domingo, 12 de maio de 2013

DE REPENTE, ERA 15 DE MARÇO...

Apesar de eventualmente parecer o contrário, gosto muito do estilo dos filmes-painel da Agnès Jaoui: tanto “O Gosto dos Outros” (2000) como “Questão de Imagem” (2004) me impressionaram positivamente pelo modo como ela amalgama os destinos de vários personagens, evitando porém os arroubos de paroxismo emotivo freqüentes (o que não é um problema) neste tipo de subgênero cinematográfico.

Em “Além do Arco-Íris” (2013), há um ponto culminante, em que não apenas todos os personagens se encontram como suas vidas mudam radicalmente a partir deste instante, no caso, a overdose da personagem Laura, interpretada pela belíssima Agathe Bonitzer, que se obceca por um homem de olhar duro e aparência lupina, a fim de realçar o aspecto de conto de fadas do enredo. Além de vestir-se de vermelho e ser vigiada por um lobo, Laura possui uma mãe que, apesar de ter 64 anos de idade, aparenta ser muito mais jovem e lhe oferece uma maça numa cena-chave. Além disso, quando ela conhece “o homem de seus sonhos” numa festa, ele precisa sair de lá exatamente à meia-noite, para buscar a sua mãe na saída do trabalho, deixando cair o sapato enquanto descia uma escada às pressas. Tem como reclamar que, ao final, um letreiro informando que alguns personagens “foram felizes para sempre” surge na tela? Pena que esta felicidade eterna não atinja a equivocada e linda, linda Laura...

Além do drama romântico que cerca Laura, o filme possui outros personagens interessantes, como um homem rabugento e descrente (comportamentalmente, muito parecido com um grande amigo meu) que fica impressionado quando sua ex-esposa lembra que uma vidente previu que ele faleceria no dia 14 de março daquele ano, e uma atriz (vivida pela própria diretora) que, também divorciada, não sabe como lidar com o fanatismo religioso de sua filha pequena, constantemente afligida por uma coceira.

Apesar de um ou outro atropelo roteirístico, gostei muito do filme e de suas estripulias narrativas e formais (os efeitos pictóricos impressionistas depositados sobre as imagens que antecedem algumas mudanças de plano, por exemplo). Depois dele, posso afirmar com mais segurança que sou uma espécie de admirador sutil do talento de Agnès Jaoui, outrora roteirista de filmes do Alain Resnais. As interações benfazejas que travei com os amigos que estiveram comigo após a sessão justificam esta admiração: ela merece, ela enternece!

Wesley PC> 

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