quarta-feira, 6 de março de 2013

“ÀS VEZES, QUANTO MAIS A GENTE ACHA QUE ESTÁ LIVRE, MAIS A GENTE ESTÁ PRESO!”

Por mais que a sinopse de “Dia de Preto” (2011, de Marcos Felipe, Marcial Renato & Daniel Mattos) pareça minimamente merecedora de entusiasmo por resgatar uma lenda brasileira sobre o primeiro negro alforriado do Brasil, em 1661, assim condecorado por ter conseguido resgatar para o seu dono uma vaca prenha, a primeira imagem do mesmo – entupida de efeitos especiais plagiados de “Matrix” (1999, de Andy & Lana Wachowski) e/ou congêneres – decepciona solenemente e prova que a aventura defendida pelos realizadores é tão descerebrada quanto esdruxulamente publicitária.

Baseado em “cinco verdades essenciais sobre a liberdade” adaptadas de ditados populares (vide quadro abaixo), o filme deixa claro que as influências anglofílicas mais execráveis e equivocadas (vide entrevista com umdos diretores) foram deglutidas da pior forma possível e emaranhadas numa mistura indigesta e deslumbrada que, em seu suposto anti-racismo, opera uma verdadeira negação do Brasil, para utilizar uma expressão levada a cabo pelo militante radial audiovisual Joel Zito Araujo. As vergonhosas declarações do diretor Marcos Felipe sobre o cinema brasileiro oitentista e a subsunção chula do filme aos piores clichês tecnológicos de ação num ‘shopping center’ justapõem-se na péssima apreciação do filme, com certeza, uma das piores produções hodiernas do Brasil, abaixo até mesmo – em matéria de ideologia e entreguismo capitalista – das mais pífias e seriais produções da Globo Filmes. Pior do que um engodo, um lixo vergonhoso e politicamente deletério!

Enquanto forçava-me para agüentar o horrendo filme até o final, imaginava a cara de desprezo que um sociólogo recém-formado emitia diante das hediondas cenas protagonizadas pelo inexpressivo Marcelo Batista. Como pode alguém ter gostado deste filme?! Nesta página, inclusive, podemos perceber alguns admiradores do mesmo (credo!)... Pelo menos, os diretores foram sinceros ao exibirem, nos créditos finais, as dezenas de filmes estadunidenses que os influenciaram – se bem que, de supetão, eu o achei muito mais parecido com as obras do Park Chan-Wook que com o referido “Matrix”. Reforçando que não existem coincidências, enquanto escrevo estas linhas, o cineasta militante Spike Lee ocupa-se com uma refilmagem do filme mais famoso deste sul-coreano vendido. Tristes tempos para quem se acha alforriado... Perto deste filme, "Django Livre" (2012, de Quentin Tarantino) é a Lei Áurea!

Wesley PC>

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