sábado, 25 de agosto de 2012

“...QUE NEM AQUELAS PERGUNTAS QUE AS PESSOAS MAIS CRESCIDAS COSTUMAM DIRECIONAR ÀS CRIANÇAS, COMO SE ELAS MESMAS CONHECESSEM AS RESPOSTAS: POR QUE SE VIVE? POR QUE SE SOFRE? COMO SE DEU O NOME AO SOL?”...

Na noite de ontem, vi “Fragmentos de um Filme-Esmola: A Sagrada Família” (1972, de João César Monteiro), depois de ter sonhado que uma amiga mui querida era uma espécie de reencarnação da ensaísta Susan Sontag e me conduziu a uma inteligentíssima comparação entre o estilo deste filme e as obras de Manoel de Oliveira. Saí da sessão me sentindo esfuziado e contente, absolutamente impressionado com a genialidade anárquica do filme.

Não há necessariamente uma trama, mas fragmentos, como bem indica o título, complementado pelo fato de que o filme foi realizado a partir de um financiamento monetário adquirido via mendicância. Na primeira seqüência, um homem conversa com sua filha numa cama. Falam sobre as cores da Espanha, sobre a necessidade de chamar os chapéus de sapatos caso andássemos de ponta-cabeça o tempo inteiro, sobre a vacuidade atrelada ao dinheiro. Uma seqüência de mais de dez minutos, em que se acompanha o amor legítimo de um pai por sua descendência consangüínea direta, logo substituída por um abraço choroso entre marido e mulher, e pela antológica cena mostrada na foto, em que os sogros do marido denigrem a sua postura desobediente, tachando-o de antropóide. Pedem que a garotinha escreva algo, a fim de demonstrar que já sabe ler, e esta redige, com uma bela e elogiadíssima caligrafia: "a escola é o retrato cultural do opressor", julgamento certeiro mas rechaçado pelos parentes mais velhos, deveras reacionários. O desfecho violento desta brilhante seqüência antecipa a veemente bravata contra o ideologizado conceito de família que o filme despeja ao final. Saí da sessão me sentindo empolgado e esfuziado: como eu queria que todas as pessoas que eu conheço vissem este filme!

Wesley PC> 

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

SOBRETUDO, ATENÇÃO AO CONTEXTO! (GRITA TINTO BRASS)

O fotograma acima pertence ao filme "Salon Kitty" (1976), por muitos considerado a obra-prima do Tinto Brass. Ainda não o vi - estou tentando adquiri-lo neste exato momento - mas, por ora, deixo algo bem claro para mim mesmo: para além de seu erotismo irrefreável, a cena acima é, sobretudo, premida pela tristeza da guerra. Dizer que se ama ao próximo sem respeitá-lo é estupro, faz mal à humanidade!

 Wesley PC>

O AMOR, ACHO. SEMPRE ELE. E UM TANTINHO DE LANGOR... OU O DESENTENDIMENTO!


Não vi o filme ainda, mas fica a dica, a vontade, o desejo e o risco. Estou com ele quase na bolsa. Talvez mais tarde, talvez ainda hoje. Joaquim Pedro de Andrade é sempre muito interessante. E eu acordei com dor de cabeça hoje. Em frente à UFS, havia um motoqueiro profissional diante de mim. Não sabia quem eu era, nem eu tampouco quem era ele. Ele me pergunta: "tu és Wesley?". Eu digo que sim. Ele me entrega uma chave num envelope improvisado de papel. Havia dinheiro dentro, mas não era meu, era engano. Devolvi. Gosto de ver gente nua!

Wesley PC>

“COMO TU FAZES PARA CONHECER PESSOAS TÃO ESPETACULARES?!”

Convidei vários amigos para me acompanharem na sessão do filme “Na Estrada” (2012, de Walter Salles), baseado num livro de Jack Kerouac (1922-1969) de que não gosto muito, mas nenhum deles pôde estar comigo. Não apenas vi o filme sozinho como não gostei do que vi [vide crítica aqui]. Entretanto, não me arrependo de tê-lo visto. Suspeitava que teria mais oportunidades de compará-lo com um problema recente, decorrente da má aceitação alheia de um entrosamento humano que me envolve, mas o filme segue uma orientação moralista ainda mais tacanha que está contida no romance original, “On The Road – Pé na Estrada”, publicado em 1957. Fiquei absolutamente envergonhado com o que vi ali: é um retrocesso! Mas, pelo menos, ouso admitir que Kristen Stewart está muito boa no filme: a cena em que ela dança com o sedutor personagem Dean Moriarty (o belíssimo Garrett Hedlund) justifica a exclamação interrogativa que intitula esta postagem. Entretanto, insisto: o filme é vergonhoso, absolutamente vergonhoso!

Wesley PC> 

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

MINI-MARATONA WALTER HUGO KHOURI #09: “ELE FEZ CARREIRA COM A INFIDELIDADE”...

Imaginava que fosse desgostar de “Forever – Juntos Para Sempre” (1991), obra de Walter Hugo Khouri produzida e lançada imediatamente após o fechamento da Embrafilme. No enredo, Marcelo (aqui interpretado pelo ator cassavetesiano Ben Gazzara) morre logo no início e não fala português: a crise identitária é alçada a uma macrocategoria, ainda mais difícil de ser captada. Porém, o conhecimento prévio das marcas registradas do cinema khouriano permite uma apreensão da obra muito além de sua qualidade imediata: “Forever – Juntos para Sempre” é uma reticência que antecipa a imortalidade num conceito em que “o tempo devora tudo” e “nada é para sempre”. Desde que se entenda o papel da masturbação feminina e da suspensão da culpa em relação ao incesto no processo...

Como é típico, Marcelo é rico. Cercado, desejado e possuidor de belas mulheres – entre elas, uma inevitável Ana – Marcelo deixa-se metonimizar na prática do arco e flecha, em que “arco e arqueiro são a mesma coisa: quando mira, o arqueiro mira a si mesmo”. Berenice (vivida na idade adulta por Eva Grimaldi e na adolescência por Ana Paula Arósio – às vezes, simultaneamente) investiga a morte de seu pai num viés ‘rosebudiano’, a partir do bilhete que encontra perto de seu leito de morte: “lembre-se, foi você que me ensinou: O CORPO É A ÁRVORE DA SABEDORIA”. Primeiro, é-lhe dito que ele morreu enquanto fazia sexo com alguém. Em seguida, afirmam que ele morreu “em meio ao tédio e à solidão”. Afinal, descobre-se que ele morreu com sua filha nos braços, despida e sentada sobre seu pênis. E, a fim de coroar com o manto da perpetuidade este amor ideal e idealizado, Berenice projeta imagens de seu pai morto numa parede, enquanto imagina-o ainda vivo, amando-a para sempre...

Até metade da projeção do filme, temia confirmar a impressão de que desgostaria dele: roteiro fugidio, trilha sonora não mais a cargo do habitualíssimo Rogério Duprat (mas substituído por ícones do ‘jazz’ norte-americano, como Billie Holiday e Duke Ellington), inglês forçoso nos diálogos dublados... Mas, aos poucos, a genialidade compositiva dos planos magistralmente fotografados por Antônio Meliande e Antonio Nardi conquistou a minha adesão apaixonada, muito mais do que a minha identificação propriamente dita: definitivamente, este filme não funcione sem pelo menos metade dos filmes anteriores em que um Marcelo é erigido como personagem principal!

E, durante a sessão, eu amei. Amei tanto que não condenei o totêmico personagem (na imagem, sentado num cenário tão recorrente e icônico do universo khouriano), não me irritei com seu egoísmo, sua presunção bem-sucedida, seus usos e desusos das exuberantes mulheres que o cercam. Eu o amei tanto como qualquer uma daquelas fêmeas e o próprio diretor. Eu entendi tudo. Ou melhor, quase tudo: o amor, a lua e o vento permanecem distantemente ao nosso alcance! 

Wesley PC> 

CALMARIA, MESMO DIANTE DE UMA POSSÍVEL DESGRAÇA.

Hoje eu tive um legítimo sono de apaziguamento. Desliguei o celular antes de me deitar e dormi e acordei absolutamente tranqüilo. Para além de todos os problemas, pendências e preocupações, acordei apaziguado: tenho amigos, coopero com eles, isso basta!

Comi dois pães com ovo, vagens e queijo e assisti a um singelo filme turco na TV: “Um Doce Olhar” (2010, de Semih Kaplanoğlu), sobre um doce garotinho, vivido pelo encantador Bora Altas, que aguarda o pai coletor de mel voltar para casa. No prólogo do filme (terceiro de uma trilogia com o personagem principal), sabemos que o pai sofrera um acidente, após tentar escalar uma grande árvore, mas, até que sua família descubra o acontecido, nos deixaremos encantar pela graciosidade do filho Yusuf, que lê bastante quando está sozinho em casa, mas tartamudeia quando é requerido para fazer o mesmo na escola. Seu professor tem o hábito de palmear e premiar com medalhas os alunos que demonstram qualquer mérito discente. Yusuf sonha com a tal medalhinha, mas será o último a recebê-la. E, ao contrário do que pensávamos, ela não terá o gosto doce que o mel mencionado durante todo o filme deixa entrever...

A razão para que o pai de Yusuf vá coletar mel numa região distante é o esvaziamento das colméias locais: “Deus sabe para onde as abelhas foram”, confidencia ele a sua mulher. Conversa com o fi8lho através de sussurros, a fim de assegurar a harmonia familiar entre eles. E, à medida que o filme se desenvolvia, me encantava pela despretensão directiva, que conduz a trama com muita calma, sem arroubos dramáticos mal-situados: o filme põe-se à altura de Yusuf. Ficamos ao lado dele quando a tragédia é finalmente anunciada. E permaneci calmo após a sessão. Como me disse um querido amigo, através de mensagem de celular, “brincar com a dor, sempre. Ela é nossa amiga”. E eu amo, ah, eu amo!

 Wesley PC> 

UM SORRISO ANTES E DEPOIS DO DESABAFO: UMA GRATA SURPRESA!

Confiava no taco do Djalma Limongi Batista quando me sentei numa sala fria para assistir a “Brasa Adormecida” (1986), mas não esperava tamanha genialidade referencial e surrealista diante da tela. O ritmo do filme pode até ser irregular, o roteiro pode ter o problema que for, mas o que este filme fez por mim e por pelo menos duas amigas não se paga: belíssimo!

 E não falo mais por precaução... Mas se o jovem Edson Celulari aparecer pelado em meus sonhos, não vou achar ruim. Nem beijando outro homem, nem vestido de padre, nem segurando um falcão, nem nada parecido!

Wesley PC> 

DE COMO NADA É GRATUITO, NADA!


Uma conversa recente com uma amiga recém-mestranda em Letras conduziu-me a uma indignação premente acerca de uma absurda distorção acadêmica, sobre a qual evitarei detalhar por incorrer em conseqüências julgamentais cuja divulgação ainda não me compete. Porém, o fato me deixou tão indignado que outro evento chocante e igualmente permite-me um despejo de cólera: acabei de saber, graças a um duradouro amigo virtual cinéfilo, que o diretor britânico Tony Scott suicidou-se no dia 19 de agosto de 2012, domingo, ao pular de uma ponte em Los Angeles, por se sentir desenganado em relação a um câncer cerebral inoperável. Fiquei aturdido com a notícia. Apesar de não ser exatamente fã do diretor, desperdiçado em filmes de ação deveras velozes, sou obcecado por pelo menos duas de suas obras cultuadas, como “Fome de Viver” (1983) e “Amor à Queima-Roupa” (1993). Porém, o que me conduz a um movimento catártico neste texto dissimulado (por motivos alheios à minha vontade, mas requeridos por critérios concernentes à minha discrição parajornalística) é o estado vingativo de espírito que predomina no subestimado e violentamente delicado em suas inversões amorais “Chamas da Vingança” (2004), em que, como lemos no diálogo embutido na imagem, um pistoleiro é pago para proteger uma menina, e não para ser amigo dela. Mas...

[INTERRUPÇÃO PREVENTIVA: não posso me estender mais. Estou indignado!]

Wesley PC> 

terça-feira, 21 de agosto de 2012

“NÃO ADIANTA MAIS LAMENTAR O IMOBILISMO DA MADRUGADA: CAPITULEI DIANTE DUM FRACASSO PERSECUTÓRIO, ESTÁ FEITO! PORÉM, O SOL INSISTIU EM NASCER. CHUVOSO, MAS NASCEU.”

“Ainda no ‘colegial’ (hoje chamado de ‘ensino médio’), eu já era fascinado por cinema e fundei um cineclube. Na época, cineclube não era simplesmente o lugar onde se exibiam os filmes, mas um espaço onde, através dos filmes, entrávamos em contato com outras realidades e discutíamos questões relativas às nossas vidas (...). Dessa forma, muito do que aprendemos, vivemos e refletimos foi graças ao cinema”. 

O longo título desta postagem é um excerto da mensagem de celular que enviei a alguns amigos que se preocupam comigo, depois da submissão depressiva que me afligiu na madrugada de hoje. O depoimento acima, por sua vez, é do cineasta Roberto Gervitz, relembrando fatos importantes de sua juventude cinefílica. Muito me identifiquei com tal depoimento e, após lê-lo, readquiri uma confiança necessária para enfrentar o dia de hoje, uma terça-feira. Liguei a TV e pus “ABC da Greve” (1979, de Leon Hirszman) para ser executado. Não foi uma escolha ingênua. Nunca é!

Segundo li na Internet, há algumas horas, há um indicativo de que os professores da Universidade Federal de Sergipe encerrem hoje a greve que se estende por mais de três meses. No filme, o diretor acompanha as reivindicações grevistas de metalúrgicos insatisfeitos com seus salários e suas condições de trabalho. Em dado momento, “Pode Guardar as Panelas” explode oportunamente na trilha sonora. E uma mulher se exaspera: “a greve é assunto dos operários e dos donos de firma. Não tem nada a ver a polícia entrar no meio!”. Em palanques, diante de centenas de homens, o então representante sindical Luís Inácio Lula da Silva conclama seus companheiros a uma contestação ordeira. Depois de algum tempo, eles transigem com os empregadores, mas as injustiças salariais voltam a ser efetivadas. Nova greve, novos objetivos: “quinze dias de greve não vão interromper quinze anos de exploração!”. Ao final, o que mudou?

Estávamos em 1979, e a narração do filme espantava-se diante da multiplicação de favelas, ao redor do complexo fabril do ABC paulista (composto pelas cidades de Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul, além de Diadema, a posteriori), desde que o governo militar foi implantado, em 1964. Foi uma declaração ousada, que talvez explique o porquê de o filme ser tachado de “incompleto” na abertura, quando, em minha opinião, estava acabadíssimo – ao menos, em sua estrutura formal. Em verdade, assisti à versão restaurada após o (re)lançamento em 1989. E, num dado momento, dois advogados conversam. Um deles afirma: “assim continuará a eterna luta entre o capital e o trabalho”, ao que o outro retruca: “não é luta, mas uma composição de interesses!”. Quem sou eu para dizer que não? Estou no nadir de um ciclo afetivo permeado por fracassos.

 Mas o filme continuava, eu continuava... Os acordes geniais da canção do Paulinho da Viola voltariam a ser ouvidos, antes que o filme acabasse. Vinicius de Moraes, Elis Regina e diversos outros artistas apóiam a luta dos trabalhadores. E, nos dias hodiernos, Roberto Gervitz lamenta a perda de historicidade das lutas atuais, principalmente as cinematográficas:

 “A miséria brasileira sofreu nestes 20 anos um processo de aprofundamento tão radical, e assistimos a um esgarçamento do tecido social tão grande, que hoje é muito mais difícil de acreditar numa transformação do que na época da ditadura, durante a qual vivemos sob a censura e a repressão. Embora tal passado não provoque nenhuma saudade, paradoxalmente, era mais fácil sonhar...” 

E, aos poucos, meus amigos respondiam ao que eu lhes havia confidenciado. E eu os amo. Perpétua e sinceramente. Politicamente, aliás!

Wesley PC> 

NÃO É AMOR, É PANTIM!


E, quem conseguir distinguir uma coisa da outra, levará consigo os meus mafagafos...
(ou, a dor imaginária)

 Wesley PC> 

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

“TEMOS QUE PENSAR TRADICIONALMENTE E AGIR ESTRATEGICAMENTE” – PARTE 2: A METÁFORA, A REALIDADE

Hoje, Matilde Mastrangi é evangélica e condena o incentivo à masturbação que era engendrado nos filmes da Boca do Lixo. Só não digo que é tarde porque não acredito que seja tarde. Tudo bem que, às vezes, os ardis falham, mas os (bons) exemplos sobrevivem. Rios de esperma foram derramados por causa destes filmes, que também estimularam muita massa encefálica por aí, ajudaram a solucionar tantos problemas conjugais, anímicos, sexuais em geral. Mas o tempo passa... E eu ouso descrer que seja tarde. Não é tarde, ainda não é tarde, não deixarei que seja!

 Wesley PC>

“TEMOS QUE PENSAR TRADICIONALMENTE E AGIR ESTRATEGICAMENTE” – PARTE 1: O DOCUMENTÁRIO, A REALIDADE

Como não quer nada, sem saber de nada, assisti por acaso, nesta tarde de segunda-feira, ao documentário “Budrus” (2009, de Julia Bacha), sobre as manifestações pacíficas, por parte de aldeões cultivadores de oliveiras, que duraram quase dois meses, a fim de evitar que o governo israelense construísse um muro sobre uma região onde estavam as plantas e os cemitérios daquelas pessoas. Um ponto de partida real absurdo que denuncia com vigor uma injustiça atroz e, enquanto fermento documental, é conduzido a interessantes soluções discursivas, estando focado nos esforços de um militante para impedir que os seus vizinhos recorram à violência durante os protestos.

 Dentre as cenas que mais me impressionaram no filme, estão: o depoimento de Yasmine, a soldada israelense que foi carinhosamente acolhida pelos militantes palestinos; a cena mostrada na foto, quando crianças são buscadas no colégio para arregimentar os protestos não-violentos contra a construção do muro; o depoimento de uma ativista sul-africana, que relembra sua luta contra o ‘apartheid’ para justificar sua adesão àquela causa; os clamores para que os adolescentes da aldeia não atirassem pedras contra os soldados israelenses, armados e também adolescentes; e todas as cenas telejornalísticas, que demonstram o quanto a violência é legitimada e/ou normalizada pelos meios de comunicação de massa hebreus. Pensava que se tratasse de um documentário televisivo banal, mas é um vigoroso testemunho em prol dos povos oprimidos e tenazes. Mexeu comigo, com meu coração!

Wesley PC> 

“NÃO É PRECISO CHEGAR AO FUNDO DO POÇO PARA SE ADMITIR QUE PRECISA DE AJUDA” (EU TAMBÉM SOU VICIADO)!

Os conhecedores diretos ou indiretos de minha vida íntima sabem o quanto me digladio pessoalmente em relação àquilo que se entende como “drogas”. Para além da definição extensiva de algumas substâncias como “expansores do músculo cerebral”, a presença de um toxicômano violento e incontido em minha família leva-me a incorrer em julgamentos tendenciosamente moralistas acerca do assunto, de modo que, quando soube que um dos canais afiliados à HBO exibiria o documentário “Vício” (2007), interessei-me diretamente.

O filme, composto por nove segmentos distintos, dirigido por treze renomados documentaristas, inicia-se com uma exposição científica de dados sobre as alarmantes estatísticas de problemas relacionados ao consumo de drogas nos Estados Unidos da América. Alguns médicos e psiquiatras dão seus pareceres sobre o assunto e, em seguida, os segmentos isolados começam a ser apresentados. Analisarei um por um:

 • “Noite de Sábado em um Pronto-Socorro de Dallas” (Jon Alpert): neste segmento, uma câmera frenética acompanha os pacientes que dão entrada no hospital destacado no título. Vemos um rapaz que sofrera uma overdose de heroína, outro que fora esfaqueado durante uma briga por ‘crack’, um rapaz que se embebedara no aniversário de 21 anos, outro que tropeçou por causa de maconha, e, ao final, um caso fatal, relacionado a um acidente automobilístico motivado por causa de substâncias tóxicas. Um retrato cru e direto, com um saudável moralismo científico impregnando o relato hiper-realista. Muito bom;

 • “O Desespero de uma Mãe” (Susan Froemke & Albert Maysles): o currículo dramático dos diretores motivou-me a prestar atenção redobrada a este emocionante depoimento de uma mulher que emite um mandado de busca e prisão contra a sua filha viciada. Antes de a garrota ser encontrada, sua mãe mostra fotografias de diversas fases de sua vida, desde quando ele ingressara numa instituição para crianças superdotadas até o seu estágio atual. Ao final, a própria garota admite que tem um problema, que necessita conhecer novos amigos não-viciados e admite que, para não recair no vício, basta não ficar entediada. Ótimo;

“A Ciência da Recaída” (Eugene Jarecki & Susan Froemke): meu segmento favorito do filme, pois aborda algo que me instiga deveras, a noção de “gatilho”. No episódio, um viciado em cocaína explica corajosamente em que situações ele recai no vício e submete-se a ressonâncias magnéticas de seu cérebro, a fim de demonstrar como funcionam os comandos de avanço e retenção de desejos. A declaração final do protagonista – que diz “talvez eu seja um dependente para sempre, mas prefiro ser um dependente que não se droga” – me emocionou bastante. Foi o episódio em que mais me identifiquei. Extraordinário;

“O Adolescente Viciado” (Kate Davis & David Heilbroner): apesar de eu achar muito contundente que um rapazote de 15 anos se disponha a confessar diante das câmeras que já utilizou diversas drogas, o tom da entrevista e da narração é forçado. As intervenções da mãe e do padrasto do garoto acrescentam pouco ao tema, mas gostei da aparição de outro viciado, Ted, de 17 anos (vide foto), uma gracinha. Ao final, ele se reabilita e deixa a mãe orgulhosa. Por ele,valeu a pena;

• “Representação Cerebral” (Liz Garbus & Rory Kennedy): quiçá o segmento mais clínico do documentário, mostra a neurologista Nora Volkow explicando a um viciado em metanfetaminas de 45 anos como está o seu cérebro por causa da droga. Técnico, mas funcional;

• “Dependência de Opiáceos: Uma Nova Medicação” (D. A. Pennebaker & Chris Hegedus): apesar do imponente crédito directivo, é um segmento bastante convencional, sobre dois jovens viciados em barbitúricos que se submetem a um teste experimental com uma droga chamada Subuxone, mais efetiva que a Metadona. O final apelativo sobre o percentual de jovens estadunidenses que não possuem plano de saúde me desagradou, mas é leve e bem-intencionado;

• “Topiramato: uma Tentativa Clínica para o Alcoolismo” (Alan Raymond & Susan Raymond): clínico e subserviente, este segmento acompanha dois alcoólatras, um velho e um jovem, dispostos a abandonar o vício. Mediano. Não conseguiu prender a minha atenção;

• “Sindicato Local de Encanadores nº 638” (Barbara Kopple): divertido e muito simpático, mostra os esforços do sindicato do título para evitar que seus funcionários sucumbissem ao alcoolismo. Fica melhor quando termina, pois o tempo de reflexão assegura a honestidade da proposta;

• E, por fim, “Mágoas com o Plano de Saúde” (Susan Froemke): sobre as batalhas judiciais de mães que tiveram negados os direitos de cuidares de seus filhos narcodependentes em instituições médicas privadas.

Por mais irregular que seja o conjunto, achei que o documentário como um todo cumpriu muitíssimo bem o sue papel informativo e – por que não – emocionalmente apelativo. A comparação, num dado episódio, com a brecha que se abre para as drogas quando as injeções intraorgânicas de dopamina relacionadas à comida ou ao sexo não são mais efetivas foi-me particularmente importante. Dormirei pensando no assunto: era disso que eu precisava para terminar reflexivo o final de semana. Afinal de contas, tenho meus arremedos de vícios para administrar...

Wesley PC> 

domingo, 19 de agosto de 2012

ATÉ QUE SE PROVE O CONTRÁRIO, TRISTEZA E BELEZA RIMAM: NÃO DEVE SER À TOA...


Não deve ser à toa mesmo!

E, enquanto eu me recupero desta percepção, eu sinto, eu contemplo!

Deus do céu, quanta tristeza, quanta beleza!

Não deve ser à toa!

Wesley PC>

ACORDEI MAIS CEDO... E, ENTRE OUTRAS COISAS, OUVI O DISCO DUAS VEZES!

Na madrugada de hoje, sonhei que o irmão caçula de um amigo tinha Ney Latorraca como professor de Biologia. A fim de demonstrar uma dada função corpórea, ele recomenda aos seus alunos que vejam “Calígula” (1979, de Tinto Brass, Giancarlo Lui & Bob Guccione). Falei-lhe que eu possuía o DVD, mas a sua mãe ficou irritada, tachando-me de pornógrafo, enquanto, no banheiro, o menino se divertia masturbatoriamente com excertos sexuais de filmes videográficos ruins. Acordei me sentindo culpado, evidentemente.

 Apesar de ter dormido mais tarde que os demais habitantes da residência em que eu me encontrava, acordei muito mais cedo que eles. A fim de não incomodá-los, sentei-me debaixo de uma mesa e prestei atenção a “Havoc and Bright Lights” (2012), o disco mais recente de Alanis Morissette, cantora canadense que chegou a ser a minha favorita durante a adolescência.

Oficialmente, ainda gosto muito desta cantora e compositora hoje em dia, mas seu disco mais recente é desagradável: ao invés da sonoridade revoltosa e das letras epanafóricas que a consagraram, o disco investe numa roupagem ‘pop’, em que todas as doze canções investem na fórmula: estrofe → refrão →  estrofe modificada → estrofe → refrão repetido. Decepcionei-me deveras com o disco: as canções são enfadonhas, muito parecidas entre si, um porre. Porém, na segunda audição, pude perceber alguns méritos discretos.

 A primeira faixa, “Guardian”, versa sobre a gravidez da cantora e, para além de sua subsunção formulaica, possui um refrão grudento e uma letra propensa à minha identificação, o que também quase acontece na faixa 02, “Woman Down”, muito melhor quando lida do que quando ouvida. As demais faixas, conforme fiz questão de dizer, são muito parecidas entre si, havendo uma ou outra modificação em “Celebrity” (faixa 04, negativa) e “Empathy” (faixa 05), “Spiral” (faixa 07) e “Havoc” (faixa 09), positivas. Acho difícil que eu venha a gostar deste disco no futuro – por mais que as suas audições repetidas de hoje tenham-no cravado na minha zona de memórias afetivas – e, por isso, não me atrevo ainda a redigir uma resenha mais demorada acerca do conteúdo do álbum. Mas talvez ainda volte a falar sobre ele, não obstante frisar que, aqui, Alanis Morissette me decepcionou bastante. Talvez seja (mais) um sinal...

Wesley PC>