segunda-feira, 8 de abril de 2013

UMA TRAGÉDIA QUE FEZ JUS AO NOME (NO PIOR SENTIDO DA PIADA!):

Antes de sentarmos no Teatro Atheneu para assistirmos à peça “A Tragédia da Rosa”, apresenta pela companhia lagartense Cobras e Lagartos, uma amiga percebeu um indício ‘pop’ que indicava um mau augúrio: a canção “Diamonds”, da cantora Rihanna, era executada repetidas vezes num alto-falante. Minha amiga interpretou como um péssimo sinal qualitativo, enquanto eu rememorava as duas montagens teatrais anteriores do grupo que já havia tido a oportunidade de conferir: a interessante e divertida “A Peleja de Valentim Contra a Morte pelo Amor de Manoela” e outra dramática, sobre a ditadura militar, pretensiosa e mal-sucedida, cujo título eu lamentavelmente não me recordo. Pelo menos duas pessoas da companhia eram conhecidas: um dos atores principais trabalhara comigo no final do século XX e outro deles era uma espécie de parceiro sexual de uma amiga também presente ao espetáculo e previamente envergonhada por ele: apesar da bela decoração do palco, empanturrada de rosas (apenas uma delas cor-de-rosa), desde o início percebemos que ela seria ruim – e, ainda assim, foi pior do que imaginávamos!

Adaptada a partir de um texto de Ivilmar Gonçalves, poeta e ator lagartense falecido no ano passado, por conta de um acidente motociclístico, aos 29 anos de idade, a peça situava-se desnecessariamente num contexto de colonização espanhola. Assim que subiram as cortinas, deparamo-nos com dois tocadores de violão executando “As Rosas Não Falam”, do mestre Cartola. Uma senhora sentava numa cadeira e, ao final da canção, levantou-se, lamentou a passagem do tempo, foi interpelada por um médico e, a partir daí, a nossa atenção foi transferida para a proprietária de um bar e um garçom que arrumava freneticamente as mesas. De repente, vários foliões carnavalescos embriagados entram em cena. Anunciam o título da peça (gostei particularmente de um personagem que ficara dançando sozinho e desengonçadamente diante dos outros) e acompanhamos o surgimento da protagonista, vestida como dançarina de flamenco. Ela era uma péssima dançarina, entretanto, sem demonstrar o mínimo resquício de paixão pelo que fazia. Seu péssimo arremedo de dança demora demais e, em seguida, sabemos que ela será a causa do rompimento da amizade de dois homens, sendo que um deles esfaqueia o outro e depois se suicida. A dançarina seria, portanto, a encarnação juvenil da senhora idosa do início, internada como louca...

Acharam o roteiro precipitado e mal-construído? Atuado, ele é ainda pior! Por mais desenxabidos que estivessem os atores (um deles muito inferior ao outro em sua afetação enrouquecida de amante alternativo, fantasiado como um pirata anacrônico), a atriz principal era muitíssimo mais incompetente (ao menos nesta peça), desagradando-nos francamente em todas as suas elocuções, que conduzia-nos inevitavelmente a um vergonhoso riso involuntário. À medida que a peça avançada, ela piorava tanto que deixamos de tentar levá-la a sério: ruim do começo ao fim, nem mesmo a sua curtíssima duração (meia-hora, se muito!) a salva do fracasso, visto que a tornou assemelhada muito mais a um esquete sem ensaio que a uma encenação dramática propriamente dita. Infelizmente, muito ruim. Melhor sorte para a companhia (pela qual nutro grande simpatia) na escolha do próximo espetáculo!

Wesley PC> 

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