Há poucos minutos, assisti ao décimo segundo episódio da
terceira temporada (31º na contagem geral) do seriado “The Walking Dead”,
chamado “Clear” e traduzido como “Liberado” na versão que adquiri. Acompanho
este seriado desde o maravilhoso primeiro episódio, dirigido por Frank
Darabont, e, ao contrário de outras séries – como “Lost”, “Homeland” e “True
Blood”, por exemplo, que são muito interessantes no início, mas se desgastaram
ao longo das temporadas (o que torço para que não aconteça com o excelente “Game
of Thrones”, cada vez mais fantasioso, no segundo mais preocupante do adjetivo)
– oferece-nos roteiros cada vez mais permeados por dilemas morais difíceis de
serem resolvidos.
Para quem não acompanha o ótimo “The Walking Dead”, este é
um seriado que acompanha as tentativas de um grupo de indivíduos para continuar
sobrevivendo num mundo empestado de zumbis ávidos por carne humana. Na primeira
temporada, os personagens se deslocavam através de espaços urbanos; na segunda,
eles ficaram confinados numa fazenda aparentemente confortável; e, na terceira,
adotaram uma penitenciária abandonada como refúgio, mas, aos poucos, os
sobreviventes precisarão lutar não apenas com os zumbis, mas principalmente com
outros sobreviventes, ainda mais beligerantes que os mortos-vivos. O pior de
todos: um déspota cognominado “O Governador” (interpretado por David
Morrissey).
Chefiados pelo xerife Rick Grimes (Andrew Lincoln), cada vez
mais paranóico e estafado à medida que os episódios se acavalam, estes
personagens lidam com conflitos eternos, dores atrozes, perda de entes
queridos, privações fisiológicas elementares e rivalidades inevitáveis. Na
terceira temporada, a esposa do protagonista faleceu, em decorrência de um
parto. A criança está viva e é bem-cuidada pelos demais seres humanos,
incluindo o seu irmão mais velho, Carl (Chandler Riggs), uma criança cada vez
mais forçada a pular a adolescência e ir direto para uma idade adulta
absolutamente fria e belicosa. No episódio que vi hoje, por exemplo, ele, seu
pai e a impressionante Michonne (Danai Gurira), uma excelente espadachim mal-humorada,
abandonam um transeunte humano que suplicava por uma carona na estrada. Na cena
final, vemos os restos sangüíneos do transeunte, e os três personagens
cinicamente dão a ré no carro para carregar o bornal abandonado do
recém-falecido. Eles se tornaram desumanos, portanto! A questão-mestra do
seriado: quem é capaz de julgá-los, diante de tudo o que estão enfrentando?
Apesar de eu apreciar bastante o seriado, a minha fidelidade
ao mesmo dá-se muito mais pela afeição de um colaborador espermático, que me
agradece com efusão sempre que eu lhe consigo antecipadamente o episódio que só
será exibido televisivamente no dia posterior, pelo canal fechado Fox. Na noite
de hoje, uma rival carente e merecedora de seu afeto (não posso negar) – à qual,
por necessidades paraficcionais, apelido de “a ribeiropolense” – o abraçava
enquanto víamos o episódio. Quem sou para julgá-la ou sentir inveja disso? Se
tudo der certo, amanhã estarei fazendo o mesmo, noutro contexto mais humilhante
mas seminalmente beneficiador. Viver é competir também: a arte é, ainda assim,
não desaprender a compartilhar. Mais do que tentar, todo início de semana eu
ponho isso em prática (ainda que, na maioria das vezes, de forma involuntária
e/ou passiva). Amar é sobreviver!
Wesley PC>
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