O diálogo titular é proferido num ‘flashback’ sonoro de “O
Banho Turco” (1997), filme de estréia do diretor turco, mas radicado na Itália,
Ferzan Özpetek, especialista em temáticas homossexuais pequeno-burguesas, que
podem ser tão emocionalmente fascinantes [“Saturno em Oposição” (2007); “Um Dia
Perfeito” (2008)] quanto sociologicamente irritantes [“O Primeiro que Disse”
(2010)]. Oficialmente, este quarteto de filmes citado foi apenas o que vi do
diretor, mas, diante do que ele demonstra no seu filme inaugural, parece que,
nalgum momento realizará uma obra-prima pederasticamente setorial: “O Banho
Turco” é muito, muito bom! O motivo: ao contrário da maioria dos seus filmes,
em que um acontecimento privado contamina o que está ao redor, aqui os rumores
citadinos invadem o protagonista rico (vivido por um sensual Alessandro Gassman,
à direita na foto), de modo que, a cada passeio pela cidade de Istambul, os
sons, gritos, cores e lampejos de beleza turca contaminam-no, conduzindo-o até
mesmo às práticas homoeróticas que atestam de vez a crise de seu casamento...
Na trama, o protagonista Francesco herda uma casa de banhos descuidada
de uma tia recém-falecida. Ao ler um conjunto de cartas que estavam jogadas num
canto, Francesco afeiçoa-se ao local, além de se apaixonar por um dos
funcionários. Sua esposa Marta (Francesca d’Aloja, ótima) aos poucos também se
deixará contaminar pelos elementos citadinos turcos, principalmente depois que
uma inesperada tragédia encontra em Francesco uma vítima fatal da incompreensão.
E, se eu fiz questão de conservar o nome próprio feminino na frase que serve de
epígrafe a este breve texto confessional, é porque uma pessoa homônima povoava
alguns pensamentos justificadamente paranóicos enquanto eu via o filme, mas,
por precaução devedora em relação à felicidade que me acostumo recentemente a
assumir, abandonarei os mesmos, deixando que a homenagem intrafílmica fale
melhor por mim do que eu próprio falaria: Juliana, devemos ser felizes, ainda que
nem sempre possamos...
Wesley PC>
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