terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

CARNAVAL ROZENBAUM OLIVEIRA DE CASTRO

Fazendo um retrospecto de minhas atividades carnavalescas deste ano, só não obtive êxito na audiência aos filmes do Frtiz Lang que pretendia. Afora isso, diverti-me bastante, assisti a diversos filmes pendentes, descobri novos discos, conversei bastante com minha mãe e, ao contrário de anos anteriores, ao invés de me obrigar ao confinamento, saí de casa vez por outra, a fim de conversar com os integrantes da família Menezes, de quem gosto muito. Porém, o evento pessoal e espectatorial mais marcante do Carnaval deste ano – para além da participação numa mini-maratona ozoniana, comentada aqui – foi o encontro com o ‘tour de force’ actancial de Priscilla Rozenbaum em “Carreiras” (2007, de Domingos Oliveira): saí da sessão absolutamente atordoado, precisando de uma sessão de pornografia masturbacional para voltar ao meu estado normal e conseguir dormir. Não foi apenas culpa do excesso de café que ingeri antes da sessão, ao contrário do que minha mãe insiste em alegar...

 Na trama do filme – praticamente um monólogo, tanto quanto o primeiro segmento que a diva Anna Magnani protagoniza em “O Amor” (1948, de Roberto Rossellini) – a protagonista, uma jornalista paranaense, neta de anarquistas, é substituído no programa dominical telejornalístico que comandava por uma apresentadora mais jovem, o que a faz se sentir injustiçada e repensar toda a dedicação intensiva à sua profissão ao longo de décadas, o que a fez se tornar solitária e afastada dos amigos e da família, salvo em situações festivas ou libações psicotrópicas. Depois de um prólogo, em que diretor e equipe conversavam sobre as diferenças e limites entre cinema e teatro, encontramos a protagonista em seu apartamento, telefonando feito uma desvairada para os seus superiores na emissora de TV, tentando reverter as decisões que a afastaram de seu cargo. Sentindo-se frustrada, ela começa a se embebedar e a consumir fileiras e mais fileiras de cocaína, não antes de comentar com um conhecido que “ninguém cheira mais [cocaína] desde a década de 1990”. Dessa forma, dois dos principais sentidos do título polissêmico do filme são desvendados: os entrecruzamentos demonstrativos de que “o poder é afrodisíaco”, conforme atesta o ex-marido da protagonista (vivido pelo próprio diretor, marido da atriz na vida real) quando resolve aparecer em seu apartamento para compartilhar cocaína; e o consumo cada vez mais intensivo desta droga à medida que a projeção avança. Num dado momento, a jornalista (Ana Laura é seu nome) desmaia no chão e, quando recupera a consciência, telefona para a família e, quando está prestes a viajar para o Paraná, depois de suspeitar que a mãe esteja com câncer de mama e que um de seus tios morreu, recebe um telefonema internacional, convidando-a para ser correspondente estrangeira num telejornal eleitoral, em razão de sua idade avançada corresponder a uma experiência profissional qualificativa. Só então descobrimos um terceiro sentido para o filme: a correria enlouquecida com que Ana Laura conduz a sua vida, passando por cima de seus próprios interesses e (des)afetos a fim de permanecer ativa na profissão que tanto ama. Ser jornalista é isto, afinal!

 Além de ser um fã compulsivo do diretor e de estudar Jornalismo, muitos outros pontos de contato íntimo com este filme fizeram com que ele ficasse poderosamente cravado em meu subconsciente: quantas e quantas vezes eu já não vi pessoalmente (e, confesso, me submeti também a) aquele tipo de lamúria embriagada acerca de uma solidão sentida muito mais pelas promessas proteladas que pela imposição das pressões externas sobre as necessidades e fraquezas individuais por sobrevivência no mercado de trabalho midiático. Quantas e quantas vezes! Fiquei tão positivamente impressionado com o filme que minha expressão absorta na imagem serve como atestado confessional de sua extrema qualidade e de seu efeito potente sobre mim. Parabéns ao Domingos Oliveira por cumprir rigorosamente os objetivos declarados na abertura de seu filme, em que, ao som de “What a Wonderful World”, na voz do Louis Armstrong, ele expõe as condições espontâneas de produção a partir de um esquema que ele abreviou como B.O.A.A. – Baixo Orçamento e Alto Astral. A pura verdade: apesar de ser bastante dramático, é exatamente assim que ficamos ao final do filme: ainda mais apaixonados pela vida do que antes de nos submetermos a esta vigorosa sessão de psicanálise extra-empregatícia!

 Wesley PC>

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