Antes de sentarmos no Teatro Atheneu para assistirmos à peça
“A Tragédia da Rosa”, apresenta pela companhia lagartense Cobras e Lagartos, uma
amiga percebeu um indício ‘pop’ que indicava um mau augúrio: a canção “Diamonds”,
da cantora Rihanna, era executada repetidas vezes num alto-falante. Minha amiga
interpretou como um péssimo sinal qualitativo, enquanto eu rememorava as duas
montagens teatrais anteriores do grupo que já havia tido a oportunidade de
conferir: a interessante e divertida “A Peleja de Valentim Contra a Morte pelo
Amor de Manoela” e outra dramática, sobre a ditadura militar, pretensiosa e
mal-sucedida, cujo título eu lamentavelmente não me recordo. Pelo menos duas
pessoas da companhia eram conhecidas: um dos atores principais trabalhara comigo
no final do século XX e outro deles era uma espécie de parceiro sexual de uma
amiga também presente ao espetáculo e previamente envergonhada por ele: apesar
da bela decoração do palco, empanturrada de rosas (apenas uma delas
cor-de-rosa), desde o início percebemos que ela seria ruim – e, ainda assim,
foi pior do que imaginávamos!
Adaptada a partir de um texto de Ivilmar Gonçalves, poeta e ator
lagartense falecido no ano passado, por conta de um acidente motociclístico, aos
29 anos de idade, a peça situava-se desnecessariamente num contexto de
colonização espanhola. Assim que subiram as cortinas, deparamo-nos com dois
tocadores de violão executando “As Rosas Não Falam”, do mestre Cartola. Uma
senhora sentava numa cadeira e, ao final da canção, levantou-se, lamentou a
passagem do tempo, foi interpelada por um médico e, a partir daí, a nossa
atenção foi transferida para a proprietária de um bar e um garçom que arrumava
freneticamente as mesas. De repente, vários foliões carnavalescos embriagados
entram em cena. Anunciam o título da peça (gostei particularmente de um
personagem que ficara dançando sozinho e desengonçadamente diante dos outros) e
acompanhamos o surgimento da protagonista, vestida como dançarina de flamenco. Ela
era uma péssima dançarina, entretanto, sem demonstrar o mínimo resquício de
paixão pelo que fazia. Seu péssimo arremedo de dança demora demais e, em
seguida, sabemos que ela será a causa do rompimento da amizade de dois homens,
sendo que um deles esfaqueia o outro e depois se suicida. A dançarina seria, portanto,
a encarnação juvenil da senhora idosa do início, internada como louca...
Acharam o roteiro precipitado e mal-construído? Atuado, ele
é ainda pior! Por mais desenxabidos que estivessem os atores (um deles muito
inferior ao outro em sua afetação enrouquecida de amante alternativo,
fantasiado como um pirata anacrônico), a atriz principal era muitíssimo mais
incompetente (ao menos nesta peça), desagradando-nos francamente em todas as
suas elocuções, que conduzia-nos inevitavelmente a um vergonhoso riso
involuntário. À medida que a peça avançada, ela piorava tanto que deixamos de
tentar levá-la a sério: ruim do começo ao fim, nem mesmo a sua curtíssima
duração (meia-hora, se muito!) a salva do fracasso, visto que a tornou assemelhada
muito mais a um esquete sem ensaio que a uma encenação dramática propriamente
dita. Infelizmente, muito ruim. Melhor sorte para a companhia (pela qual nutro grande simpatia) na escolha do
próximo espetáculo!
Wesley PC>
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