Estou me contorcendo para não adiantar as citações afetivas
e aflitivas do maravilhoso romance que consumo de ontem para hoje [“Lucíola”
(1862), de José de Alencar], mas assisti a um filme que traz em seu bojo um
sentimento deveras semelhante de identificação projetiva e feminina: “Os Amores
de uma Loira” (1965, de Milos Forman).
Depois de um início pré-‘punk’, em que uma rapariga com
corte de cabelo ousado cantarola uma música sobre amor e abandono, conhecemos,
em meio a outras garotas, a operária Andula (Hana Brejchová), a loira do
título, paquerada por três soldados mulherengos e infiéis. Enquanto suas duas
amigas cedem ao flerte interesseiro dos homens mais velhos, Andula se deixa
envolver pro Milda (Vladimír Pucholt, lindo!), um jovem pianista que a seduz
gradualmente, desnudando-se aos poucos enquanto finge que a está ensinando a se
defender dos abusos sexuais de outros homens...
Idilicamente, Milda faz com que Andula se sinta amada, a
ponto de se desfazer de anel que recebera de seu namorado, sumido há mais de um
mês. Milda, entretanto, precisa voltar para a capital Praga, onde repete
chistosamente que não tem nenhuma namorada. Andula acredita e, iludida, vai a
seu encontro, na casa de seus pais, que brigam por causa dela e por causa da inconseqüência
de seu filho... O desfecho do filme equivale àquilo que chamam de realidade,
mas, ainda assim, quem puniria Andula por se apaixonar?
Apesar de eu não estar apreciando muito o filme durante a
longa seqüência de flerte dos militares bem mais velhos, de repente, me vi
irremediavelmente envolvido pelo filme, cuja pletora afetiva já me fora
recomendada quando pintei o cabelo de loiro da primeira vez: não foi por acaso,
me vi naquele filme. Será que, se eu fosse mulher, a esta altura de minha vida
(não-)virginal, eu já teria engravidado? Deixarei a pergunta em aberto, por
falta de disposição especulativa disfuncional. “Eu sei que o amor é uma coisa
boa”, da mesma forma que sei que o adjetivo “bom” varia de pessoa para
pessoa... E eu sou um moralista!
Wesley PC>
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