Apesar de eventualmente parecer o contrário, gosto muito do estilo
dos filmes-painel da Agnès Jaoui: tanto “O Gosto dos Outros” (2000) como “Questão
de Imagem” (2004) me impressionaram positivamente pelo modo como ela amalgama
os destinos de vários personagens, evitando porém os arroubos de paroxismo
emotivo freqüentes (o que não é um problema) neste tipo de subgênero cinematográfico.
Em “Além do Arco-Íris” (2013), há um ponto culminante, em
que não apenas todos os personagens se encontram como suas vidas mudam
radicalmente a partir deste instante, no caso, a overdose da personagem Laura,
interpretada pela belíssima Agathe Bonitzer, que se obceca por um homem de
olhar duro e aparência lupina, a fim de realçar o aspecto de conto de fadas do
enredo. Além de vestir-se de vermelho e ser vigiada por um lobo, Laura possui
uma mãe que, apesar de ter 64 anos de idade, aparenta ser muito mais jovem e
lhe oferece uma maça numa cena-chave. Além disso, quando ela conhece “o homem
de seus sonhos” numa festa, ele precisa sair de lá exatamente à meia-noite,
para buscar a sua mãe na saída do trabalho, deixando cair o sapato enquanto
descia uma escada às pressas. Tem como reclamar que, ao final, um letreiro
informando que alguns personagens “foram felizes para sempre” surge na tela?
Pena que esta felicidade eterna não atinja a equivocada e linda, linda Laura...
Além do drama romântico que cerca Laura, o filme possui outros
personagens interessantes, como um homem rabugento e descrente (comportamentalmente,
muito parecido com um grande amigo meu) que fica impressionado quando sua
ex-esposa lembra que uma vidente previu que ele faleceria no dia 14 de março
daquele ano, e uma atriz (vivida pela própria diretora) que, também divorciada,
não sabe como lidar com o fanatismo religioso de sua filha pequena,
constantemente afligida por uma coceira.
Apesar de um ou outro atropelo roteirístico, gostei muito do
filme e de suas estripulias narrativas e formais (os efeitos pictóricos impressionistas
depositados sobre as imagens que antecedem algumas mudanças de plano, por
exemplo). Depois dele, posso afirmar com mais segurança que sou uma espécie de
admirador sutil do talento de Agnès Jaoui, outrora roteirista de filmes do
Alain Resnais. As interações benfazejas que travei com os amigos que estiveram
comigo após a sessão justificam esta admiração: ela merece, ela enternece!
Wesley PC>
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