sexta-feira, 23 de novembro de 2012

NÃO QUE EU NÃO TENHO O QUE DIZER... MUITO PELO CONTRÁRIO, ALIÁS: A FELICIDADE É MENOS CRIATIVA QUE A CONSTERNAÇÃO?

Trabalhando com três exemplos práticos:

 1 - Na noite de anteontem, ganhei um pacote de ração de cachorro de uma vizinha.Era uma marca cara, um pacote quase cheio, mas me ocupei com um ato bem-sucedido de felação, ansiado há quase três meses, e esqueci de levar o presente para casa. Na manhã de hoje, ao lembrar do fato, fui buscá-lo, e ouvi de minha vizinha: "tu és mal-agradecido mesmo, não é?". Pedi-lhe desculpas, levei a ração para casa, meu cachorro gostou!

2 - Na manhã de hoje, finalmente assisti ao único filme de François Truffaut que ainda não tinha visto, "A Sereia do Mississipi" (1969), sobre um homem rico e solitário que se apaixona pela mulher que finge ser a noiva por correspondência que ele arranjou. Ela a trai, o rouba, o engana, o envenena, mas ele a ama, ficará ao lado dela até que a morte os alcance. A obra mais hitchcockiana do "cineasta do amor difícil", mas nem por isso menos genial ou autoral...

3 - Meu nariz está entupido e eu gosto do sabor de sêmen! Reticências...

Wesley PC>

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

PARA MEU QUERIDO AMIGO RAFAEL ALCÂNTARA OU “O QUE MAIS EU POSSO DIZER SOBRE ISTO? DIGA-ME!”

Uma passagem rápida de olho por este texto prévio deixa entrever o quanto fiquei contente ano passado, quando, ao lado de alguns de meus melhores amigos, assisti a uma boa seleção de canções sergipanas no palco do Teatro Tobias Barreto. No ano seguinte, as mesmas canções seriam gravadas em CD e, ao saber deste evento, fiz questão de convidar mais alguns melhores amigos para me acompanharem durante o espetáculo. Deus do céu, como me envergonhei do que vi e ouvi no palco do Teatro Atheneu! Ao contrário do ano passado, em que os próprios compositores apresentaram e defenderam, mal ou bem, as suas canções, um ‘pout-porri’ com todas as canções foi empurrado goela abaixo da platéia: apesar de a banda responsável por esta apresentação ser instrumentalmente muito boa e versátil, o quarteto de cantores selecionado para esta “homenagem” desrespeitou sobremaneira o que foi cantado, distorcendo todas as canções, transformando tudo num ‘show’ de horrores, no pior sentido do termo!

 Eu e meus amigos ficamos tão negativamente dilacerados durante aquela apresentação (será que os compositores gostaram daquilo?) que saímos correndo do ambiente quando vimos que personalidades “ilustres” foram convocadas para subir ao palco, a fim de receberem, por parte dos organizadores do evento, honrarias simbólicas imerecidas, em minha opinião de observador apaixonado. Aliás, neste ponto desta postagem devo acrescentar que geralmente rejeito as reclamações imediatistas contra o suposto provincianismo aracajuano, mas precisei admitir que, no contexto em pauta, as reclamações fizeram sentido! Tínhamos que fazer algo para nos livrarmos dos maus augúrios despejados naquele teatro: fomos a uma pizzaria, eu e meus amigos, logo em seguida, empunhando, cada um de nós, os CDs que recebemos quando adentramos o teatro. Ali, sim, as canções são executadas como são devidas, valorizadas até mesmo em seus defeitos estruturais indicativos de personalidade e tentativa. E quase que me esqueço de publicar algo sobre o tal evento, mas, sinceramente, o que mais dizer? Vergonha, meu Deus, pura vergonha! Espero que esta crônica apressada tenha sido de teu agrado, querido Rafael Alcântara... Foi o que eu pude extrair, por ora!

 Wesley PC>

A HISTÓRIA, O TEMPO, AS MENSAGENS SOBRELIMINARES...

Gosto muito de filmes compostos por episódios internacionalizados, não obstante admitir que, no século XXI, em particular através das ideias de alguns produtores franceses, este tipo de filme vem se tornando uma concepção fetichista de cinema intra-referencial, realizado menos por seus méritos qualitativos e/ou necessidades de expressão que pela observação percuciente de que cinéfilos gastam dinheiro para brincar de adivinhar quem está por detrás de pequenos projetos orientados por uma temática geral.

 Foi assim, portanto, que eu me senti obrigado a ver “Lumière e Companhia” (1995), dirigido por 41 diretores, que, a convite de Philippe Poulet, realizaram micrometragens de mais ou menos cinquenta segundos, utilizando a câmera inventada em no final do século XIX pelos irmãos Auguste e Louis Lumière, e seguindo algumas regras elementares, como não utilizar som sincronizado. Os resultados foram bastante divergentes: não tive acesso aos episódios de Sarah Moon e Nadine Trintignant, nem assisti às transições entre os segmentos, quiçá importantes em sua assunção de intentos directivos, já que os cineastas explicavam alguns esboços de suas ideias. De longe, os meus segmentos favoritos foram aqueles dirigidos por Zhang Yimou (que converte um casal de atores de ópera clássica num dueto ‘punk’, em plana Grande Muralha da China), Gabriel Axel (que, num plano-seqüência, torna simultâneas ações como uma filmagem ao ar livre e um duelo), Alain Corneau (que encanta fazendo uma mulher dançar enquanto é iluminada por diversas cores implantadas na película), Arthur Penn (que mostra um oriental lambendo entusiasticamente o sangue de uma mulher negra parindo uma criança), Andrei Konchalovsky (que focaliza um cachorro em decomposição diante de uma paisagem árida), Constantin Costa-Gravas (que inverte as expectativas e põe crianças para encarar os espectadores), Michael Haneke (que amalgama vários trechos telejornalísticos violentos de um dia qualquer de 1995), James Ivory & Ismail Merchant (que filmam uma paisagem londrina típica do início do século XX ser invadida por uma filial do McDonald’s) e Bigas Luna (que mostra uma camponesa nua amamentando o seu filhinho numa plantação).

Dentre os episódios quase anódinos (homenagens e autocitações), merecem destaque os segmentos dirigidos por Wim Wenders (que põe em cena os famosos anjos de um díptico magistral de filmes dirigido por ele mesmo), Peter Greenaway (que experimenta com a evolução dos anos e nudez, num filmezinho que lembra bastante os testes de Étienne-Jules Marey), Claude Miller (numa brincadeira de crianças tipicamente lumiereana), David Lynch (que cria um “clima” muito mais do que parece querer contar uma estória de mistério), Jaco Van Dormael (que registra o beijo apaixonado de um casal com Síndrome de Down, excepcionalidade que já foi tema de um de seus filmes), Fernando Trueba (que faz um homem atravessar a rua em direção à tela como uma realização do século retrasado), Spike Lee (que tenta fazer com que um bebê fale “papai!” pela primeira vez), Idrissa Ouedraogo (que se diverte com um blague de banhistas num rio, quando um deles imita um jacaré e assusta os demais), Youssef Chahine (que zomba dos ‘takes’ turísticos diante das pirâmides egípcias, fazendo com que um homem irritado quebre a câmera dos personagens), Cleude Lelouch (preocupado com um beijo captado simultaneamente por diversas máquinas de filmar), Gaston Kaboré (fazendo piada com meninos que são obrigados a transportar latas de negativo fílmico para um cinema), Patrice Leconte (numa pouco inspirada filmagem da chegada de um metrô à estação, que não pára), Raymond Depardon (e uma encantadora brincadeira de crianças diante de uma estatua antiga), Abbas Kiarostami (que frita um ovo enquanto pessoas tentam conversar ao telefone),Hugh Hudson (um tanto autocomplacente em sua rememoração traumática da bomba de Hiroshima, mas impactante quando revisto), Cédric Klaplisch (e os desencontros de um casal de bailarinos), Vicente Aranda (que reconstitui os desfiles militares vencedores de outrora) e Lucian Pitillie (que mostra um casal embarcando num helicóptero, cuja força do ar proveniente de suas hélices em movimento devasta tudo ao redor).

 Em relação aos episódios que não apreciei, lamento ter me deparado com os segmentos dirigidos por Liv Ullmann (sem inspiração numa ode deslumbrada à câmera antiga), François Girod (e uma péssima crítica espúria ao fascínio publicitário), Theos Angelopoulos (e um chiste com um personagem homeriano diante da câmera), John Boorman (e soldados que posam, em meiop à bagunça de uma filmagem cinematográfica nas ruas), Merzak Allouache (e uma denúncia pífia do machismo muçulmano), Lasse Hälsstrom (e um episódio que eu não entendi o que quis dizer, de tão óbvio: uma mulher embalando uma criança nos braços enquanto o trem passa), Helma Sanders-Brahms (e uma evocação deslumbrada e equivocada de um iluminador de cinema do passado, Louis Cochet), Jerry Schatzberg (e a cidade, focalizada em plano frontal, apenas), Regis Wárgnier (e uma idéia semelhante à de Fernando Trueba, muito mais londrina que parisiense), Yoshishige Yoshida (e vários planos urbanos atravessando horizontalmente a tela) e, por fim, Jacques Rivette (numa emulação infantil primeva). Espero não ter esquecido ninguém! 

 No geral, as intenções são boas, o filme é bastante irregular, mas, fetichista como eu sou, não tive como me esquivar de uma qualificação elogiosa: ótimo projeto!


Wesley PC>

terça-feira, 20 de novembro de 2012

SE EU LIGASSE PARA TUA CASA E DISSESSE: “EI, NÃO TE MASTURBES NO BANHO HOJE, POIS QUERO CHUPAR TEU PAU MAIS TARDE!”, RESOLVERIA?

Quando fui apresentado ao disco “The Haunted Man” (2012), da cantora britânica Natasha Khan, cognominada Bat for Lashes no disco e nos palcos, disseram-me que sua sonoridade emulava PJ Harvey e Björk. Ou seja, fiquei logo interessado e fiz questão de baixar o disco na mesma hora. Ouvindo-o, achei suas canções aparentadas às entoações um tanto místicas de Florence + The Machine, banda de que também gosto bastante. Logo, apreciei sobremaneira o disco, que é o que mais ouço nesta última semana, permeada, até então, por uma gripe intensa que eleva minha sinusite ao píncaro do fedor purulento e pela vontade desesperada de estar novamente ao lado do pênis de um rapaz que me conforta há uma dezena de anos, mas que calhou de ser esmagado pelo trabalho com o passar do tempo. É como se fosse a trilha sonora branda de um desespero abstinente que não soçobra a minha felicidade hodierna: sim, ainda me sinto feliz!

 A faixa inicial, “Lillies”, dá o tom do disco, antecipando as inevitáveis comparações com “Ceremonials” (2011), de Florence + The Machine, comentado entusiasticamente aqui. Entretanto, a faixa que mais me cativou numa primeira audição foi a número 02, “All Your Gold”, melancólica e dançante ao mesmo tempo. O auge do disco surge em “Oh, Yeah” (faixa 04), sensual, gemebunda e melancólica ao mesmo tempo, a ponto de assustar minha mãe sempre que é executada (risos):

 “Here am I 
Looking for a love to climb inside
 Waiting like a flower to open wide 
I'm in bloom!”! 

A lamentosa faixa 05 (“Laura”) também é muito boa, de modo que, se fosse um filme, eu o classificaria como ‘noir’, de tao positivamente retrô que é. Numa avaliação geral, portanto, o disco [composto por onze faixas, sendo particularmente elogiáveis, além das faixas citadas, "Winter Fields" (06), a canção que intitula o disco (07), "Rest Your Head" (10)] é muito bom: não o associo às referências que me foram recomendadas, mas, dada a similaridade vocal e estilística com os arroubos de criatividade espetaculoso-melancólica, eu aprovo Bat for Lashes sim, senhor! Quando tiver mais tempo, ouvirei os discos anteriores da cantora [“Fur and Gold” (2006) e “Two Suns” (2009)]. Enquanto isso, anseio pala saciação de minhas carências felacionais, as quais continuo a compensar com boa música!

 Wesley PC>

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

PALAVRAS-CHAVE: ENFRENTAMENTO VERSUS RETROALIMENTAÇÃO!

O curta-metragem “Vista Minha Pele” (2008, de Joel Zito Araújo), descoberto por acaso no início da tarde de hoje, em decorrência da necessidade de palestrar sobre “A Negação do Brasil” (2000, do mesmo diretor, comentado aqui), me impressionou pela originalidade de sua concepção: num mundo “invertido”, em que países como França e Inglaterra são pobres e os negros dominam aquisitivamente os brancos, a personagem Maria, filha da faxineira do colégio em que estuda, sonha em se tornar a Miss Festa Junina da escola. O problema é que, por ter a pele clara, ela sofre muita discriminação racial e tem seus sonhos naufragados pelo preconceito. Sua melhor amiga negra, entretanto, insiste para que ela não desista. Ao final, Maria perceberá que, mais importante que vencer, é fomentar o debate e, para além dos defeitos estruturais do filme (exemplo dominante: fazer com que Maria imite os brancos que a oprimem), a idéia é ótima!

 Quando me convidaram para comentar “A Negação do Brasil”, em relação ao qual tenho muitas restrições estéticas, não destacaram que a plateia seria predominantemente infantil, de modo que eu titubeei por alguns instantes antes de começar a falar: “como ser inteligível sem subestimar a inteligência proveitosa destas crianças?”. Para minha sorte, os garotinhos foram bastante interativos, contribuíram com exemplos pertinazes e, ainda melhor, um deles fez um gancho absolutamente genial com a “invenção” técnica da AIDS como ferramenta socialmente higienizadora. Ao invés de “ensinar”, eu aprendi com aquele debate: aprimorei não apenas o modo como lidar com a inteligência infantil como me surpreendi deveras com a sua capacidade impressionante de associação crítica. E, a cada duas frases, eu insistia para que eles vissem o curta-metragem supramencionado. Faço o mesmo aqui: vejam “Vista Minha Pele”, pois este filme retroalimenta o debate e o enfrentamento!

Wesley PC>

domingo, 18 de novembro de 2012

“AMOR É O CARALHO!”? TAMBÉM, TAMBÉM...

Há pouco, recebi o telefonema de duas mulheres que amo. Cada qual a seu modo, ambas demonstraram uma histeria pré-etílica no que tange à relação de valorização perpétua do amor como algo que vale muito a pena sentir, ainda que eventualmente doa, nos faça ficar com o coração pesado. E eu senti muito amor por elas duas enquanto escutava suas belas vozes ao telefone. E, ao desligar o aparelho, continuei sentindo amor, algo que me atingiu particularmente em cheio desde a tarde de hoje, quando iniciei a minha maratona integralizante da obra de Ingmar Bergman e vi um filme amargo sobre o qual pouco falam: “A Paixão de Ana” (1970).

 No filme, dor e amor se equiparam, se entrecruzam, quase competem pelo mesmo espaço no coração dos personagens, se estes não se destinassem de antemão a fazer ambos os sentimentos coexistirem. E, num lance genial de direção, o gênio sueco faz com que o seu quarteto de atores julgue os seus personagens, demonstrem que estão absolutamente imbricados com eles, sentindo nas peles as conseqüências de seus atos de amor (e dor). Um filme que me perturbou deveras, a ponto de eu me obrigar a revê-lo muito em breve. Pois eu amo e preciso disto. E, apesar de concordar que há dor neste processo, ainda me sinto feliz. Hoje, numa madrugada calorenta, eu me sinto feliz!

 Wesley PC>