segunda-feira, 8 de abril de 2013

MAMÃE, EU QUERO CHANCHADEAR!


Na noite de ontem comecei a leitura de “Este Mundo é um Pandeiro”, livro capital do jornalista Sérgio Augusto sobre as chanchadas brasileiras, que, apesar do tema supostamente popularesco, apresenta uma linguagem bastante erudita e minuciosamente informativa no que diz respeito à elucidação do contexto histórico que permitiu a ascensão do subgênero fílmico brasileiro que, até então, é publicitariamente consagrado como aquele que mais conseguiu dialogar com o público.

Particularmente, minha relação com as chanchadas é delicada: apesar de eu amar algumas delas, no geral, temo concordar com as diatribes típicas da crítica, que destacavam negativamente os aspectos carnavalescos desengonçados das mesmas. Em outras palavras: não obstante conterem excelentes números musicais e elencos bastante homogêneos, as tramas da maioria das chanchadas não se sustentam, incomodam pela inconstância narrativa. Isso não me impede de admirara cada vez mais os talentos de Carlos Manga, José Carlos Burle e, principalmente, o genial Watson Macedo, de quem pretendo ver dois filmes na tarde de hoje.

Por conta da incisividade temática das chanchadas enquanto gérmen e meu tema de Mestrado (as ditas “pornochanchadas” da Boca do Lixo paulistana), preciso deter-me cada vez mais sobre eles e não apenas estudá-las, mas apreciá-las enquanto obras de arte. No sábado pela manhã, vi “Assim Era a Atlântida” (1975), documentário clássico de Carlos Manga, em que ele reunia trechos e participações célebres de alguns dos astros e melhores momentos da maior produtora de chanchadas do Brasil, a Atlântida, cujos filmes foram destruídos por conta de um incêndio e de uma enchente, na década de 1970. Felizmente, nem todos os filmes foram perdidos, mas, mesmo assim, o documentário apresenta um grave problema em sua primeira metade: ao invés de analisar as glórias e títulos do período, ele detém-se demoradamente numa remontagem de cenas de “Carnaval no Fogo” (1949) e “Aviso aos Navegantes”, ambos clássicos de Watson Macedo.

A segunda metade de “Assim Era a Atlântida”, por sua vez, cumpre muitíssimo bem os seus propósitos nostálgicos e, a partir de rememorações mui pessoais de atores como Cyll Farney, Eliana Macedo, Adelaide Chiozzo, Norma Bengell, Fada Santoro e Grande Otelo, emocionamo-nos, junto a eles, diante de uma coleção de seqüências inesquecíveis de clássicos renegados do nosso cinema. Os elogios ao imortal Oscarito são demorados e assaz justificados – e, se tudo der certo, hoje mesmo eu estarei corroborando estes panegíricos: Oscar Lorenzo Jacinto de La Imaculada Concepción Teresa Diaz (1906-1970) é absolutamente hilário em qualquer aparição em cena! Ainda que nem, sempre estas aparições se sustentem tramaticamente...

Wesley PC>

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