"Cachoeira" (2010, de Sérgio Andrade) é um filme que começa muito bem, mas, ao final de seus quatorze minutos de duração, deixa a impressão de que poderia ser mais incisivo em seu tema, que é a implantação de vícios etílicos numa população indígena amazonense, cujos adolescentes suicidam-se num ritual regado a 'heavy metal', rituais em cemitérios e entregas corporais diante da beleza da Natureza.
O protagonista do filme, um tal de Begê Muniz, deixou eu e os meus companheiros de sessão em estado de hipnose encantatória: não apenas precisamos conferir o longa-metragem que este ator realizou ao lado do mesmo diretor ["A Floresta de Jonathas" (2012)] como a denúncia presa na respiração ofegante de seu personagem ainda ecoa em minha mente. "Cachoeira" é um filme curto e equivocado, mas, ainda assim, diz bastante - e sim, estou sendo propositalmente evasivo nesta breve nota suprimida pelo sigilo sarcástico!
Wesley PC>
sábado, 15 de dezembro de 2012
sexta-feira, 14 de dezembro de 2012
“T.F.P.” OU A PRETENSA LIBERDADE SEXUAL ENQUANTO DOGMA?
Depois de receber um bem-vindo convite, por parte de uma simpaticíssima
professora, para apresentar alguns aspectos da pornochanchada brasileira numa
aula do curso de Audiovisual, em janeiro próximo, ansiei para chegar em casa e
ver “Eva, O Princípio do Sexo” (1981, de José Carlos Barbosa), exibido pela
primeira vez na TV brasileira, através do Canal Brasil.
No início, o filme pareceu que não me agradaria: uma
animação chistosa, a apresentação caricatural de uma família de classe média,
em que o filho adulto ainda é virgem e a sua irmã uma desbocada incestuosa... Suspeitei
de fosse uma pornochanchada pouco inspirada. Algo no discurso da protagonista,
entretanto, me deixava com suspeitas discursivas: a insistência em farpas
contra a família, por parte da protagonista (vivida pela bela Lia Furlin –
mostrada numa foto pessoal, pois simplesmente não encontrei nenhuma imagem do
filme na Internet!), aliada a elogios irrestritos à libertinagem, fazia pensar
que o filme iria além da gratuidade erotógena. Talvez tenha ido, talvez não
(ainda estou pensando sobre o que o filme me causou), mas, ao final, o filme me
desagradou, de fato. Mas não é completamente ruim: há o que ser aproveitado
ali!
Depois que seduz o abestalhado virgem prometido em casamento
para uma noiva rica, Eva instaura o questionamento dos valores pequeno-burgueses
na família protagonista – até que um padre surja e tente reimplantar o poderio
eclesiástico, pelo menos! Assim sendo, ela permite que a filha devassa
descortine a razão de sua rebeldia (flagrou o seu namorado fodendo uma desconhecida
ao ar livre) e descobre que o extremo moralismo do pai advém de um trauma
infantil, quando flagrou a mãe traindo o seu pai ausente. Diversas seqüências
de sexo explícito (uma delas, bastante demorada e com inusitados ‘close-ups’
penianos de ereção e felação, proibidíssimos na época em que o filme foi lançado!) são
requeridas, mas, ainda assim, o filme é falho em seu endosso freudiano da
necessidade de libertar-se sexualmente: tudo parece muito impositivo,
forçadamente cínico, inconvincente. Não sei até que ponto o filme me excitou
(os atores são feios, as cenas de sexo são invasivas), mas tenho certeza de que
precisarei me deter bastante sobre este filme quando estiver redigindo a minha
dissertação de Mestrado: não apenas não conhecia este diretor como há algo de
muito estranho em sua descoberta tardia...
Pedi para que um vizinho também assistisse ao filme, para
que eu tivesse com quem comentar as esquisitices que vi na tela (o sobejo de
cenas aproximadas de masturbação feminina me pareceu bem-vindo? Pensando nisso
ainda...). Não consegui conversar com ele ainda, mas dormi estafado: o filme
extenua em sua imposição libertina: faça sexo irrestritamente, sob pena de ser
confundido com um reacionário – eis o que apregoa a obra. Não concordo com este
maniqueísmo barato, mas, tendo sido realizado no ano em que nasci, este filme
merece crédito pela ousadia contestatória, ainda que muito equivocada. Ter
tentado, neste caso, equivale a (quase) ter conseguido. Com todas as restrições
advindas de minha má apreciação do filme, tenho que dizer: parabéns pela
ousadia desengonçada, José Carlos Barbosa!
Wesley PC>
quinta-feira, 13 de dezembro de 2012
SOBRETUDO, DEIXAR-SE SURPREENDER...
Ou de como um pai reservado, um filho invasivo, maquiagem e a canção "Odara", do Caetano Veloso, contribuem para formatar um curta-metragem tão divertido quanto apaixonante em suas possibilidades de identificação: "Uma, Duas Semanas" (2012, de Fernanda Teixeira) é muito, muito bom!
Wesley PC>
quarta-feira, 12 de dezembro de 2012
“É MELHOR ESTAR LONGE E SE SENTIR PRÓXIMO QUE ESTAR PERTO E SE SENTIR DISTANTE...”
Pouparei os eventuais leitores deste ‘blog’ de mais uma crise elogiosa acerca do seriado televisivo “Glee”: acabo de assistir ao quinto episódio da quarta temporada do mesmo – “The Role You Were Born to Play” [“O Papel que Tu Nasceste para Representar”] – e me impressionei com a sua qualidade emocional e com o bom gosto na seleção das canções. Gostei muito do que vi e ouvi, não posso mentir!
Para além de deslizes recorrentes envolvendo a sanha competitiva – metonimizada na rixa entre uma líder de torcida cristã e um meio-negro abobalhado versus uma rapariga pobre mas formosa e um cara desengonçado porém lindo e talentoso – este episódio me encantou não apenas pela pungente interpretação de “Hopelessly Devoted to You” (canção originalmente interpretada por Olivia Newton-John) por um ‘gay’ que traíra o seu namorado durante um instante de carência sexual, mas principalmente pela surpreendente tomada de partido em defesa de um travesti negro adolescente, chamado Unique (vivido corajosamente por Alex Newell), que se sente deslocado no colégio por não se sentir bem em roupas masculinas e, ao mesmo tempo, ser impedido de se vestir como menina. Quem diria? Definitivamente, a TV norte-americana abraçou a causa ‘gay’ mais extensiva, o que é absolutamente compreensível dada a amplitude consumista relacionada ao fato.
A inevitabilidade contestatória do parágrafo anterior, entretanto, não faz soçobrar a minha empolgação: mais uma vez, amei este episódio. Muito bom! “Glee” voltou a ser o ótimo seriado evasivo que me conquistou, que tão bem funcionou em sua (nem tão) clicherosa defesa de que “sonhos não são de graça”. Sem contar que Cory Monteith está ainda mais lindo como o Finn Hudson recém-formado de cabelo cortado e, agora, assumindo a direção do coral da escola: estou apaixonado, sou um idiota e não tenho vergonha nem da primeira nem da segunda confissão!
Wesley PC>
Para além de deslizes recorrentes envolvendo a sanha competitiva – metonimizada na rixa entre uma líder de torcida cristã e um meio-negro abobalhado versus uma rapariga pobre mas formosa e um cara desengonçado porém lindo e talentoso – este episódio me encantou não apenas pela pungente interpretação de “Hopelessly Devoted to You” (canção originalmente interpretada por Olivia Newton-John) por um ‘gay’ que traíra o seu namorado durante um instante de carência sexual, mas principalmente pela surpreendente tomada de partido em defesa de um travesti negro adolescente, chamado Unique (vivido corajosamente por Alex Newell), que se sente deslocado no colégio por não se sentir bem em roupas masculinas e, ao mesmo tempo, ser impedido de se vestir como menina. Quem diria? Definitivamente, a TV norte-americana abraçou a causa ‘gay’ mais extensiva, o que é absolutamente compreensível dada a amplitude consumista relacionada ao fato.
A inevitabilidade contestatória do parágrafo anterior, entretanto, não faz soçobrar a minha empolgação: mais uma vez, amei este episódio. Muito bom! “Glee” voltou a ser o ótimo seriado evasivo que me conquistou, que tão bem funcionou em sua (nem tão) clicherosa defesa de que “sonhos não são de graça”. Sem contar que Cory Monteith está ainda mais lindo como o Finn Hudson recém-formado de cabelo cortado e, agora, assumindo a direção do coral da escola: estou apaixonado, sou um idiota e não tenho vergonha nem da primeira nem da segunda confissão!
Wesley PC>
Marcadores:
adolescência,
auto-ajuda,
clichê,
CONFISSÃO Chistosa,
consumismo defensivo,
epigênese da beleza,
fórmulas ideológicas,
música pop,
paixonites obsessivas,
seriado de tv,
surpresa midiática,
travestismo
UMA CHAGA QUE ME RASGA POR DENTRO, UMA MESMA CANÇÃO ‘POP’ REPETIDA N VEZES, O CANSAÇO FÍSICO, A TRAIÇÃO, O SOMATÓRIO DE TODOS ESTES RECEIOS, O ESCARAVELHO EM MINHA CAMA... A FORÇA QUE PROVÉM DE MEUS AMIGOS FIÉIS, EM SUMA!
Nunca tive pretensões de fingir que desgosto da cantora
estadunidense Lana Del Rey: para além de suas obsessões videoclipescas pelo imaginário
da bandeira norte-americana e pelas acusações confirmadas de que ela é uma
invenção fonográfica com prazo de validade definido, aprecio sua voz lamuriosa,
os temas mórbidos e/ou lúbricos de suas canções. Em “Paradise”, EP lançado na
segunda metade de 2012 [ano em que ela também nos legou o belíssimo “Born to
Die” (2012)], Lana Del Rey apresenta nove canções, sendo que pelo menos metade deste repertório é encantador para
mim...
Desde a
abertura do disco, ao som de “Ride”, canção que não me apetecia muito no início,
mas que hoje me fisga pungentemente, ao término providencial com “Burning Desire”,
encontramos faixas inusitadas como “Cola” (a terceira do álbum, em que ela compara
o sabor de sua vagina ao do refrigerante Pepsi) e a regravação de “Blue Velvet”
[quinta faixa, uma canção antiga que foi redescoberta pelas novas gerações
depois que se tronou tema homônimo da obra-prima de David Lynch, “Veludo Azul”
(1986)]. Porém, a canção que mais me faz sentir apaixonado – e um tanto
entristecido, admito – é a segunda, justamente nomeada com o repugnante título –
em seu coerente sentido ideológico – “American”. Na noite de ontem, inclusive,
tendo chegado cansado de uma aventura cinefílica solitária e entremeada por
pavores reais e imaginados, ouvi esta mesma faixa diversas vezes:
“You make me crazy, you make me wild
Just like a baby, spin me round like a child
Your skin so gold and brown…
Be young, be dope, be proud
Like an american”
Como estes versos (obviamente
deslocados de seu contexto original) me fizeram sentido nesta noite de temor e
cansaço! Mais do que temer o escaravelho que pode novamente se esconder em
minha cama, sentia na alma a chaga desagradável de um arremedo de traição. Quem
mais fere é quem fingiu estar próximo! Vou tentar dormir agora... Depois de
ouvir mais um pouco de Lana Del Rey, é claro, sem medo de ser (in)feliz: amo os
meus amigos, amo, amo, amo – os verdadeiros, diga-se de passagem!
Wesley PC>
terça-feira, 11 de dezembro de 2012
NUMA PALAVRA: FELIZ!
Eu tenho os melhores amigos do mundo! Ponto.
Como esquecer o que experimentei nesta segunda-feira, 10 de dezembro de 2012, quando uma sessão de "A Felicidade Não Se Compra" (1946, de Frank Capra) desencadeou algumas das lágrimas mais belas e felizes com que já tive contato em minha existência? Como? Estou felicíssimo: viver é algo absolutamente maravilhoso!
Wesley PC>
segunda-feira, 10 de dezembro de 2012
“O MUNDO INTEIRO É UM CARRO VELHO ONDE A GENTE PULA, DEITA E ROLA”...
Quanto mais se mergulha no cinema brasileiro, mais se
descobre que ainda se tem muito a descobrir: na tarde de hoje, por mero acaso,
fui apresentado a um trio de comediantes [formado por Mário Alimari (Feneguetti),
Sandrini (Mexilin) e Rony Cócegas (Maionese)] que, no final da década de 1970,
estrelou um programa cômico na TV Tupi que imitava descaradamente Os Três
Patetas estadunidenses.
Sem que eu sequer tivesse ouvido falar deles até o dia de
hoje, conheci um filme pretensamente infantil chamado “Os Pankekas e o
Calhambeque de Ouro” (1979, de António Moura Mattos), deveras assemelhado ao
estilo nonsense d’Os Trapalhões, no qual o trio troca uma galinha por um
calhambeque velho, que calha de ser o veículo do título, feito de ouro por um
assaltante de banco que, assim, tencionava ultrapassar as fronteiras do Estado
de São Paulo e fugir tanto da Polícia quanto de seu mafioso contratador, que
era justamente o presidente do banco onde estavam as barras de ouro que
serviram para a confecção do calhambeque. O roteiro de Emanoel Rodrigues,
entretanto, evita se prender à sinopse apresentada na ficha técnica do filme e
desperdiça as possibilidades de graça a partir da personificação do veículo,
que pisca os olhos/faróis e anda sozinho quando lhe convém. O início do filme é
muito divertido, mas, do meio para o final, apesar de sua curta duração (apenas
81 minutos), os resultados são desinteressantíssimos, principalmente por causa
do excesso de perseguições bobocas e aceleradas (uma delas, numa boate com
dançarinas e sheiks árabes; outra, num parque de diversões que se beneficia de
vantagens publicitárias) e do alavancamento de personagens policialescos
secundários, mas, não vou mentir: achei engraçada a insistência do personagem Maionese
em repetir o seu jargão “na manteiga!”.
Para além (ou aquém) dos muitos defeitos estruturais do
filme, conhecer o cinema brasileiro é sempre muito recompensante. Por isso,
tenho a plena certeza de que, antes de chegar ao final de meu Mestrado, Paulo
Emílio Salles Gomes e Jean-Claude Bernardet tornar-me-ão um homem mais intelectualmente
feliz do que eu sou agora...
Wesley PC>
"MÃE, EU NÃO TIVE FÉ!"...
A vida é bela, súbita, estranha e maravilhosa, e coisas estranhas e valorativas acontecem o tempo inteiro: na tarde de ontem, assisti por acaso a um interessantíssimo curta-metragem baiano chamado "Olho de Boi" (2011, de Daniel Lisboa), no qual um garotinho oprimido por seus vizinhos violentos e tendentes ao narcotráfico recorre a um "preto velho" para imbuir-se de forças para enfrentar os seus agressores. Na hora H, ele titubeia, cede e chora. Não posso dar muitos detalhes acerca do que aconteceu, a fim de não atrapalhar o prazer de quem ainda verá o filme, mas me impressionou positivamente...
Quando vi o filme, eu estava tendo um ataque de fobia urbana dominical. Corri para um ponto de ônibus, encontrei alguns amigos de trabalho, sorri, comi e, ao chegar em casa, não consegui dormir a contento: uma vizinha grávida e largada pelo namorado brigava com o pai, o ofendia, o agredia com palavras ofensivas, em razão de ele estar sempre bêbado. Na manhã de hoje, a mesma vizinha lamentava a morte do mesmo: ele falecera, engasgado no próprio vômito etílico. E eu senti compaixão por ela, mas... O que fazer? Como bem disse minha mãe, quando três ambulâncias pararam diante de nosso portão, "a vida é bela, mas, a qualquer momento... puft!".
É isso mesmo: por isso, mais tarde, eu e meus melhores amigos estaremos juntos. Vida é bela quanto se estar junto de quem se ama. A vida é bela quando se tem fé!
Wesley PC>
Quando vi o filme, eu estava tendo um ataque de fobia urbana dominical. Corri para um ponto de ônibus, encontrei alguns amigos de trabalho, sorri, comi e, ao chegar em casa, não consegui dormir a contento: uma vizinha grávida e largada pelo namorado brigava com o pai, o ofendia, o agredia com palavras ofensivas, em razão de ele estar sempre bêbado. Na manhã de hoje, a mesma vizinha lamentava a morte do mesmo: ele falecera, engasgado no próprio vômito etílico. E eu senti compaixão por ela, mas... O que fazer? Como bem disse minha mãe, quando três ambulâncias pararam diante de nosso portão, "a vida é bela, mas, a qualquer momento... puft!".
É isso mesmo: por isso, mais tarde, eu e meus melhores amigos estaremos juntos. Vida é bela quanto se estar junto de quem se ama. A vida é bela quando se tem fé!
Wesley PC>
Marcadores:
amizade,
amor puro e simples,
cinema,
família,
flores para os não-mortos,
identificação perigosa,
piada interna,
religião,
sobrevivência,
surpresa midiática,
vida real
Assinar:
Postagens (Atom)