamente, a partir do primeiro exemplar. Na manhã de hoje, portanto, vi “A Padeira do Bairro” (1962), belíssimo curta-metragem em que o jovem e muito belo Barbet Schroeder interpreta um estudante de Direito obcecado por uma rapariga loira com quem costuma esbarrar pelas ruas. Abdicando de seu horário de janta, a fim de tentar encontrá-la, ele fica caminhando pelos mesmos lugares, sem sucesso. Faminto, adentra uma mesma padaria diversas vezes e, oportunamente, chama a atenção romântica da jovem atendente de 18 anos. Desiludido em relação a sua paixão anterior, ele marca um encontro com a solícita mocinha. Às vésperas do dia do encontro, a loira reaparece, com o pé enfaixado, explicando o porquê de seu sumiço. Aí surge o dilema moral que fomenta a série: confirmar o encontro com a mocinha da padaria ou levar à frente a sua paixão original? Um casamento súbito, em menos de seis meses, responderá ousadamente à minha pergunta. Fiquei emocionalmente atordoado após a sessão: belíssimo filme! Pena que a minha cópia do mesmo esteja legendada em inglês: o amigo com quem sonhei precisa ver esta jóia cinematográfica o quanto antes!

Wesley PC>

“EJACULE, EJACULE, SEM A MENOR PREOCUPAÇÃO”...

Está se tornando um lugar-comum repetir isso aqui, mas a minha relação intelectual com as pornochanchadas e demais filmes da Boca do Lixo paulistana está fazendo com que eu compreenda e lide melhor com a minha própria sexualidade. Na noite de ontem, assisti à comédia escrachada “A Super-Fêmea” (1973, de Aníbal Massaini Neto) sem muita esperança de gostar tanto e fiquei absolutamente aturdido diante do jorro de piadas inteligentes, referências a grandes clássicos europeus, estratagemas alucinantes de montagem e, principalmente, farpas crítico-políticas de primeira grandeza, ainda que marcadas pela dubiedade. A seqüência final, por exemplo, em que a protagonista desfila pelas ruas, depois de ter parido cem crianças, ao som de um hino popular ufanista, é absolutamente genial em sua sarcástica homenagem ao recorde de natalidade que o Brasil supostamente detinha naquele contexto. Gargalhei enquanto via o filme, ao lado de duas das pessoas mais queridas de minha vida...

Antes da sessão, inclusive, aproveitamos o gancho enredístico-temático para conversarmos sobre detalhes e tabus recorrentes em minha vida parassexual comumente assolada pelo platonismo: como é sabido de todos, amor físico e amor ideal interferem diferentemente em minhas pulsões afetivas, mas eventualmente eles se coligam e, durante a audiência ao filme, percebi que isso pode ser menos traumático, incômodo e desrespeitoso do que eu pensava!

Apesar de muitos dos méritos do filme serem “acidentais” (as intervenções hilárias e eventuais de Adoniran Barbosa, os chistes geniais e maliciosos envolvendo animais durante o coito, a canção-tema das pílulas anticoncepcionais masculinas, etc.) e de seus defeitos mais evidentes serem contornados com habilidade (o roteiro foi escrito a mais de oito mãos, o diretor era bem mais ocupado como produtor do que como realizador, boa parte dos atores são canastrões, etc.), “A Super-Fêmea” chama mesmo a atenção por sua hábil sujeição ao nonsense, parecendo uma versão tupiniquim dos filmes do grupo inglês Monty Python nalguns momentos: o personagem Onan Della Mano (Perry Salles), por exemplo, é uma típica demonstração do quanto o humor do filme distancia-se do popularesco. O mesmo pode ser dito sobre a composição abrasileirada do “godfather”, sobre os ataques de ninfomania num asilo e num convento e sobre a recorrente menção ao cansaço da protagonista, que, apesar de ser o principal chamariz do filme, só parece após mais de trinta minutos de projeção. E, por mais que Vera Fischer seja (e esteja) linda, de fato, sua atuação é ridícula (risos). Como eu disse antes – e repito: gargalhei vendo este filme, sem que isto incorresse em nenhum prejuízo à minha inteligência ou sensibilidade. Muito pelo contrário, aliás!

Wesley PC> 

segunda-feira, 23 de julho de 2012

O FILME CUJO TÍTULO EU ADIVINHEI SEM VER – E QUE, AGORA, QUERO MUITO TER A CERTEZA DE QUE VALE A PENA...

“Procuro por um filme que assisti já há uns anos, algo entre 97 e 99. Na verdade eu já peguei o filme da metade, num canal de TV a cabo, então não sei nome e por ser um filme ‘cult’ europeu (guardo a lembrança de um idioma estranho, talvez alemão), não conheço nenhum dos seus atores. 

O filme conta a história de um pai de família, já com seus 50 ou 60 anos, preso à rotina de homem casado (casa e trabalho). Numa viagem de férias ou num fim de semana eles vão pra uma cidade litorânea e lá ele conhece um jovem bonito (lembro que era loiro) por quem se apaixona e é correspondido. Eles vivem um caso naqueles dias e o rapaz pede pra ele ficar, não voltar com a família. Mas ele volta. Me parece que o personagem jovem pertencia a algum circo ou algo do tipo, pois havia um troque com um ovo... Bom, de volta à vida real, tudo perde a graça, desânimo total, distração no trabalho e em casa e depois de muito pensar, ele resolve correr atrás do tempo perdido, retornando à cidade pra encontrar o rapaz. E ainda leva o filho mais novo que quer ir com ele. Mas chegando lá não encontra mais o rapaz. As últimas cenas mostram ele e o filho olhando o mar, talvez eles entre no mar, enquanto numa parte mais afasta da praia, sobre umas rochas, está o ator que fez o rapaz, todo camuflado da cor das rochas, passeando pelas pedras lentamente. Lembro ainda de uma fotografia em tons de azul... 

Eu lembro que fiquei muito emocionado com esse filme, era realmente bonito, tocante... Mas não guardo nenhuma outra lembrança além dessas. E gostaria muito de voltar a vê-lo.” 

 Recebi, no início desta madrugada, a descrição acima como parte de uma mensagem solicitante de um amigo alagoano, que queria que eu adivinhasse o nome do filme descrito, pois é um dos favoritos de seu namorado. Nunca assisti ao tal filme, mas reconheci a trama de imediato, pois, mesmo sem tê-lo assistido, sempre quis vê-lo, visto que ele costumava ser anunciado com freqüência no programa interativo Intercine, da Rede Globo de Televisão. Após uma árdua busca por títulos suecos que envolviam férias, praia e verão, consegui identificar o tal filme como “Aconteceu Naquele Hotel” (1995, de Susanne Blier). E, agora, mesmo sabendo como ele termina, é um filme que quero muito ver...

Wesley PC>

domingo, 22 de julho de 2012

UM LEGÍTIMO DISCO FISGA-PIMBAS!

Nos últimos dias, fui apresentado a um aplicativo de Facebook muito divertido: o SongPop. Basicamente, é um jogo que consiste de cinco trechos curtos de canções, previamente relacionadas a um dado gênero musical. É tão divertido que tende a viciar, de modo que, a fim de que eu não me sentisse culpado por estar jogando bastante este tal de SongPop, passei a prestar muita atenção às canções que ouvia e tentava adivinhar. Era como se, mais do que testar os meus conhecimentos culturais, eu estivesse aproveitando a oportunidade para descobrir novas tendências (desagradáveis) da música contemporânea e, também, conhecer bandas que possam me agradar. Foi o que aconteceu com a banda britânica que ouço agora: Mumford & Sons.

 Numa das partidas do SongPop, fui intimado a adivinhar quem cantava a faixa “The Cave”, contida no álbum “Sigh No More” (2009). Nunca havia ouvido nada desta banda, mas os menos de 5 segundos que ouvi da referida canção foram suficientes para indicar que eu a apreciaria deveras. A sonoridade da banda é similar à dos irlandeses Damien Rice e The Swell Season, de que gosto bastante. Não tardaria para que eu baixasse o disco em questão. Dito e feito: no exato momento em que escrevo estas linhas, ouço a agradável faixa 09 do álbum, “Thistle & Weeds”.

 Ainda não ouvi o disco na íntegra, mas, até então, sinto-me apressadamente apto para classificá-lo como ótimo. Porém, devo deixar claro que o motivo para que eu não tenha ouvido o disco na íntegra até então é porque enganchei na quinta faixa, a maravilhosa “White Blank Page”, cuja letra tem muitíssimo a ver com o tipo de paixonite obsessiva que me ataca vez por outra. Sua letra transmite muito bem aquilo que eu defino taxonomicamente como “assimetria do desejo”. Uma demonstração é requerida? OK, segue a minha estrofe favorita da canção:

“A white blank page and a swelling rage, rage 
You did not think when you sent me to the brink, to the brink 
You desired my attention but denied my affections, my affections 
So tell me now where was my fault, in loving you with my whole heart? 
Oh tell me now where was my fault, in loving you with my whole heart?”

 Estou apaixonado! Por esta canção, inclusive. Tanto que a repeti tantas e tantas vezes que superei a duração integral do álbum ouvindo uma mesma canção. Obra-prima: diz aquilo que eu quero e preciso dizer, mas talvez não me atreva a ter coragem agora. Afinal de contas, amar dói, mas ser amado (por um aprendiz de psicopata como eu) pode doer também!

Wesley PC>

E, NO FINAL, O MAIOR DOENTE SOU EU MESMO...

Podem chamar de (auto)censura ou de segredo médico, mas o fato é que desisti de um compromisso coletivo com o intuito de ajudar uma pessoa necessitada, quando quem também necessitava de muita ajuda era eu. Dirigi-me a um interlocutor que estuda Medicina, desculpando-me por minha ausência, despedindo-me com um abraço sincero, proveniente de um coração repleto de patologias. Era verdade: sentia-me animicamente doente, atingido por uma chaga, uma ferida duradoura, que não cicatrizará jamais, mas que aceita bandagens no processo de atenuação da dor. Mas até mesmo a bandagem me foi negada hoje...

Que seja! É hora de comer, hora de enfrentar a chaga por outro viés, hora de lavar pratos, hora de conter o leve rancor que ameaça me tomar de assalto. Acabo de rever “Fim de Caso” (1999, de Neil Jordan), pela infinitésima vez. É sempre muito forte o baque oriundo do filme: sou um religioso, sinto dor, amo e preciso ver gente nua de vez em quando – em qualquer ordem!

Wesley PC>