Não lembro as palavras exatas da citação de Conrado, ridículo
personagem de Malvino Salvador em “Qualquer Gato Vira-Lata” (2011, de Tomas
Portella & Daniela De Carlo), mas o sentido é exatamente este que consta no
título desta postagem. Absolutamente machista (no sentido mais conservador do
termo), este personagem é um suposto biólogo que tenta aplicar algumas de suas
observações zoológicas aos relacionamentos humanos. A desiludida e desagradável
Tati (Cléo Pires), estudante de Direito largada pelo namorado mulherengo (o
sensual Dudu Azevedo) oferece-se como cobaia para provar a tese do professor
universitário desengonçado e recém-divorciado. Nem preciso acrescentar que o
filme é previsível, sem graça, hipócrita e péssimo, mas não desprovido de um
interesse observacional inverso. Aliás, este é o principal mote de Conrado: “o
interesse dele é absolutamente proporcional à tua indiferença!”.
Vi o filme na manhã de hoje, por acaso, sendo exibido na TV.
Por mais que o nome de Juca de Oliveira como autor do argumento teatral que deu
origem ao roteiro tenha me agradado um pouco, o filme logo se demonstrou
insuportavelmente associado à malevolência de seu título. Mas fiquei imaginando
quais os argumentos utilizados por seus admiradores para defendê-lo. Afinal de
contas, por mais espantoso que pareça, pelo menos 445 pessoas favoritaram-no no
Filmow. Como pode? Em resposta a esta pergunta, sirvo-me de uma citação
providencial do filósofo alemão Peter Sloterdijk, constante na página 396 de
seu volumoso livro “Crítica da Razão Cínica”, publicado originalmente em 1983:
“A pornografia da burguesia tardia serve à sociedade capitalista
como exercício da estrutura não atual de vida esquizóide que se enganou em sua
própria época. Vende o original, o dado e o natural como objetivo distante,
como encanto sexual utópico. A beleza do corpo, que foi reconhecida no
platonismo como um indicador da alma até a mais alta e entusiasta experiência da
verdade, serve na pornografia moderna para a solidificação da falta de carinho
que, em nosso mundo, tem o poder de definir o que é realidade”.
Enviei esta citação providencial, último trecho do segmento “o
cinismo sexual” do livro, para diversos amigos na noite de ontem. Mal sabia eu
que viria tão a calhar diante deste filme: em comparação com os filmes com sexo
quase explícito da Boca do Lixo paulistana, as comédias românticas cariocas financiadas
pela Globo Filmes são pura pornografia capitalista. E olha que eu não pude
deixar de perceber que o Dudu Azevedo (inclusive seu personagem nojoso), ao menos fisicamente, é uma delícia...
Wesley PC>
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