Em cima da hora, recebi um telefonema de um vizinho
aceitando o convite para me acompanhar ao teatro na noite de hoje. Mal desci da
motocicleta e encontrei uma das pessoas mais sensíveis que conheço e, sentados
os três nos bancos vermelhos do Teatro Atheneu, assistimos à peça goiana de
marionetes e intervenções audiovisuais “Plural”, a cargo do grupo Nu Escuro, dirigida
por Izabela Nascente.
A peça conta a estória de uma menina chamada Maria e sua
saga quase arquetípica de sertaneja: nascida com um problema de saúde que fazia
sua cabeça sangrar, ela vivia numa roça com sua mãe viúva, diversos irmãozinhos
e uma avó bastante ranzinza, que não enxergava graça nos pedidos insistentes da
menina para aprender a ler. Quando a mesma torna-se adolescente e menstrua, vai
viver na cidade grande com sua mãe e um padrasto, sendo entregue a uma madrinha
que a trata como empregada, depois doada como serviçal a um médico que desejava
“desonrá-la” e, por fim, foge e se casa com um caminhoneiro, onde descobrirá a
felicidade, conhecerá o Brasil inteiro e, aos 52 anos de idade, matricula-se
num curso noturno de alfabetização e finalmente realiza o sonho de aprender a
ler...
A peça, composta por três atores em cena e vários bonecos, é
marcada por um ótimo senso de humor, por uma excelente trilha sonora (um hino interpretado
por “bananas em chamas” e com “amor nas entranhas” que suplicam para serem
desnudadas e devoradas é uma verdadeira obra-prima!) e por trechos dramáticos
que, se fazem a peça perder um pouco de seu charme do meio para o final, chama
a atenção pelo seu caráter biográfico, visto que, eventualmente, a voz
emocionada da Maria real contava a sua estória em ‘off’. Além disso, em diversas
seqüências da peça, projeções muito bem elaboradas apareciam no cenário, como
as sombras de um causo sobre um fazendeiro que prometeu um de seus filhos e um
boi ao diabo, a situação em que a avó obriga a sua neta a engolir uma penca
inteira de bananas ou os sinais de trânsito que retratam o desamparo de Maria quando
ela caminha desorientada e analfabeta pelo perímetro urbano de onde foge dos assédios
de um empregador lascivo.
Amei a peça! Eu e meus companheiros de espetáculo ficamos
tão emocionados que sorrimos bastante e, de minha parte, até agora sigo com a
melodia de uma das canções repercutindo em minha mente: “a rodar/ a roda/
oooooooooooooooooh, iá!”. Amei, amei, amei! Quando eu estiver em Goiânia,
viagem prevista para maio deste ano, farei questão de elogiar esta companhia
teatral para os seus conterrâneos. Sem contar que, neste exato momento,
sinto-me mais irmanado do que nunca ao amigo sensível que esteve ao meu lado,
fungando e gracejando, sendo formoso e pleno de amor como ele sempre foi...
Tiaguinho, muito obrigado por existir!
Wesley PC>
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