sábado, 5 de janeiro de 2013

SER MARGINAL, HOJE EM DIA, NÃO ESTÁ MAIS ATRELADO AO HEROÍSMO: À MARTIRIZAÇÃO, TALVEZ!


Enquanto via o inspirado “Barra Pesada” (1977, de Reginaldo Faria) na TV, incomodava-me ao pensar insistentemente que boa parte dos textos publicados neste ‘blog’ seria mal-vista se lida por pessoas que conversam comigo todos os dias mas, ainda assim, é como se não me conhecessem. Se, antigamente, estar atrelado à marginalidade assegurava um estatuto secundário de entendimento intelectual (a análise superficial do filme em pauta me fez pensar nisso), hoje, este suposto entendimento intelectual é um estatuto de marginalidade em si, sendo cada vez menos compreendido ou defendido por causa da situação depauperada dos órgãos midiáticos atuais. Tal como previra os sábios inventores de distopias literárias, é perigoso pensar!

Oficialmente, estou evitando entrar a fundo no assunto de propósito (uma “ameaça” recente ainda paira sobre minha cabeça), mas esforço-me para não incorrer numa espécie de autocensura, relacionada ao temor de ver minhas palavras utilizadas como armas contra mim. Se elas são minhas palavras, nada mais adequado que elas sejam minhas armas, pensava eu num instante posterior de idealização, mas... O mundo não é como eu penso, já me disseram isto mais de uma vez!

No filme, o protagonista, vivido por um jovem e bonito Stepan Nercessian, é um menino de rua mnemonicamente perseguido pelas imagens de sua mãe prostituta ateando fogo contra si mesma. Baseado num livro de Plínio Marcos, chamado “Quebradas da Vida”, este enredo foi filmado novamente em 2007, numa agradável versão de nome “Querô” (dirigido por Carlos Cortez). Porém, o original setentista é muito mais interessante em sua ambigüidade valorativa, em sua aparente supressão das crises de consciência que afligem os personagens quando precisam assassinar ou denunciar pessoas que, minutos antes, eram considerados seus amigos ou, na pior das hipóteses, companheiros de miséria. É um filme seco, sujo, mas pulsante em seus sopros de vida, muito bem ecoados na ótima trilha sonora instrumental de Edu Lobo.

Para falar a verdade, achei a segunda metade do filme – centrada na perseguição do protagonista por alguns traficantes de droga, irritados depois que ele mata um “aviãozinho”, no afã por conseguir uma arma – chata em relação à primeira, permeada por bichas loucas e relações sexuais convertidas em meros estratagemas para obtenção de benesses, como um simples sanduíche ou dinheiro para pagar uma divida de jogo. Querô repetia para si mesmo que se tivesse um revólver em suas mãos, estaria com a razão do seu lado. Eu discordava dele, mas torci por ele até o fim. Queria que ele se regenerasse, se apaixonasse (o que chegou a acontecer, inclusive), entendesse que os amigos são importantes, mas o mundo não é como eu quero, como eu percebo... Até mesmo filmes realistas e cheios de (sobre)vida como este que descrevo fazem questão de me provar isto. E ser marginal é importante – martirizante ou não, ainda é!

Wesley PC> 

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