sábado, 5 de janeiro de 2013

SER MARGINAL, HOJE EM DIA, NÃO ESTÁ MAIS ATRELADO AO HEROÍSMO: À MARTIRIZAÇÃO, TALVEZ!


Enquanto via o inspirado “Barra Pesada” (1977, de Reginaldo Faria) na TV, incomodava-me ao pensar insistentemente que boa parte dos textos publicados neste ‘blog’ seria mal-vista se lida por pessoas que conversam comigo todos os dias mas, ainda assim, é como se não me conhecessem. Se, antigamente, estar atrelado à marginalidade assegurava um estatuto secundário de entendimento intelectual (a análise superficial do filme em pauta me fez pensar nisso), hoje, este suposto entendimento intelectual é um estatuto de marginalidade em si, sendo cada vez menos compreendido ou defendido por causa da situação depauperada dos órgãos midiáticos atuais. Tal como previra os sábios inventores de distopias literárias, é perigoso pensar!

Oficialmente, estou evitando entrar a fundo no assunto de propósito (uma “ameaça” recente ainda paira sobre minha cabeça), mas esforço-me para não incorrer numa espécie de autocensura, relacionada ao temor de ver minhas palavras utilizadas como armas contra mim. Se elas são minhas palavras, nada mais adequado que elas sejam minhas armas, pensava eu num instante posterior de idealização, mas... O mundo não é como eu penso, já me disseram isto mais de uma vez!

No filme, o protagonista, vivido por um jovem e bonito Stepan Nercessian, é um menino de rua mnemonicamente perseguido pelas imagens de sua mãe prostituta ateando fogo contra si mesma. Baseado num livro de Plínio Marcos, chamado “Quebradas da Vida”, este enredo foi filmado novamente em 2007, numa agradável versão de nome “Querô” (dirigido por Carlos Cortez). Porém, o original setentista é muito mais interessante em sua ambigüidade valorativa, em sua aparente supressão das crises de consciência que afligem os personagens quando precisam assassinar ou denunciar pessoas que, minutos antes, eram considerados seus amigos ou, na pior das hipóteses, companheiros de miséria. É um filme seco, sujo, mas pulsante em seus sopros de vida, muito bem ecoados na ótima trilha sonora instrumental de Edu Lobo.

Para falar a verdade, achei a segunda metade do filme – centrada na perseguição do protagonista por alguns traficantes de droga, irritados depois que ele mata um “aviãozinho”, no afã por conseguir uma arma – chata em relação à primeira, permeada por bichas loucas e relações sexuais convertidas em meros estratagemas para obtenção de benesses, como um simples sanduíche ou dinheiro para pagar uma divida de jogo. Querô repetia para si mesmo que se tivesse um revólver em suas mãos, estaria com a razão do seu lado. Eu discordava dele, mas torci por ele até o fim. Queria que ele se regenerasse, se apaixonasse (o que chegou a acontecer, inclusive), entendesse que os amigos são importantes, mas o mundo não é como eu quero, como eu percebo... Até mesmo filmes realistas e cheios de (sobre)vida como este que descrevo fazem questão de me provar isto. E ser marginal é importante – martirizante ou não, ainda é!

Wesley PC> 

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

“NÃO SE PODE SER FELIZ NESTA VIDA, JULIANA. DEVE-SE!”


O diálogo titular é proferido num ‘flashback’ sonoro de “O Banho Turco” (1997), filme de estréia do diretor turco, mas radicado na Itália, Ferzan Özpetek, especialista em temáticas homossexuais pequeno-burguesas, que podem ser tão emocionalmente fascinantes [“Saturno em Oposição” (2007); “Um Dia Perfeito” (2008)] quanto sociologicamente irritantes [“O Primeiro que Disse” (2010)]. Oficialmente, este quarteto de filmes citado foi apenas o que vi do diretor, mas, diante do que ele demonstra no seu filme inaugural, parece que, nalgum momento realizará uma obra-prima pederasticamente setorial: “O Banho Turco” é muito, muito bom! O motivo: ao contrário da maioria dos seus filmes, em que um acontecimento privado contamina o que está ao redor, aqui os rumores citadinos invadem o protagonista rico (vivido por um sensual Alessandro Gassman, à direita na foto), de modo que, a cada passeio pela cidade de Istambul, os sons, gritos, cores e lampejos de beleza turca contaminam-no, conduzindo-o até mesmo às práticas homoeróticas que atestam de vez a crise de seu casamento...

Na trama, o protagonista Francesco herda uma casa de banhos descuidada de uma tia recém-falecida. Ao ler um conjunto de cartas que estavam jogadas num canto, Francesco afeiçoa-se ao local, além de se apaixonar por um dos funcionários. Sua esposa Marta (Francesca d’Aloja, ótima) aos poucos também se deixará contaminar pelos elementos citadinos turcos, principalmente depois que uma inesperada tragédia encontra em Francesco uma vítima fatal da incompreensão. E, se eu fiz questão de conservar o nome próprio feminino na frase que serve de epígrafe a este breve texto confessional, é porque uma pessoa homônima povoava alguns pensamentos justificadamente paranóicos enquanto eu via o filme, mas, por precaução devedora em relação à felicidade que me acostumo recentemente a assumir, abandonarei os mesmos, deixando que a homenagem intrafílmica fale melhor por mim do que eu próprio falaria: Juliana, devemos ser felizes, ainda que nem sempre possamos...

Wesley PC> 

EM OUTRAS PALAVRAS (CONTÍNUAS), O PERIGO!



É neste momento que eu começo a ensaiar os pedidos de desculpas?


Wesley PC>

NÃO CONSEGUI ENCONTRAR IMAGENS DO FILME EM PAUTA: OU, NALGUNS CASOS, O MELHOR ANTÍDOTO PARA A REALIDADE É A PRÓPRIA REALIDADE!


Antes de qualquer coisa, das citações recentes que me perseguem:  “os impulsos mais fundamentais do homem, gerados pela necessidade de auto-identificar-se e de situar-se no universo – impulsos que são a matriz da atividade criativa: a reflexão filosófica, a meditação mística, a invenção artística e a pesquisa científica básica – de uma forma ou outra forma foram subordinados ao processo de transformação do mundo físico requerido pela acumulação. Atrofiaram-se os vínculos da criatividade com a vida humana concebida como um fim em si mesma, e hipertrofiaram-se suas ligações com os instrumentos que utiliza o homem para transformar o mundo”.

Tal percepção genial da delicada situação econômica brasileira encontra-se na página 75 de “Criatividade e Dependência na Civilização Industrial”, livro que o economista paraibano Celso Furtado lançou em 1978 e o qual leio angustiadamente desde ontem. Não que o livro seja ruim ou irremediavelmente hermético, longe disso, mas condições estruturais precárias (uma reforma de marcenaria aqui em casa, a reinstalação da carência em meu coração aparentemente seguro, etc.) dificultam a leitura. E, a fim de relaxar um pouco, vi “Sexo, Sua Única Arma” (1981, de Geraldo Vietri) antes de dormir, na esperança que um interlocutor contemporâneo idealizado também o tivesse visto.

No filme, uma moça cega vivida por Selma Egrei chega à cidade rural onde vive uma família católica de ascendência italiana. O patriarca ama igualmente os seus descendentes, mas a sua esposa desgosta ostensivamente de sua nora viúva e do neto judeu. Na verdade, fingindo ser cega (só descobrimos isso a posteriori), a mulher seduz gradualmente cada membro masculino da família, incluindo um padre (de quem alega estar grávida) e dois rapazolas loiros e adolescentemente competitivos. Quase todos morrem ao final, como parte da consecução bem-sucedida de um plano de vingança da moçoila, que, ao som de uma trilha sonora que emula Ennio Morricone, confessa tudo a um vinicultor desnudado e embasbacado com o modo como sucumbiu à perfídia dela...

Dirigido por um especialista em telenovelas de época, a maior virtude tramática de “Sexo, Sua Única Arma” é justamente este aspecto folhetinesco, as situações de suspense e as revelações dramáticas impressionantes que se descortinam de uma seqüência para outra. O momento em que o rapaz judeu comemora o fato de seu pênis ser circuncidado e, portanto, parecer maior que o do seu primo, e o desfecho pasoliniano em sua tragicidade encheram-me de encanto. O filme é quase excelente e injustamente desconhecido, até mesmo pelos admiradores da Boca do Lixo, como eu. Faço questão de revê-lo em grupo, assim que possível, enquanto deixo como justificativa verdadeira para a publicação desta foto pessoal que tem muito a ver com o que sinto neste exato momento – inclusive ao relembrar o filme – no sentido de que, sim, as dificuldades de consumar a referida leitura estão me angustiando e exacerbando a minha carência erotógena. Mas tudo se resolverá até a celebração de meu aniversário, disso eu tenho certeza!

Wesley PC> 

PIADA INTERNA (ENVOLVENDO UMA MULHER QUE TODOS CONHECEMOS)

Consideremos a seguinte estrutura tramática: um homem comprometido apaixona-se por uma mulher que insiste que é livre. Atraído por ela, que se confessa também apaixonado por ele – não obstante deixar claro o seu desinteresse por filiações conjugais arquetípicas – ele abandona a sua noiva e vive com a mulher que ama em fuga, visto que desobedece algumas leis para estar ao lado dela. Entretanto, fuga é também privação e eles se vêem dificultados na tarefa de conseguir víveres. Ela resolve interceder e sai de casa para conseguir um empréstimo monetário com um homem musculoso sexualmente interessado nela. Ele, por sua vez, corroí-se de ciúme. Quando ela volta, eles brigam: ela insiste que carece da liberdade; ele, que só consegue conceber a liberdade ao lado dela. Um nove de espadas retirado num baralho escreve o seu destino: ela morrerá, quiçá através das mãos coléricas e apaixonadas dele...  

Não parece um clichê trágico? Talvez o seja, de fato. Basicamente, esta é a trama de “Carmen Jones” (1954), maravilhoso e audacioso filme de Otto Preminger que vi na noite de ontem e que me fez pensar numa amiga que insiste em defender as benesses do “amor livre” feminista, ao qual eu respondo com a cautela de que, mais cedo ou mais tarde, ele descamba no unilateralismo passional. Dito e feito: o que torna o filme premingeriano absolutamente subversivo é a composição de seu elenco completamente por negros. Além disso, é um musical moderno baseado numa famosa ópera de Georges Bizet. Como se não fosse suficiente, os protagonistas são a exuberante Dorothy Dandridge e o talentoso Harry Belafonte. Conclusão: o filme é ótimo, não obstante lançar um questionamento irrespondível na sua meia-hora final. E a pergunta que eu nos faço é: quem é viciado em liberdade tende a trair alguém nalgum momento, a fim de defendê-la? Não sou eu quem responderá...

Wesley PC> 

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

PARECIA UMA PREVISÃO (DE CLASSE)... E ERA!


Enquanto lia algumas considerações do economista paraibano Celso Furtado sobre a equiparação entre o processo de ascensão social e a subida na escala da diversificação do consumo, deparei-me com a frase: “é a discriminação entre consumidores que permite ao sistema de incentivos alcançar sua máxima eficácia”. Não apenas exultei diante da certeza contida nesta observação como, após direcioná-la, visa SMS, para alguns de meus melhores amigos /ou pretendentes namoratórios, deparei-me com um filme que punha isto em prática da forma mais estilosa possível: “A Herança dos Devassos” (1979, de Alfredo Sternheim).

Produzido num contexto em que a manutenção do erotismo era obrigatória – basta prestara então ao cartaz que emoldura esta postagem – o filme é deveras complexo em sua requintada e minuciosa investigação de classe: na trama, o patriarca de uma família riquíssima falece e deixa uma herança para ser dividida entre dois irmãos incestuosos e a viúva de um parente consangüíneo próximo. Os conchavos para obter a maior parte dos bens herdados mergulham os personagens numa trama que mistura meandros de trama policial a comentários sobre a sexualidade instintiva dos escravos (assim descrita num comentário classista deveras oportuno), permeados do que um dos personagens descreveu como filiação erudita ao século XIX ("com toques do século XVIII e ênfase na era vitoriana"). Apesar de ser vendido como mero filme erótico da Boca do Lixo, o clássico sternheiminiano vai além de suas propostas vendáveis e revela-se como uma obra de arte legítima e classicista da cinematografia brasileira. Não por acaso, desconhecido e subestimado.

Apesar de a cópia do filme a que tive acesso (através do Canal Brasil) estar com a sua qualidade sonora bastante prejudicada, as minúcias reconstitutiva dos ambientes da mansão onde transcorre a narrativa e a grandiloqüência malévola do plano destrinchado pelo mordomo da família rica na seqüência anterior ao final deixam claro o quanto este filme precisa ser revisto, até mesmo porque, no momento em que escrevo estas linhas, estou preocupado com uma pendência acadêmica que está confundindo os meus brios espectatoriais. Preciso ver mais filmes do Alfredo Sternheim, preciso ler mais o Celso Furtado!

Wesley PC>  

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

TALVEZ EU JÁ TENHA TOMADO UM BANHO DE SOL COMPLETAMENTE NU... MAS ISTO VEM AO CASO AGORA?


Após chegar esbaforido em casa, por causa de um telefonema de minha mãe, que explicava que meu irmão estava etilicamente enfurecido, descobri que o sétimo longa-metragem de Nelson Pereira dos Santos – “Fome de Amor” (1968) – seria exibido na TV. Não conhecia este filme, mas, ao suspeitar que ele possuía a mesma verve experimental do ótimo “El Justicero” (1967, comentado apaixonadamente aqui), inclusive contando com a participação do mesmo protagonista, o sensual Arduíno Colasanti, apressei-me em tentar conter os humores tensos de meus familiares mais próximos e me sentei diante da tela, com um prato de lasanha de queijo, um pedaço de chocottone e um copo de café nas mãos...

Pena que não deu para avisar ninguém acerca da urgência do filme, no sentido de que, de fato, ele era experimental, revolucionariamente esquerdista e interessantíssimo em sua divergência estilística acerca do realismo que comumente associamos ao ‘corpus’ de Nelson Pereira dos Santos. Pena que, ao contrário do filme imediatamente anterior, este mais recente não apresentava o mesmo senso de humor, de modo que a montagem absolutamente alinear, a narrativa complexa em suas imbricações multilíngües e interesses de classe superpostos e a direção sarcástica e culturalmente antropofágica pareciam muito mais elitistas em suas zombarias pós-cinemanovistas que essencialmente integradas à consideração do povo como motor da revolução. Ou seja, além de ser difícil de entender, é um filme presunçoso, rançoso até mesmo no seu quartel final, quando música e carnaval invadem a tela e convivem lado a lado com a necessidade de instalar um “Vietnã do Terceiro Mundo”. É um bom filme, não nego, mas falho em seus intentos, ouso aventar.

Enquanto anseio pela oportunidade de rever o filme – que, além de tudo, contra com uma bela e sensual presença de Leila Diniz, interagindo diante do subtítulo do filme: “Você Já Tomou um Banho de Sol Inteiramente Nua?” – confesso que estou preocupado com o modo como as tensões provisoriamente indignadas entre meu irmão e minha mãe serão conduzidas até o dia 07 de janeiro, quando, só então, ele voltará a trabalhar, mas, enquanto isso, deixo claro aqui o meu intento de distribuir muito amor e compreensão para ambos: eles precisam e, neste sentido o filme é certeiro. Afinal de contas, o amor é, de longe, o sentimento mais revolucionário: por isso, sempre tenho fome dele. Fome de amor é uma expressão que me define, por extensão...

Wesley PC> 

segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

“... E O QUE VOCÊ FEZ?”


Quando eu tinha por volta de 14 anos, assisti a um telefilme, na TV Bandeirantes, que me impressionou deveras: “Dahmer, o Canibal de Milwaukee” (1993, de Carl Crew). Não obstante ser um filme que, visto hoje, seria tachado como ruim, a sensualidade perversa da obra me excitou e me fez ter consciência de que eu era “diferente”.

Ostensivamente misantropo à época em que vi o filme, projetei-me na biografia do perturbado Jeffrey Dahmer (1960-1994), homossexual em crise perpetua consigo mesmo que, sem conseguir distinguir adequadamente o que sentia pelos homens que encontrava pelo caminho, os drogava, os matava e os dilacerava, cumulando cadáveres em sua casa, de modo que o mau-cheiro dos mesmos o fez ser descoberto, preso, condenado a centenas de anos na prisão e, após dois anos de cumprimento dos mesmos, foi morto por um companheiro de cela, aos 34 anos de idade. Não é este destino que eu quero para mim, aliás!

Hoje, às vésperas de completar 32 anos de idade, resolvi conferir um filme desconhecido que estava jogado em minha casa faz tempo: “Dahmer – Mente Assassina” (2002, de David Jacobson), sobre o mesmo personagem real. O DVD havia sido um presente de meu antigo chefe empregatício, que notou similaridades entre o protagonista do mesmo e minha personalidade recôndita. Achei engraçado que ele tivesse percebido isso (risos)...

Ao contrário do telefilme mais antigo, “Dahmer – Mente Assassina” é muito pudico e justificativo no que tange à reconstituição dos assassinatos perpetrados pelo jovem Jeffrey Dahmer. Aqui, ele surge como um funcionário de fábrica de chocolates que é bastante tímido na abordagem erótica dos rapazes por quem se interessa e, enquanto conversa com um rapazola negro e afetado por quem talvez tenha se interessado, relembra as primeiras vezes em que cometeu assassínios, ainda em sua tenra juventude. O problema é que o roteiro do filme, escrito pelo próprio diretor, não avança em nenhuma direção precisa, acumulando e misturando memórias apenas para “defender” Jeffrey como um rapaz atormentado pelo divórcio dos pais, pela vigilância de seu progenitor e pelos cuidados exagerados da avó com quem vive. Ao final, tudo é muito superficial, não convence, não nos leva a tomar partido, não chega a qualquer resultado prático: não me identifiquei tanto, felizmente!

A razão para o meu distanciamento insuspeito em relação ao personagem não tem a ver apenas com a má qualidade do filme: desta vez, estou muito mais cônscio de minhas limitações e perversões, de modo que nem mesmo as aflições típicas de festividades como o réveillon que se aproxima me parecem tão contundentes. Sinto-me, sinto-me feliz!

Enquanto me banhava, há pouco, tive um pensamento oculto que resolvi compartilhar como se estivesse apenas reverberando a minha consciência: em 2012, não beijei ninguém na boca! Não sei até que ponto sinto falta disso (já que costumo dizer que beijos na boca me incomodam), mas não me senti lamentoso por tal recorde negativo: não sei beijar só por beijar! Como não me apaixonei efetivamente por ninguém que tenha se disposto a oferecer seus lábios para o meu deleite mútuo, consolei-me sobremaneira com minhas masturbações e felações consentidas (algumas delas, a fórceps – risos). Não sou um homem insatisfeito no campo sexual, ao contrário do que minha estranha categorização virginal faça pensar – e, insisto: neste exato momento, sinto-me feliz (e amado)!

Wesley PC> 

PALAVRA-CHAVE: CONTINUAÇÃO (OU CONTINUIDADE, SE MELHOR PREFERIREM)

31 de dezembro de 2012: este é mais um daqueles momentos em que confessar pela enésima vez que "eu sou um fetichista" talvez não mude muita coisa em relação à apreensão do que vou escrever em seguida, mas, à guisa de retrospectiva íntima, preciso dizer que, se houver algo de diferente em relação ao conjunto dos 365 dias que hoje se encerra, tive um 2012 excelente, soberbo, e, principalmente divino (em mais de um sentido literal e/ou dialético)...

 Se, por um lado, coisas ruins obviamente sucederam, por outro, todas estas foram ressignificadas ou compensadas por outras deveras melhores: 

 - Percebi que uma das criaturas que se dispunham a andar sem reservas entre o meu círculo aberto de amigos era uma víbora detestável, uma criatura traiçoeira, egoísta e burra (na acepção mais autodestrutiva do termo, visto que não gosto de utilizar esta palavra, aqui infelizmente necessária), mas aproximei-me ainda mais de seres que já eram infinitamente encantadores para mim; 

 - Fui assaltado com violência e hipertrofiei as minhas cautelas urbanofóbicas, mas diverti-me bastante ao percebi que sobrevivi sem danos físicos, que meus óculos deixaram de ser obrigatórios e que não faltaram amigos dispostos a me ajudar no que eu precisasse (inclusive, policiais críticos que insistiram comigo, quando souberam que eu estudava Jornalismo: "fale mal da polícia, mas não dos policiais" - risos);

 - Ingressei tardiamente (porém, no tempo exato) num Mestrado, onde percebi-me envolvido em conflitos intelectuais intensos com meu orientador, mas a convivência com meus nove colegas apaixonados pelo que estudam e a disponibilidade temporal para o incremento de meu arcabouço temático (a Boca de Lixo paulistana na década de 1980) fizeram com que a minha vida teórica tivesse muito mais sentido prático no futuro que se anuncia...;

 - Desvencilhei-me de uma função ocupacional que já me servia como antonomásia (chamavam-me de "DAA" nas ruas e sou gravado assim nas listas telefônicas de vários amigos), mas continuo guardando excelentes lembranças e ensinamentos daquele local, sem contar que as amizades que lá erigi são para sempre, como bem demonstram os reencontros freqüentes e cheios de afeto; 

 - e, principalmente, percebi-me vítima de diversas lamúrias, mas encontrei no CECINE/UFS, agora ressuscitado em sua terceira geração, a vontade de estender a minha voluntária inserção durkheiminiana dentre os "Aparelhos Ideológicos de Estado" que Louis Althusser tão bem descreveu num contexto em que sentimentos e ações andam juntos com a necessidade de transformar e melhorar um contexto terrestre que, se não se extinguiu no dia propagandeado pela mídia [e no qual tive acesso ao filme cujo fotograma emoldura esta postagem: O FIM DO MUNDO (1916, de August Blom), devidamente comentado aqui], pode soçobrar a qualquer momento, de tão chafurdado por ideologias malévola transmitidas e assimiladas através dos meios de comunicação de massa. 

 Enfim, resistiremos: possuo amigos, colegas, familiares, vizinhos, cúmplices, irmãos, seres vivos que me legam a cada instante o dom de amar e ser amado em retorno. A todos estes (que são tão infinitos quanto é o amor do Deus em que insisto em acreditar), eu deixo o meu eterno OBRIGADO, a ser reproduzido nos dias que se seguirão: muito obrigado mesmo! E que venha 2013... E todos os anos seguintes a ele, com a certeza de que não estou só - ou melhor, não estamos sós! 

 O texto acima talvez seja claro e auto-suficiente em seu direcionamento coletivo de agradecimentos, por mais que um ou outro ponto exija maiores explicações. Transferirei as mesmas para o desfecho do citado filme mudo dinamarquês, em sua bela seqüência final, mostra homem e mulher desolados num mundo destruído simultaneamente por fogo e água. Um predicante religioso permite o reencontro de ambos e a perspectiva moral do roteiro deixa clara a intenção de depositar no casal o intento da recolonização do mundo, aqui associado à continuidade de seus valores afetuosos, bastante divergentes da cobiça que impera nos demais contextos personalísticos. Isso fala por mim agora: estou feliz, confiante e agradecido, ainda que chateado por uma traição que não consegui contornar. Mas o mal é menor diante do bem supremo: estou feliz, não estou sozinho e há um Deus! 

 Wesley PC>

domingo, 30 de dezembro de 2012

“AÍ FOI QUE O BARRACO DESABOU, NESSA QUE O MEU BARCO SE PERDEU...”!

Hoje eu passei a madrugada em claro: tanto porque eu estava contente (em estado de “êxtase” seria mais preciso), tanto porque eu estava a ver alguns filmes meia-boca mas divertidos porque entre amigos, tanto porque eu flutuava pensamentalmente... Dormi algumas horas, suei bastante e, ao voltar para casa, reassisti ao filme “Setembro” (1987, de Woody Allen) enquanto saciava a minha fome. No filme – emocionalmente devastador, mas, ainda assim, um dos menores do diretor – Mia Farrow, Dianne Wiest e Elaine Stritch são mulheres que experimentam emoções diferentes porém complementares: a última personagem, mãe da primeira, é uma atriz famosa e aposentada, que passa os dias a relembrar os amores lúbricos da juventude e, ao se olhar no espelho, pensa: “é horrível envelhecer quando, por dentro, se sente como se ainda tivesse 21 anos de idade... Ao olhar para isso, parece que me falta algo: é o futuro!”; a segunda gosta de música e se apaixona pelo interesse romântico da primeira, mas reluta em ceder às investidas dele para não machucar a frágil senhorita; e a primeira é uma mulher atormentada e absurdamente triste, que “se veste como uma refugiada polonesa” e se sente feia e desinteressante, apesar de não fazer jus a estes adjetivos depreciativos. Não gostei do filme como um todo, mas, no momento mostrado na foto, quando a primeira flagra a segunda beijando o homem que ambas amam, o estado de espírito de todos os personagens declina de vez: daí para o final, o filme é pura melancolia e desencanto!

 “Ontem demorei prá dormir 
Tava assim - sei lá! - meio passional por dentro... 
Se eu tivesse o dom de fugir prá qualquer lugar 
Ia feito um pé-de-vento
 Sem pensar no que aconteceu
Nada, nada é meu, nem o pensamento” 

 Este filme, pertencente à fase mais bergmaniana do diretor, não me empolgou pessoalmente (no sentido qualitativo do termo) porque é desalinhado no que tange à conjunção entre conteúdo enredístico absolutamente melancólico e quadratura formal. Mas me perturbou muito mesmo assim, por motivos deveras pessoais, inclusive. Fui adormecer mais um pouco imediatamente após a sessão, sonhei com alguns supostos amigos de infância que não me lembro de conhecer, e despertei com a execução altissonante da canção acima, numa festa improvisada na casa em frente à minha. Impressionante como esta letra – “Eu e Você Sempre”, popularizada através do grupo Exaltasamba, mas, aqui, cantada pelo Chiclete com Banana – tinha muitíssimo a ver com o que eu sentia antes de dormir. E fiquei preocupadíssimo com o anúncio vindouro contido em seu refrão: glupt!

 Wesley PC>