segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

"AMAR O PRÓXIMO COMO A SI MESMO"...


"Cagar, urinar, masturbar-se (possivelmente, inclusive, realizar o coito): a tradição tardia platônica e cristã, que afogou o corpo sob a vergonha, naturalmente só pode ver nisto um escândalo e foram necessários anos de secularização antes que se pudesse abordar o núcleo de significado filosófico destes gestos. A psicanálise tomou como seu este redescobrimento ao inventar uma linguagem em que se pode falar publicamente sobre 'fenômenos' genitais e anais. Precisamente, isto é o que [o filósofo cínico] Diógenes apresentou primeiramente, de uma maneira pantomímica. Se o sábio é um ser emancipado, então tem que desfazer em si mesmo as instâncias interiores da opressão. A vergonha é um fator primordial dos conformismos sociais, a posta em cena da transformação em que se traduzem desvios exteriores em desvios interiores. Com sua masturbação pública, comete um ato desavergonhado, com o qual opõe-se aos adestramentos políticos da virtude de todos os sistemas. Este desvergonhamento foi o ataque frontal a toda política familiar, a peça nuclear de qualquer conservadorismo. Dado que ele, [Diógenes], tal como diz vergonhosamente a tradição, canta a sua canção nupcial com as próprias mãos, não sucumbiu à necessidade de chegar ao matrimônio para satisfazer as suas necessidades sexuais. Diógenes, portanto, ensinou, de uma maneira prática, que a masturbação deve entendida como progresso cultural, não como regresso ao animal. Segundo o sábio, se deve deixar viver inclusive o animal, na medida em que este é a condição do homem" (Peter Sloterdijk - CRÍTICA DA RAZÃO CÍNICA - Segunda Parte, "Cinismo em seu Processo Cósmico", capítulo 1, alínea B).

Pois, afinal, eu amo aquele rapaz, mas devo ser realista: devo esperar, devo compartilhar, devo me conformar, não devo esperar... 

Wesley PC> 

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