quinta-feira, 28 de março de 2013

“AZUCRINAÇÃO!!!”

Em cima da hora, recebi um telefonema de um vizinho aceitando o convite para me acompanhar ao teatro na noite de hoje. Mal desci da motocicleta e encontrei uma das pessoas mais sensíveis que conheço e, sentados os três nos bancos vermelhos do Teatro Atheneu, assistimos à peça goiana de marionetes e intervenções audiovisuais “Plural”, a cargo do grupo Nu Escuro, dirigida por Izabela Nascente.

A peça conta a estória de uma menina chamada Maria e sua saga quase arquetípica de sertaneja: nascida com um problema de saúde que fazia sua cabeça sangrar, ela vivia numa roça com sua mãe viúva, diversos irmãozinhos e uma avó bastante ranzinza, que não enxergava graça nos pedidos insistentes da menina para aprender a ler. Quando a mesma torna-se adolescente e menstrua, vai viver na cidade grande com sua mãe e um padrasto, sendo entregue a uma madrinha que a trata como empregada, depois doada como serviçal a um médico que desejava “desonrá-la” e, por fim, foge e se casa com um caminhoneiro, onde descobrirá a felicidade, conhecerá o Brasil inteiro e, aos 52 anos de idade, matricula-se num curso noturno de alfabetização e finalmente realiza o sonho de aprender a ler...

A peça, composta por três atores em cena e vários bonecos, é marcada por um ótimo senso de humor, por uma excelente trilha sonora (um hino interpretado por “bananas em chamas” e com “amor nas entranhas” que suplicam para serem desnudadas e devoradas é uma verdadeira obra-prima!) e por trechos dramáticos que, se fazem a peça perder um pouco de seu charme do meio para o final, chama a atenção pelo seu caráter biográfico, visto que, eventualmente, a voz emocionada da Maria real contava a sua estória em ‘off’. Além disso, em diversas seqüências da peça, projeções muito bem elaboradas apareciam no cenário, como as sombras de um causo sobre um fazendeiro que prometeu um de seus filhos e um boi ao diabo, a situação em que a avó obriga a sua neta a engolir uma penca inteira de bananas ou os sinais de trânsito que retratam o desamparo de Maria quando ela caminha desorientada e analfabeta pelo perímetro urbano de onde foge dos assédios de um empregador lascivo.

Amei a peça! Eu e meus companheiros de espetáculo ficamos tão emocionados que sorrimos bastante e, de minha parte, até agora sigo com a melodia de uma das canções repercutindo em minha mente: “a rodar/ a roda/ oooooooooooooooooh, iá!”. Amei, amei, amei! Quando eu estiver em Goiânia, viagem prevista para maio deste ano, farei questão de elogiar esta companhia teatral para os seus conterrâneos. Sem contar que, neste exato momento, sinto-me mais irmanado do que nunca ao amigo sensível que esteve ao meu lado, fungando e gracejando, sendo formoso e pleno de amor como ele sempre foi... Tiaguinho, muito obrigado por existir!

Wesley PC> 

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