Após chegar esbaforido em casa, por causa de um telefonema
de minha mãe, que explicava que meu irmão estava etilicamente enfurecido,
descobri que o sétimo longa-metragem de Nelson Pereira dos Santos – “Fome de
Amor” (1968) – seria exibido na TV. Não conhecia este filme, mas, ao suspeitar
que ele possuía a mesma verve experimental do ótimo “El Justicero” (1967,
comentado apaixonadamente aqui), inclusive contando com a participação do mesmo protagonista, o
sensual Arduíno Colasanti, apressei-me em tentar conter os humores tensos de
meus familiares mais próximos e me sentei diante da tela, com um prato de
lasanha de queijo, um pedaço de chocottone e um copo de café nas mãos...
Pena que não deu para avisar ninguém acerca da urgência do
filme, no sentido de que, de fato, ele era experimental, revolucionariamente
esquerdista e interessantíssimo em sua divergência estilística acerca do
realismo que comumente associamos ao ‘corpus’ de Nelson Pereira dos Santos. Pena
que, ao contrário do filme imediatamente anterior, este mais recente não
apresentava o mesmo senso de humor, de modo que a montagem absolutamente
alinear, a narrativa complexa em suas imbricações multilíngües e interesses de
classe superpostos e a direção sarcástica e culturalmente antropofágica
pareciam muito mais elitistas em suas zombarias pós-cinemanovistas que
essencialmente integradas à consideração do povo como motor da revolução. Ou
seja, além de ser difícil de entender, é um filme presunçoso, rançoso até mesmo
no seu quartel final, quando música e carnaval invadem a tela e convivem lado a
lado com a necessidade de instalar um “Vietnã do Terceiro Mundo”. É um bom
filme, não nego, mas falho em seus intentos, ouso aventar.
Enquanto anseio pela oportunidade de rever o filme – que,
além de tudo, contra com uma bela e sensual presença de Leila Diniz,
interagindo diante do subtítulo do filme: “Você Já Tomou um Banho de Sol Inteiramente
Nua?” – confesso que estou preocupado com o modo como as tensões provisoriamente
indignadas entre meu irmão e minha mãe serão conduzidas até o dia 07 de
janeiro, quando, só então, ele voltará a trabalhar, mas, enquanto isso, deixo
claro aqui o meu intento de distribuir muito amor e compreensão para ambos:
eles precisam e, neste sentido o filme é certeiro. Afinal de contas, o amor é,
de longe, o sentimento mais revolucionário: por isso, sempre tenho fome dele.
Fome de amor é uma expressão que me define, por extensão...
Wesley PC>
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